Amar você é doce


Amar você é doce, como eu jamais achei que poderia ser. Pra mim, o amor sempre teve um gosto amargo de dor e tristeza. Se me perguntasse há um ano o que é o amor, eu provavelmente lhe mostraria todas as minhas cicatrizes que carrego no peito. O lado bom é que poemas maravilhosos surgem do sofrimento. Se me perguntar hoje o que é o amor, eu certamente lhe mostrarei meus sorrisos mais sinceros e os meus olhares mais brilhantes. 

Amar você é doce, é chocolate, é brigadeiro. É fazer uma receita de bolo em conjunto, típica cena de um filme de comédia romântica, experimentando o ponto do chocolate na boca. É comer bolos e tortas e querer fazer receitas de comida que eu jamais imaginei querer fazer. Eu? Cozinhando? Querendo/tentando cozinhar? 

Regina

      


      A vida não faz nada por acaso, disso eu já sei há tempos. E não foi por um acaso que eu cruzei com uma moça linda na volta do mercadinho, às dez horas da manhã. Moça essa que eu observei que chegava tão tarde, que eu quase não via, e que a ansiedade adolescente me fazia ficar nervosa esperando uma oportunidade para conversar. Quando eu ia imaginar que tal moça era tão engraçada, e tão completamente maravilhosa? E em apenas uma madrugada chuvosa, em uma conversa de uma hora, eu já descobrisse que tal moça é uma mulher tão fascinante? Nem nos meus sonhos mais loucos eu conseguiria imaginar me tornar amiga de tal mulher, ser parte do seu dia, saber da sua história. Quando a conheci, mexeu com meus instintos tão secretos e a timidez de garota me fez criar uma vergonha gigantesca. Seu jeito, sua risada gostosa, sua beleza estonteante, e claro, seu corpo escultural. Como conseguir conter minha mente tão fértil de escritora? Como controlar todos os desejos que se afloraram? E eles foram muitos, se analisa tanto as pessoas como diz, você já deve ter percebido. Pode rir, moça, fico mesmo vermelha e com vergonha de lhe dizer as coisas. Apesar...

Poesia - Cupcake


Se eu pudesse escolher, seria um cupcake,
Para em teus doces lábios tocar, 
E em um gemido de puro prazer, 
Sentir sua língua macia a me acariciar,

Ou talvez quem sabe um brigadeiro,
Para em teus dedos me derreter,
E querer me comer aos pouquinhos
Para aproveitar cada segundo.

Mas apesar de em sua boca eu querer estar,
De querer seu toque quente e macio,
Eu escolheria continuar assim,
Exatamente como estou,

Demorando-me em seu lindo sorriso,
Decorando cada detalhe do seu rosto,
E capturando, enfim, sua atenção,
Podendo em seus olhos me enamorar.

Linhas


Domingo, mais de sete horas da noite, o metrô está quase vazio. Até mesmo aquela linha vermelha, quase vermelha de sangue se for lá pelas cinco e meia da tarde, está meio solitária. Acesso à linha azul, ainda faltam diversas estações até aquela em que preciso descer. Entrei no vagão e sentei-me em um baco azul. Na primeira oportunidade me mudo para perto da outra porta, banco marrom, dessa forma não preciso me levantar caso entre um idoso ou deficiente. Ouvindo minha música, cansada, observando as poucas pessoas que estão no vagão, entra um casal e senta perto. Ela, com um bebê no colo. Ele, com a bolsa da criança no ombro. Perto da porta um senhor já de idade, com uma bengala. As estações passam, e então o senhor se levanta. Escuta o trem parar, e então ele pergunta:

Poesia - Ímpar


Sua aura irradiava felicidade por onde passava,
Trazendo alegria para o rosto das pessoas, 
Iluminando e transformando caminhos,
Ela era um raio de sol em nublados dias, 

Um dia houve escuridão em seus olhos,
Dores e mágoas que consumiam sua alma, 
Sem conseguir perdoar a si mesma pelo ato, 
Culpava o destino por tê-la deixado entrar.

A Tempestade


Quando as nuvens negras se aglomeram no céu cinza, e o vento uiva no norte, é sinal de que uma tempestade está por vir. Não há abrigo para me esconder, e eu tento acelerar o passo, mas um problema de nascença me impede de correr. Olho para trás e vejo o quão longa e escura essa estrada tem parecido para mim. Avancei um bom tanto, mas estou longe do meu destino final. Em uma pequena vila, corro batendo de porta em porta, pedindo para que me deixem entrar, nem que apenas de passagem, só para me manter segura quando a chuva passar, mas não ganho moradia. Em alguns deram-me migalhas de pão para não passar fome e um copo d'água para passar a sede, mas meu corpo pede por mais, minha alma anseia por mais. Eles não podem me dar mais, desculpe, eles não têm nem para eles mesmos... Tudo bem, eu agradeço, mas por dentro não consigo evitar o sentimento de mágoa e rejeição. Alguns anos atrás nesta mesma vila eu havia conseguido um abrigo que parecia seguro e confortável, mas na verdade ele escondia muito mais perigos que eu sequer poderia imaginar. Hoje foi derrubado e transformado em um belo casebre.

Tenha calma...


Menina apressada que corre com a jarra de leite na mão, nunca lhe ensinaram que não se deve correr? No banquete da vida, de tanta ansiedade se esvazia, que acaba comendo cru o que era para ser ao ponto. De pulo em pulo, anseia em chegar ao seu destino, esquecendo-se dos avisos no caminho de pedras e areia. Tome cuidado, menina, quanto maior a velocidade, maior o ralo em seus joelhos. Tropeça nos próprios pés e sempre derruba aquilo que vinha carregando com tanto carinho e doçura. Irrita-se consigo mesma, aponta mil defeitos e se põe a chorar de raiva. De que adianta? Quer cortar caminhos e seguir atalhos que são mais longos e tortuosos do que a sua própria estrada. Sua mãe não lhe ensinou a não andar pela floresta? Se bem que talvez fosse bom. Desestressa, distraia, menina. Tira esse peso dos ombros que já não há mais necessidade. Desacelera. Você já sabe que tudo vai acontecer como tem que acontecer; tudo tem seu tempo, não tente apressar o que não pode. Respira, garota, seu mundo não vai acabar. Eu sei que você já esperou demais por tanta coisa... Tantas promessas vazias... Tantos "talvez"... Tantos "sei lá, pode ser..." Tantas reticências... E tudo o que você quer é um ponto final. Assim. Bem colocado. Com propriedade. Um ponto e vírgula, pode ser; uma exclamação! Ou várias!!!!! Você quer certeza. Decisão. Cansada de tanto ser uma opção. Mas não adianta querer correr, se vai apenas tropeçar. Dê seus passos com clareza, exatidão. Alguns bem pensados, outros apenas pela intuição, e você vai chegar lá, eu prometo. Então, tenha calma, menina, que o tempo sabe bem o que faz.

The saddest part...


Já faz alguns dias que a felicidade fez morada em meu coração. Finalmente alguns sonhos os quais eu tanto desejara estão para acontecer. Tudo aquilo que eu sempre quis acontecendo bem em frente aos meus olhos, ou quase. O riso chega de repente, e às vezes nem sei porque estou sorrindo. É só uma sensação boa. Sensação de liberdade, de finalmente estar onde eu sei que sempre deveria estar. Tudo ficará mais perto. Mas então, essa brisa de tristeza me envolve. Eu estou feliz, as coisas estão acontecendo, estão dando certo... Mas só pra mim. Estou dando esses passos sozinha, mas não me sinto sozinha. Ultimamente me sinto apenas feliz. Cheia de coragem para essa nova etapa da minha vida. Eu em sinto viva. Mas olho ao meu lado e você não está lá. Confidencia-me como a vida tem passado diante dos seus olhos, e como você está completamente perdida. Não sabe o que fazer, o que decidir... Tanto faz a vida, a morte... O nada. O vazio. Conformada com esse marasmo, e que apesar do desespero, a certeza de que isso não irá mudar. E eu tento... Eu tento tanto fazer com que você enxergue que pode mudar! Mas você tem que decidir... O trabalho é duro, é árduo. Pediu-me para ser tolerante, pediu-me para mudar... E diariamente eu tenho feito isso, apesar das crises e brigas. Não é fácil. Você deveria fazer sua parte. E isso não é uma crítica... Não é para fazer cara feia.

Ela era luz.


Ela era luz.
Esses dias me peguei pensando em que momento nossas vidas se cruzaram, e não soube precisar o instante exato, apenas que de um dia para o outro, ela fazia parte da minha vida. Tudo começou como simples conversa, uma simples companhia, dessas de jogar conversa fora. Era tão diferente de mim, mas ao mesmo tempo um pouco parecida. Seu jeito tímido e retraído parecia fazer com que ela se afastasse das pessoas, mas depois que você a conhecia, sua personalidade única e iluminada lhe cativava. Ela me cativou. Sua paixão pela escrita e pelos livros a deixa mais próxima de mim. Ela não fazia parte do meu círculo de amizades, mas então, um dia... Ela não só entrou na roda, como passou a ser uma das que puxam a canção e faz todos cantarem no ritmo. Ela é daquelas que nos envolvem e nos fazem se sentir acolhidos. Eu a conheci em uma dessas noites de sábado movimentadas, e jamais imaginei que pudesse ser alguém tão próxima a ela.

Poesia - Desculpas


Relendo poesias antigas minhas,
Percebi o quão cruel fui ao tentar atingir
Quem me causava tanta dor.
Machuquei-a de novo e de novo e de novo a cada poesia,

E ainda que em seus comentários
Demonstrasse serena indiferença,
Voltava a cada novo texto,
Viciada em minhas palavras-veneno.

Poesia - Desculpe-me Pelo Transtorno


Desculpe-me pelo transtorno,
Desculpe-me pela dor que lhe causei.
Todos os cortes abertos em sua pele morena.
Todas as lágrimas transbordando dos olhos-chocolate.

Sei que jamais voltará a se embevecer em minhas palavras
E agora sei que ao ouvir meu nome tua pele se arrepia,
Seus olhos se arregalam e você é tomada por pânico,
Implorando para que lhe salve dos monstros que lhe assombram.

Conto - A Última Viagem


N/A: Eu estava ouvindo a música "Losing your memory" de Ryan Star e me veio uma inspiração para escrever. Não sei se está bom, mas foi algo que me veio à cabeça, e que provavelmente vem do coração. Talvez meio triste, talvez sem um final definido, mas verdadeiro, que eu finalmente consegui transformar em palavras. Espero que leiam, gostem e deixem comentários. Boa leitura!

Conto – A Última Viagem
  
            Sempre que eu pegava aquele ônibus, enquanto ele saia da cidade e vagarosamente ganhava as estradas, eu ia ouvindo música nos fones de ouvido. Olhava pela janela, observando nada mais do que a estrada, o verde, a grama, as árvores e o céu azul claro, cheio de nuvens. Ouvia músicas que me colocavam para cima, deixavam-me de bom humor, pois era assim que eu me sentia. Minha alma cantava. Eu estava livre. Melhor ainda: eu estava voltando para casa. Irônico, não é? Era apenas uma viagem, mas eu me sentia em casa. No começo, eu mal podia pagar a passagem de ida e de volta, era tão difícil conseguir ir aos eventos, rever meus amigos... Mas com o tempo, aquelas viagens foram se tornando frequentes. Duas, três, quatro vezes ao ano. Depois, seis, sete, oito vezes. Eu ia a cada dois ou três meses, às vezes menos, sempre dando um jeito. Participava de encontros, ia a shows, encontrava meus amigos. Eu via mais os amigos de São Paulo do que os da minha própria cidade. Já não era mais novidade descobrir um hotel onde passar a noite, não havia mais mistérios nos metrôs e ônibus das rotas mais conhecidas. Era natural que depois de tantas idas e vindas, eu finalmente estava chegando para nunca mais partir.

            Quatro horas de viagem. Parece bastante tempo. Em sua maior parte, eu lia, sempre carregando um livro em uma bolsa ou mochila. Isso me distraia bastante. Dormia durante meia hora ou quarenta minutos. Mas sempre havia um tempo para pensar, e principalmente, fantasiar. Em todas essas viagens eu sempre me peguei pensando... Como seria ter você me esperando na rodoviária? Com uma plaquinha escrita o meu nome, ansiosamente tentando divisar o meu ônibus dos outros. E então eu apelava pelo acaso. E se você estivesse na fila da Starbucks quando eu fosse comprar o meu café? E se andando pela Livraria Cultura eu esbarrasse em alguém, e ao pedir desculpas, desse de cara com seus olhos cor de chocolate? Mas então, as fantasias se transformaram em paranoias. Andando pelas estações eu quase congelei ao ver uma garota de cabelos cacheados e castanhos, magra, de costas para mim. Uma ansiedade gigantesca me corroendo por dentro, até que ao se virar, suspirei em uma mistura de alívio e decepção: não era você. Isso aconteceu umas cinco vezes em um curto período de tempo. Estaria eu enlouquecendo? Não importava o quanto eu estivesse distraída, se acaso alguém minimamente parecida com você aparecesse em meu campo de visão, minha atenção se voltava instantaneamente para essa pessoa.
Te amo tanto que gostaria de lhe tirar de mim, arrancar à força. Não me leve a mal, é só que às vezes não consigo aguentar tamanho sentimento. Sufoca o peito, desasossega o coração, confunde a cabeça, e eu já não sei mais o que fazer. Sinto-me pesada, sabe? Até mesmo considero-me apegada demais. Isso não é saudável, principalmente quando não é na mesma intensidade. Então, gostaria de te desprender de mim, só um pouquinho, sabe? Poder respirar, olhar para o lado, esquecer-lhe por alguns minutos, poder me perder no mundo sem o pensamento lhe procurar. Mas passados dez minutos sem resposta tua, a ansiedade bate na porta cobrando atenção, e não sei fazer outra coisa a não ser te chamar. 

Chance...


O sol nunca foi tão quente e amarelo,
O vento nunca me pareceu tão gostoso
Balançando meus cabelos, como agora.
O céu nunca foi do mais puro azul-claro,
E o arco-íris nunca pareceu tão colorido.

Há tantas coisas a agradecer...
Tantas felicidades rodeando o meu ser,
Tantos sonhos se tornando realidade,
Que às vezes é tão difícil de acreditar. 

Além da janela


A tristeza acaricia e envolve seu corpo, e me agonia assistir de longe e não poder fazer nada. Olhas o mundo pela janela do seu quarto, e por detrás das grades sente-se conformada, engaiolada, solitária. De vez em sempre essa carência lhe aperta o peito, esfria o corpo, mata o sentimento. Você tenta ser otimista, dizendo que isso vai passar, mas sabendo que essa sensação já faz parte de quem você é. As lágrimas já secaram em suas bochechas rosadas e a pela raiva já nem é mais consumida. Apenas sente aquele mesmo torpor de sempre. Ah, minha pequena, como estás enganada! O mundo é muito maior do que a sua janela pode mostrar, e as grades, ainda que fortes e frias, podem ser sim derrubadas.

Fanfiction: Castle Walls - Parte 08


Parte 08

— Como assim você está namorando uma mulher? – foi a primeira coisa que Lanie disse quando contei sobre Addison. Comecei a rir, enquanto a observava andar de um lado para o outro dentro da sala do meu apartamento.

— Eu não a estou namorando, Lanie. Mas nós tivemos um... Caso.

— Caso? Foi coisa de uma noite? – ela perguntou, parando a minha frente.

— Mais para um fim de semana... – segurei a taça de vinho. — Da primeira vez. – tomei o resto do líquido e a legista quase se engasgou, fazendo-me rir novamente.

— Primeira? Então houve outras? – ela estava boquiaberta, e finalmente sentou-se no sofá.

— Sim... Lembra que eu fui passar minha semana de férias em LA? – assim que ela assentiu, um misto de surpresa e entendimento passou pelo seu rosto. — Pois então, nós ficamos de novo, aliás eu fiquei na casa dela. E então... Essa semana passada, ela veio pra NY para um congresso e... Ficou aqui.

— Meu Deus! – ela começou a rir. — E só agora você me conta isso? Eu deveria ser a primeira a saber!

— Eu ia contar, mas quando percebi já estava enrolada com a Addie... E, aliás, o primeiro, a saber, foi o Castle... – fiz uma careta e ela prontamente reagiu ao que eu disse.

— Castle?! – ela levou a mão ao peito se refazendo do susto. — E como ele reagiu?

Noite Triste


Noite Triste

A festa acabou, as luzes se apagaram, as máscaras caíram
No espelho reflexos distorcidos de felicidade 
Já não podem esconder a tristeza que reina aqui dentro
E eu já não tenho mais certeza do que sentir. 

Quando finalmente achei-me livre dos fantasmas teus,
Caí no abismo da tua lembrança, hoje quase finda,
Tentando segurá-la com meus dedos trêmulos, 
Para recriar as ilusões outrora tão dolorosas. 

A cada passo em falso me rasgo em ódio profundo,
Amargura de solidão infinita que me acometeu
Quando na linha do amor, ninguém me escolheu,
E comecei a duvidar da minha capacidade de amar.

Love me like you do


Música: Love me like you do (cover)
https://www.youtube.com/watch?v=ZAnbP4rMVZA


Nunca pude lhe encontrar, e talvez fosse por uma boa razão. No instante em que meus olhos te encontraram, naquele momento em que você me reconheceu, eu soube. Você também sentiu, e não me importava quantas mentiras dissesse para tentar esconder o fato de que tinha sentido, eu iria saber. Depois de tantos anos duas desconhecidas finalmente se vendo pela primeira vez. O riso nervoso escapou de meus lábios secos, enquanto meus olhos tentavam guardar todos os seus traços, para que eu sempre pudesse me lembrar deles. O abraço veio tímido, cheio de reservas, mas assim que o gelo inicial foi quebrado, a química logo se instalou. Em uma sinfonia de risos e sorrisos parecia que nos conhecíamos há séculos, o que não seria de todo mentira. A todo momento eu procurava as íris cor de chocolate, ainda que furtivamente, e esperava esbarrar em seus braços para sentir o calor do seu corpo. Se eu pudesse, gostaria que essa noite durasse para sempre; mas infelizmente, tudo chega ao seu fim. E levantando-se, você decretou o fim da noite. Não poderia deixar que fosse... Não assim, com mil perguntas rondando minha mente, com tanta coisa não dita entalada na garganta, com tanta esperança dentro do peito. E num misto de nervosismo e ansiedade, fiz o pedido indecente: fica. E ao responder que não teria como voltar pra casa, continuei: dorme na minha.

Muros e Pontes


Minhas mãos estão machucadas, meus pés estão machucados. E eu estou cansada. Demorei tanto tempo construindo pontes... Retirando tijolo a tijolo dos muros tão bem guardados da fortaleza. A cada tijolo eu pude olhar mais dentro, observar, entender. E a cada tijolo fora, mais luminosidade entrando. Isso é bom, eu pensei. Nos buracos em que eu abri resolvi colocar pontes, para que houvesse um caminho de ida e de volta de dentro da fortaleza, e não só apenas para a dona dela, mas para mim também. Fui convidada a entrar no castelo. E assim eu o fiz, dia a pós dia, às vezes para o almoço, outras para a hora do chá, outras para dormir... E em algumas, fiquei de guarda. Mas então, em um dia de tempestade intensa, a moradora se desesperou e começou a tapar os buracos que eu abrira. Eu estava do lado de fora. Ela me deixou para fora. Eu ouvia os gritos de angústia, e em desespero, comecei a esmurrar os muros do castelo. Esmurrei e esmurrei e esmurrei, até ouvir o som abençoado do cimento caindo. Eu entrei de novo. E no lugar do buraco, ao amanhecer, a luz entrou. E isso começou a incomodar a dona da casa. Fui expulsa.

Pontos de vista.


Você me disse que gostava dos meus cabelos vermelhos. 
Então eu os cortei.
Você disse que gostava daquela minha camiseta vermelha.
Então eu a rasguei.
Você disse que gostava daquele meu CD do Kid Abelha.
Então eu o quebrei.
Você disse que gostava daquele meu all-star velho.
Então eu os joguei fora.
Você disse que gostava do café que eu fazia.
Então eu parei de o tomar.
Você disse que gostava dos meus lábios rosados.
Então eu os arroxeei.
Você disse que gostava do meu corpo como ele era.
Então eu o cortei.
Você disse que me amava.
Então eu me odiei.
Você disse que ia embora.
Então eu fiquei.

Eu estou aqui!


Eu estou aqui. Repito. Eu estou aqui. Cadê você? Depois de tantos anos... Eu finalmente consegui chegar. Eu estou aqui! Eu estou aqui! eu grito. Mas você não pode me ouvir. Eu sussurro. Eu estou aqui... Mas você não pode me ouvir. Após tanto tempo... Como você estará? Será que mudou muito do que eu me lembro? Ainda que eu nunca tenha pousado meus olhos em seu corpo, ainda que minha mão nunca tenha tocado a sua, ainda que meus lábios nunca tenham sentido a quentura da sua bochecha ao se avermelhar, eu saberia exatamente lhe reconhecer. Depois de tanto tempo... Eu esperei por tanto tempo... Esperei e esperei... E na verdade, isso foi o que todo mundo me aconselhou a não fazer. Não esperar. Engraçado, não é? Pois dentro de mim uma esperança gigantesca crescia a cada ano. Ainda que eu nunca mais tenha trocado palavras com você, a cada viagem meus olhos lhe procuravam desesperadamente pela multidão. Mas... Eram poucos dias... Lugares diferentes... Mas hoje? Hoje eu estou aqui. Olho para essa cidade grande, toda cinza, cheia de prédios. Mas eu não estou admirando a cidade.

Menino do all-star verde


Ele era um menino sossegado, gostava de sombra e água fresca, e um bom caphuccino. Apesar do all-star azul, da paixão por Rita Lee e das camisetas pretas, não consigo imaginá-lo em um show de rock, pelo menos não um pesado. Era um pouco nerd, desses que gostam de livros e ficção científica, e que recentemente descobrira uma paixão secreta pela escrita. Se me perguntassem se eu imaginava que um dia faria amizade com um menino comum, eu diria que não. E então ele apareceu... Mas quem disse que ele era comum? Tão diferente quanto possível, preso em um corpo de um menino normal... Confesso que eu poderia arriscar chamá-lo de Doctor e dizer que sua casa era na verdade uma cabine azul. Se me pedissem pra escolher uma época para conhecê-lo, eu teria dito escola. Ele seria meu tipo perfeito de... Amigo. Desses doidos, sabe? Mas não um doido-doido, mas um doido-engraçado-semnoção. Se me perguntassem quem eu gostaria que ele fosse na minha vida? Eu diria meu irmão. Seria aquele que iria brigar comigo, implicar comigo, mas seria meu parceiro, sabe? Infelizmente a gente não pode escolher essas variações na vida, mas nada disso impede que ele seja tão importante em minha vida. Completamente engraçado e um pouco birrento às vezes, gostaria de saber mais sobre sua personalidade, suas escolhas, seus interesses...

(Não) Procura-se um amor


Todos nós buscamos um amor que seja instantâneo, rápido, e fácil. Esperamos encontrá-lo na próxima esquina, na fila da padaria, na danceteria ou na pessoa que passa ao nosso lado na rua. Quando isso não acontece, quando o acaso parece se recusar a lhe apresentar alguém, resolvemos tomar a frente e uma atitude, e então começamos uma infindável caçada. Preguiçosos demais para sairmos por aí vasculhando cada beco atrás do acessível, procuramos nas redes sociais pelo amor perfeito que está estampado nos jornais e perfis mundo afora. Pessoas aparentemente felizes, sem problemas, engraçadas e espetacularmente lindas pipocam pelos grupos e páginas, presenteando-nos com milhares de fotos e propagandas, muitas vezes enganosas, sobre suas vidas e costumes. Alguns, do outro lado do oceano, outros, na cidade vizinha, são potenciais relacionamentos se conseguirem sobreviver à distância. Ora, o que é esperar alguns meses para ver a pessoa amada, quando se tem tantos meios para sufocar a saudade que quase lhe mata?

Fanfic: Castle Walls - Parte 07


Parte 07

Em completo silêncio foi como voltamos para casa. Eu sabia que não deveria ter ido. De qualquer forma, mandei várias mensagens para Castle, mas ele não respondeu nenhuma. Eu não queria que ele tivesse ficado tão magoado, e ele não sabia metade do que tinha acontecido entre Addison e eu, mas para ter ficado tão chateado com apenas um sinal, o sentimento dele deveria ser grande. Isso me pegou de surpresa. Eu não fazia ideia de que ele se sentisse daquela forma por mim. Ao entrar no apartamento deixei minha bolsa em cima do balcão, peguei uma cerveja na geladeira e me joguei no sofá. Addison sentou-se ao meu lado, ainda sem dizer nada, e colocou a mão em minha perna. Seus olhos estavam tristes, e eu percebia que apesar de estar disposta a conversar, ela tinha medo do que aquela conversa significaria.

— Kate... – ela começou, parecendo procurar as palavras certas. — Você sabia que uma hora ele iria eventualmente descobrir...

— Talvez, mas não seria dessa forma. – tomei um gole da cerveja, oferecendo-lhe um pouco, mas ela recusou.

— Talvez? – levantou uma sobrancelha.

Me Escreva


Me escreva. Me ponha no papel. Me crie com sua caneta-tinteiro, para que você não possa me apagar. Me faça sair em linha reta, desfilando toda minha arrogância de sabe tudo, ou me desenhe em linhas tortas, demonstrando toda a confusão instalada em minha mente perturbada. Me manche, assim como eu manchei sua vida, me rabisque, me rascunhe, para que me jogue fora se não gostar do resultado. Me recite em belos poemas, rimando sua vida na minha, nem que por breve e singelos instantes efêmeros. Me grite em letras garrafais e maiúsculas quando me odiar, seja bruta, eu não me importo. Me chame de vadia, sublinhe o vaca diversas vezes e reescreva o puta por toda a folha de novo e de novo até acreditar que eu sou realmente filha dela. Me carimbe com suas lágrimas, deixe que eu escorra no papel, sem destino, sem começo nem fim, apenas no meio do caminho da sua felicidade. Me suja, me xingue, me maltrate. Faça comigo o que bem quiser. Me amasse, me embole, me rasgue. Mas eu só lhe imploro uma única coisa: me escreva. Me escreva! Me marque em sua pele, me faça existir, me faça ser imortal. Seja para o bem ou para o mal. Seja eu sua alegria ou sua dor. Seu riso ou seu pranto. Mas eu sou! Eu sou! Então me escreva, vamos! Me transforme em realidade, me tire da mente, me faça ser importante! Se importe! Me faça a diferença! Me escreva. Nem que nunca me mostre pra ninguém, nem que jamais se lembre de mim dentro da gaveta esquecida, mas por favor, me escreva. 

Fanfic - Castle Walls: Parte 06


Parte 06

O celular não parava de tocar, e depois de muito custo consegui pegá-lo de cima da mesa de cabeceira, ainda sem enxergar direito, e atender. “Beckett”, respondi, ainda com voz de sono, enquanto ouvia do outro lado Esposito me atualizando no caso. Logo naquela manhã o ex de Alice estava de malas prontas para sair da cidade, mas eles conseguiram o interceptar em casa antes que ele conseguisse fugir. Tinham-no segurado na delegacia, mas gostariam que eu fosse interrogá-lo. Como não era tão urgente, e ele já chamara pelo advogado dele, respondi que dentre uma hora eu estava lá. Quando consegui desligar o telefone, eu me virei de costas na cama e olhei a minha volta, nenhum sinal de Addison. Por um momento tudo pareceu um sonho, mas então comecei a ouvir barulhos distantes e de repente ela apareceu na porta do meu quarto, vestindo uma camisola salmão, com uma caneca na mão, cantarolando.

— Bom dia. – ela cumprimentou se aproximando da cama.

— Você sempre acorda de bom humor? – colocou o braço apoiado na cabeça, e sorri de volta. — Bom dia pra você também.
Layout por Maryana Sales - Tecnologia Blogger