Palavras


Nunca me faltaram palavras para descrever sentimentos. Sempre tão cheia deles que às vezes chegava a transbordar. Ultimamente ando numa secura de palavras digna do Saara. Tenho andado preocupada, sem entender direito o que acontece com meus dedos, que já não conseguem apertar as teclas certas e juntar as ideias para um bom texto. Eu sempre usei as palavras como armas para atingir as pessoas que estavam longe de mim. Sempre precisei delas para tocar as pessoas que estavam a quilômetros, para fazer o papel de um abraço apertado, de um ombro para chorar, de uma forma de alegrar. Eu sempre vivi pelas palavras e pelos textos que transbordavam meus sentimentos. Só então me dou conta de que a resposta está bem a minha frente. Abro os olhos e encontro os seus, tão perto, tão negros e pequenos, com uma leve linha curva. Essa é a diferença. Não preciso mais me amparar nas palavras, pois estou vivendo os momentos. Não preciso lhe dizer como sinto por um pedaço de papel ou uma tela fria quando simplesmente posso olhar em teus olhos, com o rosto bem pertinho do seu, segurando firmemente em sua mão, encarando seu sorriso que me transmite felicidade. Meu corpo fala por mim, minhas ações falam por mim. Mas não pense que essa escritora irá se calar, isso jamais acontecerá. Sou feita de palavras, e se não as libero, me sufoco. Finalmente fui agraciada com um pedido que fiz há anos, pelo qual implorei, briguei e exigi. Por muito tempo andei sozinha, lutei sozinha, tentei sozinha. Hoje ando acompanhada por alguém que tem os mesmos desejos, vontades e sonhos que eu. Meu peito explode em saudade todas as vezes em que precisamos nos despedir, e espera ansioso pelo dia em que nos veremos de novo. Com você, todos os meus dias são feitos de sol e calmaria. Não tenho medo da vida, muito pelo contrário, anseio por ela. Para vivê-la. Perdoe-me se não me expresso sempre através de palavras, mas tenha a certeza de que meus olhos e meus lábios sempre lhe mostrarão meus sentimentos mais sinceros e intensos por você. 

Escrita Criativa - Diálogo

Tema: o personagem se revela pelo diálogo


Diante dos portões da faculdade três amigos conversavam. Fred era o mais alto e o mais afetado, porém, o mais educado. Estava se segurando para não dizer boas verdades a João, que por ser o único hetero no grupo, muitas vezes tinha uma opinião preconceituosa em alguns assuntos.

— Cara, é o que eu to dizendo, não há necessidade de demonstrar tanto, saca? – João reafirmou seu ponto.

— E não há necessidade de demonstrar tanto sua heterossexualidade, mana. – Fred respondeu, cruzando os braços em frente ao peito. — Sabe que odeio quando você fica cheio desses preconceitos.

— Não é preconceito... – João suspirou, coçando a cabeça. – Só acho desnecessário.

— Queridas, chega desse papo chato? – interveio Paulo, colocando a mão na cintura afetadamente, só pra provocar. — Vocês vão colar lá na Augusta comigo e com o Gabi hoje? Parece que vai ter um show bapho de montação por lá.

— Sei não... Só se minha namorada for...

— Ah não bicha! – respondeu Fred, bufando e revirando os olhos. — Lá só dá bicha pão com ovo. É uó!

— Mas não vamos pelo povão, bee. Tô querendo ir por causa dos shows! Tem muito bate cabelo! – Paulo retrucou, tentando convencer o amigo.

— Nem vem, aquelas drags são um desastre! – levantou uma sobrancelha, em tom irônico. — São tão bem maquiadas que podiam ser contratadas pro circo.

— Como você é chato! – ele deu de ombros, virando-se para João, que prestava atenção no celular. — Vamos comigo, bee! Please!


— Boa sorte pra vocês. – Fred sorriu. — Vou indo. Cuidado para não serem roubadas... – riu maldoso acenando para eles, enquanto saía rebolando afetadamente, só para irritar João e seu preconceito. 

Escrita Criativa - Prazer extremo




Era a primeira vez em que meu corpo entrava em contato com seu. Sua pele ardia em brasa de encontro a minha. No escuro do quarto não podíamos ver, por isso nossos sentidos estavam mais apurados. Beijei seus lábios novamente, mordiscando seu lábio inferior, e uma vontade me veio à mente. Sem consultá-la, dei pequenas lambidas indo do queixo até o lábio cheio, e senti-a estremecer. Queria enlouquecê-la, mas ela era uma boa aluna e adorava mostrar que havia aprendido bem a lição. Sua língua lambeu do meio queixo até o meu lábio superior, e aquela sensação fez meu corpo se arrepiar inteiro. Minha respiração estava falha, meu coração palpitando no peito. Percebendo que eu adorara, ela fez novamente, mas dessa vez seus dedos se encostaram em meu sexo, constatando como me deixara molhada. “Quero sentir seu gosto, amor...” Ela sussurrou eu senti pulsar em sua mão, apertando-a entre minhas coxas. Não consegui lhe responder. Virou-me de costas, descendo o corpo lentamente pelo meu, os cabelos macios acariciando minha barriga. Encaixou-se entre minhas pernas, mordiscando minhas coxas, dando pequenos beijos, fazendo-me tremer de desejo. A ansiedade me corroia, e quando finalmente senti sua boca em meu sexo, comecei a gemer baixinho. Eu não possuía mais controle sobre meu corpo, que se contorcia nos lençóis, estremecendo a cada lambida. Quanto mais eu gemia, mais intenso se tornava, e eu já não mais pensava naquele momento. Senti meu corpo inteiro tremer, enquanto eu chegava ao ápice, segurando em seus cabelos e gemendo mais alto, sentindo o primeiro orgasmo. Quando meu corpo se aquietou, relaxado e suado, senti-a junto a mim, seus lábios selando os meus, com o meu gosto neles, enquanto seus dedos e sua mão se entrelaçavam na minha. 

Poesia - Beijo


Beijo

Tem gente que dá selinho,
Tem gente que dá beijinho,
Tem gente que dá carinho.

Tem gente que dá beijão,
Com direito à linguão,
No meio da multidão.

E tem a gente.

Que inventa beijo o tempo todo,
Se lambuza e se demora,
Ora beijando bem devagarinho,
Ora com pressa e urgência.
Beijos demorados,
Ou um simples encostar de lábios.

Que saudade do seu beijo! 

Escrita Criativa - Mariana

Tema: algo que seja indefensável, mas que seja justificável do ponto de vista do personagem.


Mariana


Seu corpo era meu. Deu-me por livre e espontânea vontade. Eu só demorei a desfrutar do seu presente. Sempre a admirei, sabia? Desde que éramos jovens. Seus olhos transmitiam tanta vida... Tanta curiosidade pelo mundo... Mariana era meu bem mais precioso. E por um tempo, eu fui o dela. Até que ela resolveu me trocar por um desses caras musculosos cheios de tatuagem. Implorei tanto para que ela voltasse para mim... Prometi-lhe viagens para conhecer o mundo ao meu lado, o que ela sempre quis, mas não... Preferiu ficar presa àquele sujeitinho nojento. Todas as noites apareci em sua porta, liguei, mandei mil mensagens... Até que ela me dissesse para sumir da vida dela. Eu! A pessoa mais importante! Sua metade, sua alma gêmea, sua felicidade! Ela me disse que era minha, para sempre. E minha eu a fiz, ouvindo seus gritos desesperados, pedindo-me para parar... Minha lâmina desenhando corações meio incertos na pele toda cortada e avermelhada. Feliz, Janaína? Realizada? Eu estava... Passando a língua em meus lábios sentindo o gosto adocicado do sangue do seu querido namorado. Seu corpo inerte, com o corpo todo cortado e espicaçado, assim como ele deixara o coração de Mariana. Se era do seu pau que ela gostava, pau eu lhe dei. Arrancado enquanto ainda vivo, capturado entre meus dentes, de presente eu lhe dei. Acredita que após tanto trabalho, ela ainda teve a audácia de me recusar? Desesperada, tentou fugir. Pobre Mariana, se tivesse me ouvido... Se tivesse me escolhido... Teria sobrevivido.

Escrita Criativa - Alguém Estranho

Eu estou participando de um curso de Escrita Criativa do Ninho de Escritores e semanalmente temos exercícios de escrita com algum tema, fora os desenvolvidos em aula. Estou com vontade de compartilhar algumas coisas do que escrevo, já que não tenho escrito muito por aqui, apesar de estar pensando sobre isso, mesmo que esses escritos não estejam completos e possam ser melhor desenvolvidos. O tema desse foi: Alguém estranho.

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De longe eu a observo, tomando um café, com seus cabelos em formato de cachos caindo por cima dos seus olhos castanhos amendoados. Ela sorri, dando de ombros, claramente à vontade com a figura feminina a sua frente. Por muito tempo eu tive vontade de ser aquela figura. De poder desfrutar do prazer imensurável de estar em sua companhia. Houve um tempo eu que eu faria de tudo para me enfiar embaixo do seu cobertor, dentro da sua pele, injetada em sua corrente sanguínea. O vermelho em seus lábios, que costumava marcar minha roupa, acabou manchando minhas mãos. Cega por seu amor, eu fiz tudo o que ela me pediu. Hoje ela engana mais uma vítima, mais uma garota vinda do interior sem ter o que comer. Sua mão escorrega pela perna da ruivinha, com segundas e terceiras intenções. Hoje eu a vejo por quem realmente é, mas já não a reconheço. Ainda que seu cheiro seja o mesmo que um dia exalou em meus poros, seu gosto amarga minha boca toda vez que toco em seu nome. Tomo o resto do meu chocolate quente e ao passar por ela, seus olhos se apertam enquanto ela vasculha sua mente em busca de alguma lembrança. Mas já não pode me reconhecer, pois não sou mais uma vítima em sua teia de mentiras. Um sorriso se abre em meu rosto, e finalmente, estou livre. 
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