The Winner Takes It All
Ela olhava algumas caixas de papelão, sentada no chão do quarto, sobre o tapete felpudo e branco. Aquelas caixas estavam guardadas desde que... Bem, desde que ela fora embora. Lilian nunca mais mexera nelas, até aquele momento. Estava olhando qual era o conteúdo, entre um gole e outro na taça de vinho tinto. No aparelho de som tocava um CD o qual a seleção era realmente de matar. Melodias tristes que somente a faziam se lembrar... Aliás, que diferença faria? Ela se lembrava até mesmo enquanto sonhava, inconscientemente. Pegou um porta retrato de dentro da caixa, onde viu ela e uma moça, sentadas no banco do parque. Jamais esqueceria aqueles olhos, aquele rosto, aquele toque, aquela voz... Estava tudo gravado em sua mente.
About the things we've gone through
Though it's hurting me
Now it's history
I've played all my cards
And that's what you've done too
Nothing more to say
No more ace to play”
Though it's hurting me
Now it's history
I've played all my cards
And that's what you've done too
Nothing more to say
No more ace to play”
Elas já haviam conversado tanto, brigado tanto, falado tanto... E mesmo assim não adiantara nada. Só se desgastaram, cansadas de tanto apertar a mesma tecla, que nunca dava em nada. Lilian tentara pela última vez, quando se jogara na frente do carro de Maria, implorando para que ela não partisse, dizendo que a amava com todas as forças, e mesmo assim não adiantou. Maria tinha tentado o mais que podia, sacrificando coisas que ela jamais havia pensado sacrificar, mas também não dera certo.
Ela tirou de dentro da caixa uma aliança de ouro. Naquele momento não pode impedir as lágrimas que vieram incessantes, logo após ela levantar sua mão, fitando uma aliança igual aquela em seu dedo.
“The winner takes it all
The loser standing small
Beside the victory
That's a destiny”
The loser standing small
Beside the victory
That's a destiny”
Verdade, o vencedor levava tudo, enquanto o perdedor ficava cada vez menor. Ela tinha experimentado aquela sensação. A vencedora feliz, seguindo com a vida dela, amando outras pessoas... Enquanto ela, a perdedora, já não tinha mais forças para agüentar. Mas quem podia culpar? Ela não achava que tinha sido errado, ou perda de tempo... E como a outra dissera, apenas não dera certo. Será mesmo?
“I was in your arms
Thinking I belonged there
I figured it made sense
Building me a fence
Building me a home
Thinking I'd be strong there
But I was a fool
Playing by the rules”
Thinking I belonged there
I figured it made sense
Building me a fence
Building me a home
Thinking I'd be strong there
But I was a fool
Playing by the rules”
O próximo objeto que ela tirou da caixa fora uma folha de papel já amarrotada e amarelada pelo tempo. Olhou para as palavras ali escritas e suspirou de saudades, saudades do tempo em que era uma tola romântica. Sempre acreditara no amor verdadeiro, em nunca desistir... Achava que seu lugar era junto àquela garota que tanto a encantava. E mais uma vez estava errada. Sentia uma nostalgia enorme, misturada com tristeza, enquanto bebia mais do vinho.
“The gods may throw a dice
Their minds as cold as ice
And someone way down here
Loses someone dear
The winner takes it all.
The loser has to fall
It's simple and it's plain.
Why should I complain.”
Their minds as cold as ice
And someone way down here
Loses someone dear
The winner takes it all.
The loser has to fall
It's simple and it's plain.
Why should I complain.”
Quando ficaram juntas no primeiro dia, fora aquela flor branca que Maria dera para ela. A flor provavelmente já estava morta, mas continuava com as boas lembranças, pelo menos para Lilian. E ela já sabia, desde aquele momento, que era um romance arriscado, o primeiro de ambas... E fora tão pouco tempo... Mas o vencedor leva tudo. E Maria levou, tudo o que ela tinha, suas esperanças, seu amor, seu carinho.
“But tell me does she kiss
Like I used to kiss you?
Does it feel the same
When she calls your name?
Somewhere deep inside
You must know I miss you
But what can I say
Rules must be obeyed”
Like I used to kiss you?
Does it feel the same
When she calls your name?
Somewhere deep inside
You must know I miss you
But what can I say
Rules must be obeyed”
Quantas e quantas vezes, em meio aos diálogos alterados, Lilian não perguntara se a outra beijava como ela beijava? Se sabia os pontos exatos em que Maria se arrepiava, ou então se as outras sabiam tudo o que ela sabia... Lilian tinha certeza que não. Talvez seu único problema fosse a pretensão... Colocando-se em um pedestal, como se ninguém mais soubesse tudo sobre Maria, somente ela. E podia ser completamente diferente... Ela poderia ter compartilhado sua vida com as outras... E Lilian não seria mais a exclusiva, a diferente, a especial. Aliás, será que algum dia fôra?
“The judges will decide
The likes of me abide
Spectators of the show
Always staying low
The game is on again
A lover or a friend
A big thing or a small
The winner takes it all”
The likes of me abide
Spectators of the show
Always staying low
The game is on again
A lover or a friend
A big thing or a small
The winner takes it all”
De dentro da caixa saiu um CD com as músicas dela... A última vez em que Lilian a vira fôra dentro de um ano... Tinham se visto sem querer, e Maria dera seu CD para a outra, para que talvez, no fundo, nunca se esquecesse. Sim, ela já era famosa, enquanto Lilian não sabia ainda o que queria da vida. As pessoas tinham diferentes concepções de novos trabalhos para ela, mas ninguém queria deixar que ela seguisse seu sonho, de eternizar seus momentos em palavras.
“I don't wanna talk
If it makes you feel sad
And I understand
You've come to shake my hand
I apologize
If it makes you feel bad
Seeing me so tense
No self-confidence
But you see
The winner takes it all
The winner takes it all...”
If it makes you feel sad
And I understand
You've come to shake my hand
I apologize
If it makes you feel bad
Seeing me so tense
No self-confidence
But you see
The winner takes it all
The winner takes it all...”
A última coisa que saiu daquela caixa, fora a carta que recebera semanas atrás. Maria a escrevera, dizia que iria viajar dali a alguns meses, e que não sabia quando e nem se voltaria. Lilian chorara demais, o vencedor levava tudo mesmo. Sem piedade. Achava que no fundo, Maria sentia pena dela, pois não podia sentir o mesmo que ela sentia. Muito menos na mesma intensidade. Lilian estava cansada de tentar, e nunca conseguir. Ela sempre perdia, não importava o jogo. Tudo o que ela menos queria era ver Maria mal, chateada, mas até aquele momento, não queria acreditar de que era a única a sentir, e a enxergar ali.
Lilian tomou o último gole de vinho. Levantou-se decidida. Foi até o telefone e discou o número que estava em sua memória. Depois de alguns segundos, e de tanto chamar, caiu na secretária eletrônica. Ela suspirou fundo e disse:
- Mesmo que você não acredite que possa ter durado tanto tempo, mesmo que você não acredite que é verdadeiro, mesmo que não sinta o mesmo... Mesmo que nunca tenha sentido nada... Eu te amo. Adeus, e agora é para sempre.
“Someone dear...
Takes it all...
The loser ...
Has to fall...
Throw a dice...
As cold as ice...
Someone way down here...
Someone dear...
Takes it all...”
Takes it all...
The loser ...
Has to fall...
Throw a dice...
As cold as ice...
Someone way down here...
Someone dear...
Takes it all...”
Após desligar o telefone, ela tomou os remédios que havia dentro de um potinho em cima da mesa, deitou na cama e esperou que o sono eterno viesse para dar-lhe paz.
O que Lilian nunca poderia saber, é que Maria estava ao lado do telefone, e a cada palavra lágrimas caiam de seus olhos, como se pressentisse. Um aperto no coração, e então a sensação de vazio, ao ouvir as últimas palavras de Lilian.
- Nem sempre o vencedor é realmente vencedor... Pois a única coisa que importava, eu deixei perder... – ela sussurrou para si mesma, com o olhar perdido.
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