Conto - Insistência


        Enquanto pego minha bolsa, juntando todas as minhas coisas, tirando as roupas das gavetas eu olho para o seu retrato em cima da mesinha de cabeceira. Não, não é a primeira vez que tento sair de casa e ir bater à sua porta, se eu for tentar contar nos dedos não conseguirei, precisarei de mais mãos para isso.
Uma lágrima cai de meus olhos enquanto tomo mais um gole de vinho, eu não bebo, nunca gostei de beber, mas preciso para suportar a dor que é ficar sem você.

           O quanto eu te pedi para ficar, não ir... Implorei jogada aos seus pés, pois para mim você é tudo, mas mesmo assim você me deixou.

I’m begging you, Stay just a little longer, You’ve always been the one who’s stronger
I can’t let you go, I’m begging you stay, Stay because I need you, With every breath I breathe you, I can’t let you walk away”

          Não, é muita ironia, não é possível. Nesse rádio idiota toca justo uma música parecida com o que estou passando agora... Mais uma lágrima cai e eu trato logo de enxugá-la. Continuo arrumando minhas coisas enquanto sorrio lembrando-me das outras vezes. Será que irá bater com a porta na minha cara como já fez anos atrás? Meses atrás?

           Sim, sei que sou insistente e que chega a ser irritante, mas quem sabe eu não ganho pela insistência? Não tenho nada a perder. Talvez a ganhar, ganhar o seu coração. Como eu queria poder fazer tanta coisa que eu não pude fazer...

        Dentre as minhas roupas sinto o seu cheiro, como se ainda ontem você estivesse em meu quarto fazendo juras de amor, mas sei que não esteve. Aliás, faz muito tempo que nem temos uma conversa decente.
Também, duvido que eu conseguiria ficar tão perto de você sem tocar-te, olhar nos olhos e dizer como eles são lindos, olhar sua boca e ter que me segurar para não beijá-la naquele exato segundo. Não, eu não poderia me conter.

There are things I didn’t ever say or do, Like I would die without you, Didn’t mean I didn’t want to”

            Sim, porque eu morreria sem você, aliás, estou morrendo. Há dias que não como, não durmo, não sorrio... Meu sorriso só renasce quando me lembro de você, de nós. Tudo o que escrevo é sobre nós, sobre você. Sempre. E te ver tão de longe dói tanto, saber que você me rejeita me mata aos poucos, mas meu coração é burro, estúpido, no seu vocabulário não existe a palavra não. É, talvez você me odeie com todas as forças de tanto eu insistir, relembrar. Mas você já não me pertence, já me odeia um pouquinho sem que eu precise fazer nada, então eu tento. Quem sabe com tanta insistência esse ódio não se transforme em ódio por não poder me odiar, assim, igualzinho ao meu sentimento por você?

But every song I ever sang I sang for you, And every night away from you
Knowing you’d be home’s what got me through, Tore up all the pictures of our wasted yesterdays, I’m fighting for tomorrow, standing here”


           Depois de colocar tudo dentro da mala, tomo o último gole de vinho naquela taça. E para onde eu vou? Cada dia é um lugar diferente... São Paulo, Rio de Janeiro, Brasil, Estados Unidos... Paris? Por que não? Você faz de tudo para afastar-se de mim, mas juro que para te resgatar, eu iria até o céu! E por que não até o inferno também?

           Pego as chaves do meu carro e um mapa, dessa vez onde você se enfiou? Sei, pareço uma louca perseguidora, não é? Daquelas de novela, que precisam ir para um hospício. Mas juro que não estou louca, eu sei que você me ama. Posso jurar que não foi uma miragem ver o seu numero no meu telefone e que quando atendi você desligou. Não foi miragem te ver do outro lado da rua um dia desses, acompanhada de um cara. E o olhar que você me lançou... Não foi de desprezo, longe disso. Tristeza, talvez? Não sei... Quem sabe um olhar de saudade. Mas você fugiu quando tentei falar com você, é perita em fazer isso. Talvez por isso seja sempre eu que corro atrás.

I’m begging you stay, Stay because I need you, With every breath I breathe you, I can’t let you walk away.

            Eu sinto tanta inveja quando te vejo nas novas fotos. É uma dor que aperta meu coração e eu não sei mais o que fazer, apenas chorar. Por que eu queria estar do seu lado, ser aquela que tirou a foto. Queria ser a primeira a ver seu sorriso, te mostrar cidades novas, ver o brilho no seu olhar ao contemplar o luar e as estrelas, aquela que junto a ti deita.

          Estou dirigindo á horas, não sei exatamente onde estou, só tenho o seu endereço aqui comigo, mas faço até mágica para chegar até você. Enfim, depois de tanto tempo, paro em frente á uma casa toda rosa, arrumada, a casa perfeita! Diferente da minha: bagunçada e confusa, desarrumada, assim como a dona talvez.
Desço do carro ainda sem saber o que falar, o que fazer ao te ver depois de meses. Em minha lembrança vem a memória de quando andávamos de mãos dadas pelo parque e eu tecia elogios que deixavam suas bochechas vermelhas, e como eu adorava continuar a dizer como você estava linda! A mulher perfeita, perfeita para mim.

Stay, I know I’ve done you wrong, It’d be easier to move on”

           E tudo isso por causa desse meu erro idiota. O erro de te amar, querer te amar. E insistir no erro de continuar te amando. Esse foi o meu erro.Toco a campainha e depois de um tempo um homem abre a porta. Pergunta o que eu quero e digo que sou uma amiga sua. Não, não estou surpresa, você está sempre com alguém diferente, é uma decepção atrás da outra pra mim.

        Então você aparece á porta, mais linda como nunca, você sempre se supera. Novamente aquela pergunta:

“O que você faz aqui?”
             
            E a minha velha resposta:

“Eu precisava te achar.” – mais uma vez você volta a me interrogar, não dá trégua.

“Para quê? Eu não pertenço mais a sua vida.”

“Mas eu quero que você pertença. Aliás, da minha vida você nunca saiu, muito menos do meu coração.”

            E agora, o que você vai fazer? Sim, eu sei a dura resposta.

“Vai embora! Não quero você aqui.”

“I’m telling you, I’m begging you, I’m pleading, I’m screaming, Stay just a little longer”

          Mais uma vez eu imploro para que você fique, ou então, para que não fuja mais. E mais uma vez quase recebo uma portada na cara. Consigo te dizer antes de mais nada:

“Ninguém mais fará o que eu faço por você. Eu sou a única idiota, estúpida e burra que venho até você, onde você estiver, só para dizer que sinto sua falta.”

            Lágrimas ameaçam cair de seus olhos, será que eu sou a única que consigo quebrar suas barreiras?

“Por que não me deixa em paz?” – você finalmente pergunta.

“Então só me responde uma coisa, se eu te deixar em paz, você parará de pensar em mim? De me amar?” – eu pergunto enquanto olho dentro de seus olhos.

“Não...” – a única resposta, a que eu já esperava.

“Então que diferença faz?” – seguro em sua mão, e sinto um anel no seu dedo anelar, lágrimas rolam de minha face.

“Fique. Sem você meu mundo não tem cor.” – eu imploro novamente. Eu peço...

“Eu não posso.” – a mesma resposta de sempre. E então eu começo a chorar, desesperadamente. Eu sei que será a última vez que te vejo, você dará um jeito de ir embora, para que eu nunca mais te encontre.

“Stay, Come on, come on, come on, come on, come on
Stay, Just a little longer, You’ve always been the one who’s stronger
I can’t let you walk away”


             Suas mãos encostam-se a minha face, lembrando-me o quão doce você pode ser.

“Mas tenha a certeza, de que mesmo longe, eu ficarei com você, por toda a eternidade.”

             A última frase vinda de você. Uma última esperança ao qual eu me agarro com todas as forças.

“Eu te amo tanto...” – eu digo, ainda chorando.

“Eu sempre te amarei. Tenho que ir, meu marido está me chamando.” – e suas mãos são retiradas de meu rosto, desprendidas das minhas. Mais uma vez eu te perdi.

“Mas você sabe que eu iria a qualquer lugar para te ver de novo, não é?” – eu perguntei e você respondeu com um sorriso nos lábios.

“Claro que eu sei. Por isso facilito seu trabalho.” – e me entregou um papel com um número de telefone e um endereço. O seu novo endereço daqui uns dias.

              Talvez não esteja tudo perdido, graças a minha insistência...

FIM

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