Conto: I Don't Wanna Fight



I Don't Wanna Fight

Você tinha pedido para se encontrarem, lembra? Fazia algum tempo que não se falavam direito, mas você tinha que tentar. Noites e noites sem dormir direito, relembrando fatos de uma vida que ficara para trás, primeiro era a felicidade, depois a mágoa, a dor, brigas e mais brigas.

 Ficava revivendo tudo tentando achar o ponto de partida daquilo tudo, mas estava tão enrolada em si mesma, que apesar de procurar, nunca chegava à parte alguma, como se não tivesse começo.

Não agüentava mais, precisava falar, desabafar, tirar aquele peso das costas e o nó que permanecia em sua garganta.

“I can’t sleep, everything I ever knew
It’s a lie without you
I can’t breathe, when my heart is broke in two
There’s no beat without you”

Encontraram-se naquele mesmo barzinho de sempre, onde costumavam conversar tomando alguma coisa e comendo petiscos, passando o tempo, ouvindo música ao vivo. Fazia quanto tempo que não iam até lá? Não se lembra?

Pois eu sei que você se lembra muito bem, foi lá que a amizade passou para algo mais. Foi lá o primeiro beijo, o pedido de namoro, o primeiro ciúme, a primeira briga, a primeira separação.

Você estava meio sem jeito, ela também, cumprimentaram-se com um abraço e um beijo no rosto. Ficaram em pé mesmo, ambas sabiam que havia uma certa pressa...

“You’re not gone but you’re not here
At least that’s the way it seems tonight
If we could try to end these wars
I know that we can make it right
‘Cause Baby”

Você que a chamara, você que tinha que acabar com o silêncio. Ensaiou algumas vezes e por fim, disse:

- Eu a chamei porque precisávamos conversar... – coçou a cabeça, tinha receio. Mas sabia que tinha que fazer. Como ela permaneceu calada, resolveu falar de uma vez:

- Há dias que não durmo direito, não como direito, não faço mais nada... A não ser pensar em você.

Você podia jurar que viu um sorrisinho de canto nos lábios dela, que esperou alguns segundos e resolveu se manifestar:

- É... Meus dias também não foram dos melhores sem você. Realmente precisamos conversar.

Você é tão tola que ao ouvir tal frase, já teve os lábios abertos em um sorriso e a esperança reavivada no peito. Ela tratou de te desiludir:

- Isso não significa que nós voltaremos...

Seu sorriso se desfez imediatamente, ela pôde ver a decepção nas suas feições, você não conseguiu disfarçar. Mas engoliu em seco e tentou prosseguir.

- Tudo bem. Mas eu preciso te dizer uma coisa... Mesmo que eu não saiba se dará certo ou não, preciso fazer.

Ela concordou com a cabeça e pareceu tão certo o momento... Quando o cantor, ali no canto com o microfone, começou a cantar o refrão, a música explodiu em seu ápice, você caiu ao chão de joelhos, frente àquela mulher que tanto amava.

“I don’t wanna fight no more
I forgot what we were fighting for
And this loneliness that’s in my heart
Won’t let me apart from you
I don’t wanna have to try
Girl to live without you in my life
So I’m hoping we can start tonight
‘Cause I don’t wanna fight no more”

Dos seus olhos desceram lágrimas, da sua boca saíram palavras carregadas de sentimentos. Porque haviam brigado? Você não sabia mais. Estavam numa luta, tentando apenas ferir uma a outra, sem saber qual a razão das batalhas.

Talvez acharam que quem mais ferisse, seria o ganhador. Mas nesse jogo, não há ganhador, ambos saem perdedores. Você havia percebido isso.

Ela ficara sem reação diante da sua atitude, ficara surpresa e emocionada. Suspirou fundo e sussurrou para você:

- Porque tudo isso? Porque você quer voltar? Me dê apenas uma resposta.

Sim, você sabia que era um desafio, você tinha que dizer a palavra certa... Qualquer coisa, além disso, e ela não seria sua, nunca mais. Você não precisou pensar.

- Porque eu sei tudo o que eu vivi, foi e é verdadeiro. Sei que isso é amor.

“How can I life, when everything that I adore
And everything I’m living for girl it’s in you
I can’t dream, sleepless nights have got me bad
The only dream I ever had is being with you”

Ela sorriu com os lábios e com os olhos, sim você tinha acertado.

- Estamos aqui, nesse mesmo bar, onde começamos. Mais um recomeço, mais uma tentativa. Como saber se não iremos parar aqui daqui a alguns dias, e cada uma seguir em um caminho diferente?

- Não podemos saber. Mas podemos arriscar. Do que vale a vida sem se apaixonar? Sem tentar? Sem errar? Sei que sem você eu não posso mais ficar. Minha cama tem reclamado por estar meio cheia apenas, não vê a hora de se completar.

Uma risada gostosa vindo dela, é você acertou novamente.

- Isso seria um sim?

“I know that we can make it right
It’s gonna take a little time
Let’s not leave ourselves with no way out
Let’s not cross that line”

- Talvez... Que tal começarmos com umas bebidas e uns petiscos?

Ela sorriu para você piscando o olho, você sabia o que viria depois. Definitivamente isso era um sim, mas vinha juntamente com um “vamos devagar”.

Sentaram-se em uma das mesas e começaram a conversar, comer, beber e se divertir, enquanto ao fundo vinha uma seleção de músicas que casavam certeiramente com a situação de vocês duas.

Até que enfim você teria sua segunda chance, poderiam conversar e se entender sem reservas, sem fingimentos, sem tentarem se alfinetar, se machucar. E porque não dizer, um novo recomeço, naqueles mesmos lugares, circunstâncias, situações? Talvez fossem sempre os mesmos, pois o amor que as unia seria sempre o mesmo, sem se apagar.

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