Um Amor Além da Vida: 11 - Passado Amoroso De Priscila


Capítulo 11 – Passado Amoroso de Priscila

E naquele momento, enquanto eu tocava a música, me senti tão frágil... Aquela sensação de estar tão perto de Clarice, me fez lembrar quando eu havia me declarado para uma amiga minha, e ela simplesmente disse que eu confundia as coisas, que éramos apenas amigas. Eu sei que Clarice não tinha nada a ver com meu passado, mas foi impossível não me lembrar dele, e desejar apenas um conforto, um abraço, e foi o que ela me deu, no exato momento em que eu precisava.

Ficamos uns logos minutos naquela posição tão confortável, até que eu me soltei vagarosamente, olhando-a nos olhos. Clarice enxugou algumas lágrimas dos meus olhos e disse:

- O que houve? - ela perguntou suavemente, mas eu nada disse, não sabia se queria mexer no passado justo naquele dia. Como não ouve resposta, ela voltou a dizer:

- Se você não quer contar, tudo bem. Mas eu estarei aqui se você precisar.

Aquele tom de voz junto com suas palavras me passou conforto e segurança. Eu queria contar, dividir com alguém o que eu sentia. Abrir-me.

- É que... A história é longa... - eu disse meio indecisa, ao qual ela respondeu:

- Eu tenho a noite toda, se você não se incomodar que eu fique aqui. - ela sorria, e eu sorri também. Era exatamente o que eu precisava. E então, eu comecei a contar.

- Bom, ela era uma grande amiga minha, alguns anos mais velha que eu, e sempre fui eu que a ajudava, dava conselhos, sempre fui eu que parecia a mais velha. E de uns tempos para cá, eu comecei a enxergar com outros olhos, eu a desejava. No começo, senti medo desse novo sentimento, mas depois comecei a achar que não era nada de anormal. Eu apenas nunca comentei com ninguém, só em poesias e letras de música que eu escrevia, pois tinha medo de que alguém soubesse. E um dia, resolvi me declarar, por carta. Mas, ao contrário do que eu imaginava, ela foi falar comigo me dizendo que éramos somente amigas, e que eu estava confundindo os sentimentos. E eu disse que não, que eu realmente a amava. Então, ela não quis mais me ouvir, dizendo que eu ainda era uma criança! Eu, que sempre cuidei dela, sempre fui a mais velha, e agora isso? Bom, depois ela passou a me evitar, quase não falava comigo, e quando o fazia, eram poucas e duras palavras. Eu sofri muito com isso, e passei a me fechar mais, ouvia músicas como essas, tristes, e escrevia, até me cansar. Decidi nunca mais amar nenhuma mulher, que aquilo era loucura, e comecei a gostar de um primo meu. Depois disso, claro que eu sabia que gostava de mulher, mas nunca admitia, nem para mim mesma.

Acabei de contar tudo, as lágrimas já haviam secado em meu rosto, e no da Clarice algumas ainda rolavam. Eu suspirei fundo e sorri, tristemente.
- Eu... Não tinha idéia. - ela me disse, baixinho. - Você nunca mais falou com ela?

- Bem pouco, mas quase nunca. - eu respondi.

E então, um silêncio se fez presente entre nós, eu não sabia mais o que falar, nem ela. Ficamos nos olhando por um momento, nos estudando.

- Mas isso não vai mais acontecer. Você é uma garota linda, não sei como ela pode te dispensar, ela não te merece. Você é doce e encantadora, tenho certeza que há muitas pessoas atrás de você! Não fique triste, prometa pra mim.

Havia uma doçura em seus olhos, e gentileza em seu sorriso, que me fizeram sorrir na hora. Não sei como, nem porque, mas ela me encantava. Hipnotizava-me. Ela fazia um enorme bem para mim.

- Muito obrigada. Mas, nem tanto. Não sou tão linda assim, tenho tantos defeitos...

Havia momentos que eu realmente me achava feia, que eu não gostava de mim. Mas, para minha surpresa, ela levantou-se e veio atrás de mim, ficando de joelhos em cima da cama. Passou as mãos em meus cabelos, sentindo-os, e segurando-os juntos, deixando meu pescoço de fora. Eu fechei os olhos, enquanto ela encostou sua cabeça perto da minha, sussurrando em meu ouvido:

- Você é linda, sempre será. Não há quem resista a esses seus doces olhos castanhos, a esse seu sorriso encantador, a esse jeito doce. Seu jeito de menina mulher encanta qualquer um. Suas palavras, o que você escreve inveja até os maiores poetas. Seu cabelo, seu rosto, suas pernas, seu corpo... É tudo tão perfeito. Defeitos? Todo mundo tem, ninguém é perfeito. Mas, temos que reconhecer as qualidades também, e você tem muita.

Suas mãos enlaçaram minha cintura e sua boca passou da minha orelha para o meu pescoço, encostando seus lábios na minha pele. Ela continuou:

- Você vai achar alguém que te queira, e te ame exatamente do jeito que você é. Não duvide disso.

Ela finalizou, enquanto beijava meu pescoço. Eu suspirei e todos os pelos do meu corpo arrepiaram-se, era extremamente delicioso tê-la ali, e extremamente inebriante. Não sei quanto tempo ficamos ali, curtindo aquele carinho, aquele momento, mas sei que não nos importamos.

Até que a campainha do meu apartamento tocou, tirando-nos daquele êxtase. Ela me largou de repente, afastando-se, e eu levantei, arrumando meu vestido. Praguejei internamente contra quem tivesse nos interrompido, e olhei para Clarice. Ela estava desconcertada, encarando o chão, então resolvi ir atender a porta. Não me admirei ao abrir e dar de cara com... Carla.

- Hey, estou atrapalhando alguma coisa? - ela disse sorrindo, a me ver toda amarrotada e Clarice saindo do meu quarto. Eu sorri, abaixando a cabeça.

- Não nada demais. - ela riu, entrando na sala.

- Então eu posso ficar. - ás vezes ela era muito irritante, e sabia disso. Fechei a porta e voltei para olhá-la, que já estava sentada no meu sofá.

- E então, o que você quer?

- Vai ter uma festa daqui a uma semana, á fantasia. Eu sei que você não gosta muito de festas... - ela disse ao ver a minha cara de "empolgação". - Mas eu vim chamar vocês duas, e sei que se a Clarice for você vai.

- E você perguntou para ela se ela vai? - eu retruquei. Carla virou-se para trás olhando Clarice, que sorria.

- Você vai não é? Por favor, diz que sim! Eu não sou tão estraga prazeres quanto pareço! A festa será na casa de uma amiga, a qual terá muitos quartos vagos para os convidados...

- Carla! - não preciso dizer que eu estava totalmente envergonhada, de todas as cores possíveis! Só podia ser minha amiga mesmo para dizer essas coisas. Clarice olhou para mim e deu risada, sentando-se ao lado de Carla no sofá, dizendo:

- Então eu vou. - ela sorriu olhando de volta pra mim. Eu fiquei sem saber o que responder, mas por fim, concordei:

- Okay, eu vou! - Carla levantou-se comemorando, e pegou o telefone.

- Bom, uma pizza para comemorarmos então! - eu e Clarice nos olhamos, sabendo que se algo aconteceria naquela noite, não iria mais acontecer. É.  Minha amiga sabe ser inconveniente ás vezes.

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