Beijos Estalados


Faz tempo que percebo na garota coisas estranhas. Um anel estranhamente posicionado no dedão me chama a atenção há semanas. O sorriso e a risada não saem da minha cabeça. É tão estranho como com aquela carinha de menina carente, faz-me querer segurá-la nos braços e tomar conta! E mais estranho ainda, é o modo como ela vem se comportando nos últimos dias. 

Sentada confortavelmente em meu banquinho, mereço não é? Enquanto não tinha ninguém para atendermos na exposição, quando ela chega devagar, colocando o pé, apoiando no banquinho, com a perna entre as minhas. Tremi, mas fingi não me importar. É comum, certo? Errado! Amigas do peito de anos a fio fazem isso, mas não garotas que conheço há apenas duas semanas e que não são realmente amigas apenas colegas de trabalho. 

Continuou conversando, e eu não me importando. Até a maldita hora que... BOM! Senti meu coração disparar e quase sair pela boca. Ela apoiou ambas as palmas das mãos em minhas coxas, bem de frente para mim, tão perto que quase sinto seu hálito quente. Droga! O que fazer? Sair correndo? Segurar nas mãos dela? Olhá-la nos olhos dar uma piscadinha e dizer "e a gatinha?" Escolhi o mais rápido e indolor. Fingir-me de estátua, como se não tivesse visto e nem sentido nada. 

E então, ela some! Por minutos, horas... Galáxias! Fica do outro lado do local, não dá as caras, e quando o faz, é com a maior naturalidade do mundo e nem me olha na cara. E eu, com a cara de paspalha que tenho, fico gritando internamente pela milésima vez "Ela é apenas sua colega de trabalho!", "Não, ela não gosta de garotas.", "Não, ela não quer você. Porque quereria?", "Para de viajar na maionese! Sossegue!". E adianta? 

Claro que não! Por que adiantaria? Principalmente por causa das coisas que ela fez depois. Não sabe? Nem imagina o que foi? Vamos lá, contarei. Começo de turno, todos se cumprimentando pelo dia, ela me fala oi de longe, e vai beijar a outra colega, amiga dela. E eu sorrio de canto, sorriso amarelo, pensando exatamente que ela não veio me beijar no rosto, pobre de mim, abandonada e sozinha. A outra colega, que chegou junto com ela, vem beijando todo mundo, e me beija no rosto, dizendo "Ela beijou todo mundo, então também vou." E quando eu cheguei a pensar "Não, não foi todo mundo. Ela não me..."

Smach!!! Bem molhado, apertado, e agarrado, foi o beijo que ela me deu no rosto. Não faço ideia da onde veio ou como apareceu, só sei que apareceu! Segurou meu rosto e beijou minha bochecha, tão forte e estalado, que não pude evitar um sorriso enorme aparecendo no meu rosto. E ela nada disse. E depois, seus olhos não se encontraram mais com os meus o resto da noite. Mas aquele beijo estalado em meu rosto ficou marcado, deixando saudades de algo que poderia ter acontecido, e que eu desejei que acontecesse. Nada mais que promessas de um futuro furado pela incerteza da dúvida. Nada mais do que um simples beijo estalado de bom dia na bochecha. Nada mais que um beijo dela. E eu não precisava de nada mais.

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