Princípes e Princesas


Olhou-se no espelho. A completa imagem da perfeição. O vestido impecavelmente branco, cheio de rendas e babados, cabia-lhe tão perfeitamente sobre o corpo. A coroa de brilhantes nos cabelos cor de fogo dava-lhe o toque real. A jóia no pescoço lembrava-lhe da sua linhagem. Os sapatos de salto e cristal escondiam sua pequena estatura. Tudo perfeitamente arranjado para uma perfeita princesa. Se não fosse por um único e pequeno detalhe: ela não queria ser uma princesa.

O espelho refletiu a raiva estampada em seus olhos. 

Começou a rasgar o vestido com força, cerrando os dentes. Não queria ser uma maldita princesa! Não queria um castelo, muito menos um príncipe em um cavalo branco para salvá-la. Quem disse que os homens são os únicos salvadores da pátria? E por que raios ela tinha que se submeter à alguém? Por que deveria calar e assentir, obedecer somente, sem se revoltar? Sem se expressar? Por que tinha que vestir rosa ou branco? Babados, saias, corpetes, brincos? Correntes! Tudo isso era uma espécie de corrente, prendendo-a em algo que ela detestava. 

Jogou a coroa no chão, espatifando os pequenos brilhantes. 

Olhou-se refletida no espelho, a maquiagem borrada escorria pelas bochechas vermelhas. A respiração rápida, falha. Fechou os olhos. 

Já não era mais quem não gostaria de ser. Era ela mesma. Em calças, botas e um leve toque feminino em uma blusa de manga bufante vermelha, roxa, preta, qualquer cor que não fosse feminina demais. Cabelos cortados e repicados. E um cavalo negro. Era livre. Para fazer o que queria, ir onde queria, como queria. E agora, poderia ir atrás do seu pequeno e adorável segredo:

O resgate de uma princesa.

E então, bateu de frente com a mais terrível verdade, que cortou-lhe o coração em mil pedaços. Aquela princesa, sonhava com príncipes e cavalos brancos, e sonhos, e castelos grandes e decorados. Por mais que seu coração palpitasse mais forte, por mais que se sentisse no céu, não desistiria desse sonho, do seu grande sonho de ser uma princesa.

Nunca poderia desistir de ser quem era. 

Nunca haveria outro amor como aquele.

E talvez, talvez... Quem sabe, naquele momento... Por um pequeno instante... Ela desejou com todas as forças do seu coração que ela não fosse uma princesa, mas um princípe. Pois assim, somente assim, poderia viver seu conto de fadas com a princesa que seu coração escolheu.

Mas a vida, a vida não é um conto de fadas. E a nossa pequena princesa nunca seria um príncipe. E o seu grande amor, nunca seria seu. 

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