Capítulo 23 – Desastre Complicado
Eu esperei em
casa e logo Carla já estava lá para me acalmar. Conversou comigo e disse que
ela conhecia a amiga que tinha. A Priscila só precisava de um tempo, mas logo
voltava, não iria demorar muito. Carla ficou comigo o resto do dia, me animando
e me colocando para cima, eu sentia muita falta da minha namorada. Esperei
passar o fim de semana, não fiz nada de interessante, pois não me interessava
mesmo, sem ela tudo ficava sem graça.
No domingo eu
não agüentei mais, liguei para a casa da mãe dela, Carla havia me dado o número
caso acontecesse uma emergência. Ela atendeu, conversamos um pouco, mas logo
desligou, não falamos muito. Ela me prometeu que tentaria voltar logo, e eu
esperei.
Esperei
durante um mês, e nem um telefonema, nem um sinal, uma mensagem ou carta. Absolutamente
nada. Eu continuava indo para faculdade, quase não ia para minha casa, já que
na maioria do tempo eu dormia na casa de Priscila. Eu dei o tempo que ela
precisava, e ela não me ligou nem para dizer um ‘Olá’, ou então que estava tudo
bem com a mãe dela, nada. Eu estava morrendo de saudades, pensava nela o tempo
todo, queria tanto poder abraçá-la... E então só pude tomar uma decisão. Carla
estava naquele dia em casa, indo atrás de mim enquanto eu pegava minha chave do
carro.
- Clarice, você não pode fazer
isso!
- Por que não? – eu disse
fechando a casa e pegando minha bolsa. Ela corria atrás de mim desesperada,
tentando fazer-me parar.
- Ela vai me matar quando souber
que fui eu quem te deu o endereço. – Carla parecia desolada, mas depois eu me
entendia com a Priscila e não a deixaria brigar com Carla.
- Ela não vai fazer nada.
- Mas Clarice, por favor! Você
não pode simplesmente ir lá!
- Por que não? – eu perguntei
novamente, já do lado de fora da casa, trancando a porta.
- Você não conhece a família
dela, não sabe de nada! – ela estava desistindo, sabia que eu não ia escutá-la.
- Eu não vou fazer nada demais,
prometo. Vou apenas conversar com ela.
Minha amiga
deu um suspiro, sabendo que nada do que dissesse me faria desistir do que eu
iria fazer. Carla abraçou-me dizendo:
- Então, te desejo sorte, que dê
tudo certo.
- Obrigada, se cuida. – eu
respondi entrando no carro. Peguei o endereço da casa da mãe dela e um mapa, e
fui dirigindo pela estrada.
Peguei um CD
de dentro da minha bolsa e coloquei para ir ouvindo-o, eu não sabia fazer as
coisas sem ouvir música junto. Começou a tocar ‘Always’ do Bom Jovi, parece que
tudo conspira contra nós, não é? Aquela música me deixava com muito mais
saudades dela, com o coração mais apertado e com mais probabilidade das
lágrimas caírem.
Não sei
quantas horas eu dirigi, não consegui contar, só pensava em chegar lá. Já era
de noite quando eu cheguei à cidade. Peguei o endereço e fui guiando,
perguntando em alguns postos e bares até achar a rua. Parei o carro em frente
ao número 1037. Era uma casa de aspecto velho por causa do tempo. Desci do
carro e respirei fundo, com um sorriso no rosto, toquei a campainha.
Não esperei
mais do que alguns segundos e uma menina ruiva de olhos verdes abriu a porta
toda sorridente, mas quando me viu, pude jurar que seu sorriso foi desfeito.
Ela me olhou nos olhos, ao mesmo tempo curiosa e temerosa. Era impossível que
ela soubesse quem eu era...
- Sim? – ela perguntou com uma
hesitação na voz.
- Eu gostaria de falar com a
Priscila, ela está? – eu sorri de canto e a menina respondeu:
- Sim, quem gostaria de falar?
- Clarice. Uma amiga dela. –
nesse momento ela me encarou, eu tinha certeza que ela sabia, como eu não sei,
mas sabia.
- Ah entre, eu vou chamá-la.
Ela me deu
passagem e eu entrei na casa, a porta foi fechada em seguida.
- Só um segundo. – ela subiu as
escadas provavelmente atrás da irmã.
Eu olhei em
volta e vi uma estante com alguns porta-retratos, e neles havia algumas fotos
da minha namorada, ela era tão linda quando criança!
- O que você está fazendo aqui? –
a voz de Priscila cortou o silêncio da casa. Eu voltei-me para ela,
assustando-me com o tom que ela usara, fora tão fria.
- Eu vim ver como você estava. –
eu disse sorrindo.
- Clarice, você não devia ter
vindo! – sua voz subiu um pouco e eu estranhei.
- Mas eu não fiz nada... – ela
agarrou-me pelo braço e foi arrastando-me escada acima:
- Vamos conversar lá no quarto.
Entramos por
uma porta que foi fechada após passarmos, pude perceber que era o quarto em que
ela estava dormindo. Eu teria prestado mais atenção ali se não fosse Priscila
dizer logo após entrarmos:
- Eu falei que precisava de um
tempo!
- Amor, faz mais de um mês que
você não dá notícias, não me diz se está bem, nem um telefonema, carta,
mensagem... Nada!
- Eu não pude te ligar ainda... –
ela disse mais suavemente. Colocou a mão na testa, em sinal de preocupação.
- O que foi? Não gostou de me
ver? – eu perguntei com um tom de angústia na voz.
- Não é isso, é que... – ela
olhou-me sem saber o que fazer ou o que falar. Sinceramente? Eu não estava
entendendo nada. Ela suspirou e disse:
- Minha mãe não pode te ver aqui.
- E se eu disser que sou sua
amiga? – eu disse sorrindo, com uma esperança, que foi logo cortada por
Priscila:
- Não! Ela iria saber... Alice
percebeu, ela sabia quem você era, mesmo sem ninguém ter lhe dito nada. Por
favor, você não pode ficar aqui.
- Hey, espera. Não tem como
darmos um jeito?
- Não! Será que você não entende?
– ela colocou as duas mãos na testa, já estava muito preocupada e nervosa, e eu
não entendia o porquê de tudo aquilo.
- Não, não entendo Priscila! Faz
um mês que você não fala comigo, não manda nada dizendo que está bem, e quando
eu venho te ver a única coisa que sabe dizer é que eu vá embora? Você não
sentiu saudades de mim? Dos meus beijos, dos meus abraços... Nada? – eu não
conseguia esconder minha indignação diante daquilo, nem a mágoa contida na
minha voz.
Por um momento
Priscila suspirou visivelmente cansada. Fechou
os olhos suspirando e depois olhou para mim, sorrindo um pouco. Aproximou-se
encostando a mão no meu rosto, fazendo carinho e sussurrando:
- Você não sabe o quanto eu senti
sua falta, dos seus beijos, seus carinhos... Do calor do seu corpo, dos sussurros
de madrugada, da sua respiração em meus cabelos, seus toques... Quando você
cantava para mim...
Seus dedos
passeavam em meus lábios, e meu coração pulava dentro do peito, explodindo de
saudades. Seus lábios vagarosamente encostaram-se aos meus, minhas mãos
envolveram sua cintura e as dela foram parar em minha nuca. O beijo aconteceu
daquele jeito mágico, ainda com mais vontade por causa da saudade. Eu beijava
seus lábios e chupava-os com tanta intensidade que eles ficaram vermelhos e
inchados.
- Eu te amo tanto... – ela
sussurrou contra meus lábios.
Fui andando
com ela grudada em mim até a parede, prendendo-a de costas ali. Minhas mãos
percorreram seu corpo, já sabiam o caminho de cor, seu cheiro invadindo minhas
narinas, como eu senti falta do meu amor!
- Eu também, preciso tanto de
você... – meus lábios foram automaticamente até seu pescoço, beijando, lambendo
e mordiscando a região, o ponto fraco dela.
Ela gemeu ao
sentir meu toque entre suas pernas e voltou a sussurrar em meu ouvido:
- Eu quero você, necessito de
você dentro de mim. – mordeu a ponta da minha orelha, enquanto suas mãos
arranhavam minhas costas por baixo da camiseta.
Talvez
estivéssemos indo longe demais, mas juízo era algo que não tínhamos, não depois
que a loucura da nossa paixão tomava conta de nossos corpos. É, mas eu só não
sabia que eu realmente não deveria ter ido lá, e que aquele foi o maior dos
meus erros. Só descobri isso quando ouvimos a porta abrir:
- Priscila, minha filha, trouxe
seu chá e... – um barulho de louça espatifando-se no chão.
Soltamo-nos
assustadas pelo barulho, nos recompondo. A mãe dela estava parada na porta,
olhando-nos espantada e surpresa, sem ação. Priscila desesperou-se e começou a
tentar explicar:
- Mãe, por favor, não é nada
disso do que a senhora está pensando e... – ela não pode continuar a frase, sua
mãe deu um tapa com força no rosto dela. E depois, olhando para mim, gritou:
- Vai embora da minha casa agora!
Não quero essa pouca vergonha aqui, sua... Nojenta, desvirtuando minha filha...
Você não presta, isso é contra Deus! Fora daqui antes que eu te tire á paulada!
Eu via a fúria
naqueles olhos castanhos, e quando olhei para Priscila, ela olhou-me magoada,
com um sentimento que eu nunca tinha visto, um olhar que me gelou o corpo todo.
Eu senti meu coração apertar e quebrar-se em mil pedaços. Eu saí correndo do
quarto descendo as escadas com pressa, enquanto ouvia a mãe dela gritar e
gritar barbaridades. Eu chorava cada vez mais, abri a porta e saí para a rua,
abrindo o carro e sentando-me ali. Ouvi um barulho no vidro e o abri, dando de
cara com Alice que me olhava com pena.
- Desculpa, eu não queria...
Eu... – as lágrimas me impossibilitavam de dizer alguma coisa. Alice apenas
balançou a cabeça dizendo:
- Eu sei, mas o que está feito,
está feito. O que você tem que fazer agora é ir embora, voltar para sua casa
que vamos tentar ajeitar as coisas aqui. Eu prometo que ligo para dizer como
estão as coisas.
- Tudo bem, muito obrigada,
mesmo. – eu agradeci olhando-a nos olhos e dei a partida no carro.
Comecei a
dirigir para fora daquelas ruas e daquela cidade, com o som ligado e a música
confortando-me. O tempo todo que eu dirigi eu chorei, com as imagens da mãe
dela em minha cabeça. Eu nunca mais me esqueceria do jeito como ela me olhou,
com repugnância, nojo, raiva... Rebaixando-me á um inseto asqueroso.
Eu não via a
hora de chegar em casa para poder pensar e descansar um pouco. Eu não podia ter
noção do que eu havia feito, sem querer, provavelmente fora o maior erro que eu
cometi, e o desastre que culminou no nosso
fim.
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