Capítulo 22 – O Fim da Ilusão.
Eu dirigia
pela estrada com o coração na mão. As lágrimas desciam abundantes pelo meu
rosto, de vez em quando atrapalhando minha visão. Eu sei, talvez não tenha
feito o certo, o mais correto, mas eu nunca soube mesmo o que fazer da minha
vida. Eu não sou tão madura quanto eu gostaria, e não via outra saída. Ouvi o
barulho do meu celular acusando uma mensagem recebida. Peguei-o e vi que era
dela, eu sabia.
“Amor o que houve? Eu preciso de você comigo, para saber que está bem.
Eu não posso aceitar o seu adeus...
Te amo Clarice”
Eu respondi a
mensagem dela, mas lia a que ela me mandara constantemente, eu sentia tanto sua
falta! Mas só eu sabia como minha mãe era, só eu sabia por tudo o que já havia
passado, ela não saberia como lidar com minha mãe, e levá-la só traria
problemas.
Depois de
muito tempo dirigindo e pensando, parei o carro em frente aquela casa já
amarelada pelo tempo. O sol raiava no horizonte. Bati na porta e quando esta a
abriu, eu pude ver uma moça mais nova do que eu parada ali, sorrindo para mim.
Era ruiva de olhos verdes.
- Maninha! – ela abraçou-me
sorrindo e eu retribuí o abraço, estava cheia de saudades.
- Oi Aline, saudades! – eu
respondi e ela logo me puxou para dentro de casa.
Olhei em
volta, era tudo exatamente como eu me lembrava. O sofá velho marrom, a estante
com a televisão e o rádio, os porta-retratos... Eram tantos! Uma garotinha de
cabelos ruivos e encaracolados sorria sentada em uma árvore, reconheci-me
naquelas roupas de quando era criança.
- Priscila, minha filha! – minha
mãe apareceu de dentro da cozinha. Virei e olhei àquela senhora de braços
abertos para mim, sorrindo. Sorri meio triste indo abraçá-la.
- Oi mãe! – ela apertou-me
beijando-me a face, estava muito feliz com a minha volta.
- Quantas saudades dessa filha
que eu não vejo há tempos! – sentamos ao sofá e eu suspirei, nem era tanto
assim, ela sempre fora exagerada.
- E como a senhora está? Aline
disse que a senhora estava doente... – eu olhei-a preocupada.
- Ah estou bem, é um resfriado, algumas
dores, mas vou levando. – ela sorriu para mim, segurando em minha mão.
- Está com fome? Fez essa viagem
toda, deve estar faminta! Vem, vamos comer, acabei de preparar o café da manhã.
Eu apenas fui
atrás dela, sabia que não adiantaria dizer nada, ela adorava que comêssemos em
casa, todos em volta da mesa, cheia de coisas gostosas. Descendentes de
italianos, fazer o quê. Sentei á mesa, ao lado de minha mãe e Aline, começamos
a comer e a conversar, eu sentira falta de tudo aquilo, delas, da minha casa...
- E os namorados, filha? – foi
minha mãe fazer esta pergunta para meu semblante entristecer.
Lembrei-me de
Clarice, e meu coração apertou-se ainda mais, quantas saudades dela! Eu havia
me acostumado a tê-la á todo instando ao meu lado, sentindo o seu toque, sua
respiração, seus beijos...
- Aconteceu alguma coisa? – a voz
de minha irmã me tirou de meus devaneios. Olhei-as e tentei dar um sorriso, mas
sem muito sucesso.
- Nada, estou bem.
Mudei de
assunto perguntando como ia a vida de minha irmã, que já estava na
adolescência, com seus 15, 16 anos. Mas dentro de minha mente não podia conter
mais as lembranças de meu amor.
O dia foi
passando e eu levei minha mãe á tarde ao médico, ele me disse em particular que
ela estava com uma doença, e que precisaria de cuidados constantes, além de
tomar os remédios que ele receitaria, mas que não era tão grave assim. Voltamos
para casa e enquanto ela ia cuidar das atividades diárias, eu entrei no meu
antigo quarto.
Olhei em
volta, várias coisas minhas ainda estavam por lá. Pôster de bandas que eu
gostava, colantes, fotos de amigos coladas na parede. Minha cama e meu
guarda-roupa, além da velha escrivaninha na qual eu estudava. Andei até ela e
passei os dedos por cima da madeira, sentindo o móvel, com saudade de tudo o
que fazia ali. Sentei-me na cadeira e peguei um bloco de papel e uma caneta que
estavam ali por cima e comecei a rabiscar algumas palavras, até sair alguma
coisa:
“Agora que voltei para minhas raízes eu descobri
O quanto eu senti falta de tudo isso, que era meu.
Eu sinto-me oca por dentro sem você ao meu lado,
Mas sei que você nunca pertencerá a este mundo.
A cada minuto sem o seu toque eu vou enlouquecendo,
Acostumei-me a viver em uma fantasia de princesa.
E ao cair na realidade cruel, eu não sei o que fazer,
Pois sei que esse foi o fim dos meus dias de ilusão.”
Reli essas
palavras e uma lágrima escorreu no canto do meu olho. Eu sabia que eu não
voltaria em apenas três dias, em uma semana no máximo, realmente não queria
deixar Clarice, mas havia a minha mãe.
O final de
semana passou tranqüilo, não tive notícias de Clarice ainda, e nada de
diferente aconteceu, a não ser o fato de Aline ter visto minha aliança em meu
dedo. Ela olhou-me como se soubesse que eu escondia alguma coisa, mas nada disse
até aquele momento. Era domingo á tarde e estávamos assistindo televisão quando
o telefone tocou, mamãe atendeu e logo veio até mim, entregando o fone:
- Pri, é uma amiga sua, uma tal
de Clarice...
Eu devo ter
feito uma cara de desespero, desconforto ou qualquer outra coisa, pois Aline
que estava sentada no sofá olhou para mim, como se de repente entendesse tudo,
mas nada me disse. Peguei o telefone e atendi:
- Alô?
- Oi amor... – a voz dela parecia
hesitante. Eu tinha que dizer alguma coisa sem parecer muito suspeito:
- Oie, como você está?
- Com saudades. – ela disse
suspirando. Senti meu coração apertar ainda mais.
- Eu também!- levantei da onde
estava sentada e caminhei até a cozinha, encostando-me no batente da porta e
dizendo baixinho:
- A Carla falou com você?
- Sim, falou. – ela me respondeu,
estava tão calada...
- Me desculpa. – eu disse com a
voz triste.
- Volta logo princesa... – ela
falou com a voz também triste, e uma lágrima desceu de meus olhos.
- Eu prometo voltar. Agora eu...
Preciso desligar... – eu disse vagarosamente.
- Tudo bem... Te amo, até mais
Priscila.
- Je t’aime mon amour. – eu
respondi, desligando o telefone.
Fiquei ali
mais um tempo com a mente vagando pelas lembranças dos dias com minha namorada,
que nem percebi minha irmã parada encarando-me.
- Priscila? – ela disse, tocando
meu braço. Olhei-a assustada e ajeitei-me.
- Ah, nem vi que você estava aí.
– forcei um sorriso, mas algo me dizia que ela sabia que eu não estava bem.
- Se você quiser conversar sobre
qualquer coisa, eu estou aqui, ok? – ela disse isso e sorriu para mim, saindo
da cozinha e indo dar o remédio de mamãe.
Voltei para a
sala e foi ajudá-la, algo me dizia que aquilo estava longe de ser o fim.
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