Conto:
Liberdade
Seus passos
ecoavam no quarto silencioso e escuro. Andou até a sacada que havia ali,
debruçando-se na grade. Andrea observou a imensidão do céu negro salpicado de
estrelas brilhantes, aquilo lhe dava paz. Desejou poder pular dali, jogar-se de
braços abertos como se pudesse voar. Cair no esquecimento.
No meio da
noite, sem fazer barulho, Gabriela havia saído para nunca mais voltar. Aliás,
ela só voltava quando queria dormir com Andrea, depois sempre ia embora. É,
parece que ela era mulher para uma foda apenas, sem envolvimento. Odiou
Gabriela e o poder que aquela mulher tinha sobre ela.
Já havia dito
para si mesma, centenas de vezes, que não iria mais ceder, mas sempre se rendia
aos encantos da morena de olhos cinza, absolutamente sedutora. Sua vida amorosa
era um caos, sempre se envolvia com as pessoas erradas.
Marina lhe dera
o título de corna. Fabiana a enrolou durante meses, dizendo que ia separar-se
do marido, coisa que realmente nunca chegou a fazer. Valéria só a queria para
satisfazer os desejos da própria namorada, e depois que as duas usufruíram
dela, dispensaram-na. E por último, Gabriela que sempre voltava para uma noite
maravilhosa de sexo. Jurava amor eterno, enquanto sugava todas as forças de
Andrea, que sempre se entregava totalmente. E no outro dia, ela acordava
relembrando a noite anterior, mas sozinha na cama. Completamente só.
Sentia raiva e
amargura, queria se matar por ser tão passiva, mas acabava por esquecer todos
os planos de vingança quando na outra noite, Gabi a empurrava de encontro á
parede.
As lágrimas
escorriam de seus olhos, sem pedir permissão, e caíam pelo seu rosto, sua boca,
deixando o gosto amargo da rejeição. Sentiu-se usada, um mero objeto que todos
gostavam de manipular, brincar, e depois quando se cansavam simplesmente a
descartavam.
Não havia amor
verdadeiro, aquele amor que ela via em novelas, que durava para sempre. As
pessoas eram cruéis na vida real, e para se achar a pessoa ideal para você,
demorava muito tempo, se não a vida toda. E ainda assim, ás vezes não
encontrava.
Lembrou-se do
começo daquela noite, estava tão chateada, passara o dia deitada na cama. A
campainha tocou e ela foi abrir a porta, Gabriela estava absurdamente sexy com
aquela mini saia combinando com o top preto. Tentou dizer que não, mas a mulher
morena a jogou na cama, sussurrando tudo o que ela precisara ouvir.
Beijou-a,
tocou-a, lambeu-a completamente, dos pés a cabeça. Inevitavelmente gritos e
gemidos de prazer saíram de sua boca, seu coração acelerado, ela se sentia mais
viva do que nunca. Deixou que Gabriela a comesse enquanto dizia obscenidades em
seu ouvido, adorava ser subjugada por aquela mulher. E assim foi metade da
madrugada, até adormecerem. Acordou com o barulho da porta fechando-se, e
quando tocou o outro lado da cama, sentiu o vazio preenchendo-lhe o peito.
Uma vontade
incontrolável de chorar. Sentiu-se a pior das criaturas, totalmente suja.
Nojenta. Não podia mais agüentar aquela situação.
E ali estava
ela, a bela loira de olhos azuis, que de tão bela não servia para nada, somente
isso, a beleza e a luxuria a consumiam. Fechou os olhos e subiu em cima da
grade fina que separava o refúgio do abismo. Suspirou, deixando que a última
lágrima caísse, sentindo-se aliviada.
Abriu os braços
sentindo o vento bater em seu rosto e jurou que tinha visto asas negras
abrirem-se nas suas costas. Deu apenas mais um passo, selando o seu destino:
Enfim sentiu uma liberdade imensa, enfim estava livre. Ninguém mais a faria se
sentir um lixo, ela tinha seu valor.
Enquanto caía em
queda livre, um sorriso formava-se em seu rosto, olhou para cima e viu os
mesmos pontinhos brilhantes: sabia que dali em diante também seria uma estrela
naquela imensidão negra, estaria livre, e finalmente, em paz.
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