Capítulo 15
Juro que aquela voz me fez arrepiar dos pés a cabeça, e não de um modo bom. A voz era masculina e poderosa, e junto entrou o seu dono. Lucas não era como eu pensava, nem tão fortão, nem tão magrinho. Tinha o corpo atlético, vestia jeans e camiseta preta. Cabelos curtos e negros, olhos cinzas, um sorriso simpático. Mas eu podia ver em seus braços as veias saltadas que demonstravam sua força.
Ficou surpreso, ao me ver ao lado de Priscila, mas sorriu com naturalidade e então me cumprimentou:
- Oh me desculpe! Não sabia que tinha uma visita. – disse desconcertado.
- Ah amor, essa é a Sara, de quem lhe falei. – Priscila olhou para mim sorrindo e eu não sabia o que dizer.
- Prazer! – ele estendeu a mão. Aproximei-me e apertei, murmurando um “prazer é meu” baixo. Ele realmente era forte.
- Não sabia que você iria chegar em casa, senão tinha aprontado o seu almoço.
- Imagina. – ele disse. – Na verdade, só voltei porque esqueci a pasta, aqui em cima da mesa. – foi até a mesinha e pegou o objeto.
- Ah sim. Até de noite. – ela deu um beijo em seus lábios.
- Até, prazer em conhecer. E ah, venha jantar, assim conversamos. – acenou para mim, sorrindo, e saiu.
Ouvimos o barulho do carro saindo da garagem, enquanto isso permanecemos imóveis. Meu coração batia rápido no peito, estava com medo de ser descoberta. Priscila olhou para mim e nossos olhos se cruzaram, no mesmo momento caímos na gargalhada. Eu tinha ficado dura, e acho que branca até, porque ela disse:
- Não precisa ter medo dele, é inofencivo. – disse entre risos.
- Inofencivo? Viu os braços dele? – eu disse com os olhos arregalados. Ela deu uma gargalhada, dizendo:
- Ah céus! Tem medo dele, mas não tem medo de brincar comigo, não é? – disse maliciosa.
- Com você? Claro que não! É até gostoso brincar com você... – levantei uma sobrancelha, com um sorriso malicioso no rosto.
- Você não vale nada. – ela riu.
Resolve-mos arrumar algumas coisas e irmos para o estúdio. Eu estava super feliz, seria a primeira tatuagem, o que eu sempre sonhara fazer. Conversávamos quando descemos do carro. Passaram dois caras mauricinhos, olharam para Priscila dos pés a cabeça e um deles, o mais alto, assoviou, dizendo:
- Ô lá em casa! – e deu risada, enquanto olhava para a bunda dela.
Subiu-me uma enorme raiva pela garganta, eu queria socar o filha da puta! Desculpem-me pelo palavrão, eu não sou de falar essas coisas, mas na hora queria matar um! Como ele ousa cantar a mulher dos outros? Ok, ela não era minha mulher, mas ainda assim era casada! E outra, não me viam ali não?
Meu olhar devia estar mesmo cheio de ódio, porque Priscila encostou a mão no meu ombro, sussurrando:
- Hey, calma, pequena lutadora. – riu baixo.
- Mas ele... Ele... Argh! – fechei os punhos e bufei. Fechei os olhos, respirei fundo e abri-os novamente.
- Eu estou aqui, não estou? Do seu lado? – Priscila sorriu, dando-me a mão.
- É, está. – acalmei-me.
Entramos no estúdio e ao passarmos pela atendente loira e tatuada, Lili, ela olhou para mim e sorriu. Paramos no balcão para falar com ela.
- Marcamos hora com o Rogério. – disse Priscila.
- Ah sim, ele já irá atender. – Lily olhou para Priscila e depois para mim, dizendo:
- Menina, você conseguiu uma coisa que nem eu não consegui! Pegar essa deusa! – e piscou pra mim.
Fiquei sem reação! Como assim? Como a Priscila havia recusado aquela mulher linda e tatuada da Lili? Olhei espantada para as duas e Priscila riu, enquanto me explicava. Eram amigas há algum tempo, por isso tinham a liberdade de fazer aquelas brincadeiras uma com a outra. Mas eu não era boba... Sabia, tinha a certeza, que elas eram amigas “coloridas”, ou com benefícios, tanto faz o termo.
Logo, Rogério nos chamou e entramos na sala dele. Eu estava tão ansiosa! Conversou comigo e mostrou o desenho que ele arrumou, ficou perfeito! Muito melhor que o meu, o cara era realmente um bom proficional! Sentei na cadeira que ele indicou, eu iria tatuar no braço, na altura do ombro. Priscila sentou-se ao meu lado, segurando na minha mão, eu até tremia!
- Olha, fica calma, ok? Vai doer, mas não é tanto assim. Vou indo devagar, para você se acostumar. Como quer somente em tinta preta, será mais rápido. – sorriu para mim. Pelo menos era simpático e sincero.
Pegou a máquina de tatuar, as tintas, o extênsil e tudo o mais que precisava. Quando vi que ele iria colocar a agulha no meu braço, virei o rosto para o outro lado. Senti um pouco de dor e apertei os olhos. Rogério começou a tatuar, e disse:
- Então, por que decidiu fazer essa tatuagem?
- Bem... Ai! – fiz uma careta e continuei. – Porque eu acho que a palavra “acreditar” é muito poderosa. Você precisa acreditar que as coisas irão dar certo, que elas darão. Você só precisa ter fé, o que a maioria das pessoas não têm.
- Isso é verdade. – comentou Priscila. – E as algemas? – sorriu maliciosamente.
- Bem as algemas... – fiquei vermelha antes de responder. – É porque eu simplesmente amo séries sobre criminalística, detetives e policiais, queria algo que simbolizasse isso.
- E a caneta no lugar do L? – Rogério perguntou.
- Simboliza o ato de escrever. Quero ser escritora, é o meu grande sonho. Escrever livros e histórias, por isso a caneta. Consegui juntar tudo em um único símbolo.
- E ficou muito legal. – Priscila disse, sorrindo, olhando em meus olhos.
Com os dedos, acariciou minha mão. Olhei-a nos olhos, esquecendo da dor, por um momento. Eu não fazia ideia do que ela queria, mas aquilo definitivamente não era só desejo, ou apenas uma brincadeira. Ela não precisava estar ali comigo, muito menos segurando minha mão. Sorri, sem conseguir me conter, e ela sorriu de volta, parecia entender...
- Pronto, acabou! – Rogério sorriu, passando um pano com um líquido transparente, para limpar o lugar da tatuagem.
- Nossa! Estou doida para ver como ficou! – levantei-me e andei até o espelho.
Ficara simplesmente... Magnífico! Lágrimas ameaçaram cair dos meus olhos, já vermelhos. O Believe estava escrito em uma letra inclinada, com um pouco de toque pessoal do Rogério, as algemas prendiam os dois “Es” e a caneta parecia de caneta tinteiro. Tudo junto, com o toque dele, ficou muito melhor do que o meu desenho.
- Muito obrigada! – abracei-o, com cuidado, por causa do braço.
- De nada! Só tem que tomar cuidado agora e trocar o curativo que eu farei.
- Ficou lindo mesmo! – Priscila me disse, com os olhos brilhando.
Passamos no balcão, na saída, e eu fui pagar a tatuagem. Lili olhou para o meu braço e também elogiou a tatuagem. Mas percebi que demorou o olhar por sobre eu e minha amiga. Junto com o recibo, entregou-me um papelzinho. Lá fora, abri o papel que dizia: “Peça para Priscila contar a nossa história, acho que você vai gostar... E então, se quiser, ligue.” E logo abaixo, o número do celular dela. Fiquei intrigada...
- Vamos para minha casa? Vai jantar lá? – ela perguntou-me com os olhos pedintes.
- Ah não sei... O Lucas vai estar lá e eu não... – ela me interrompeu:
- Ele quer te conhecer. Vamos? – mordeu o lábio inferior.
- Okay, eu vou, você venceu! Mas isso é covardia! – ri e entrei em seu carro.
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