Garota Jolie - 14

Fazia alguns dias que eu não a via. Será que não tinha gostado? Será que tinha raiva de mim? Será que não queria nunca mais me ver? Essas perguntas rondavam minha cabeça, dando-me uma sensação de ansiedade e temor. Eu estava na faculdade naquele dia, já era hora do intervalo. Peguei meu lanche, na fila da cantina, e antes que pudessse virar, senti dois braços envolverem minha cintura.

- Bom dia bebê. – ela sussurrou em meu ouvido. Abri um sorriso instantâneo no rosto.

- Bom dia! – falei alto, para que todas ouvissem.

            Camila e Jéssica me olharam surpresas, mas nada disseram. Andamos até uma das mesas e ao sentarmos, Priscila ficou ao meu lado. Colocou uma das suas mãos sobre a minha, por baixo da mesa, e deixou-se ficar, entretida na conversa. Jéssica começou a falar sobre a vontade de fazer mais tatuagens, e eu lembrei que a minha seria no dia seguinte.

- Nossa, isso me fez lembrar! Amanhã irei ao estúdio com a Priscila, para fazer minha tatuagem.

- Que legal! E que desenho irá fazer? – perguntou Jéssica, curiosa.

- Bem eu pensei em escrever “Believe” e colocar um par de algemas junto. Levei o desenho e o Rogério iria aprimorar para mim, vamos ver amanhã.

- Que tudo! Vai ser legal. E ah, se disserem que não dói, é mentira! Dói sim na hora de fazer tatuagem, viu? – já tinha experiência no assunto.

- Ai céus, essa será a pior parte. – eu disse, com uma carinha tristinha.

- Não se preocupe, eu estarei lá para segurar na sua mão. – sorriu Priscila, tranquilizando-me.

- Ai meu deus, era só o que me faltava. – soltou Camila.

            Dei um cutucão nela e ela calou a boca, entendendo o recado.

- O que foi? – Bianca perguntou, chegando ao nosso lado.

- Nada não. – sorri. – Vamos que já bateu o sinal.

            Fomos andando e em nenhum momento Priscila soltou minha mão. Minhas amigas entraram na sala e ela me segurou do lado de fora. O corredor estava quase vazio, mas mesmo assim não queria correr riscos. Seus olhos se aprofundaram nos meus e demoraram-se alguns segundos.

- Estou morrendo de saudades... – mordeu o lábio inferior.

- Eu também... E esse seu gesto sempre me mata! – ri de nervoso e ela riu junto.

- Eu sei. Vamos almoçar amanhã? Na minha casa? Aí a tarde te levo para o estúdio.

- Tudo bem. – sorri, sem me importar.

            Ela chegou bem perto de mim e dando um beijo rápido em meus lábios, voltou para a classe dela. Entrei na minha pisando em nuvens. Era muito surreal para ser verdade! Passei o dia todo fazendo meus trabalhos que nem entrei na internet direito. Ao final do dia, eu estava muito cansada e tudo o que eu queria era cair na cama. Ao deitar, peguei meu celular e percebi que havia uma mensagem. Já sabia de quem era.

“Queria que você estivesse na minha cama agora. Morrendo de saudades do seu beijo.”

            Sorri, peguei o celular e respondi:

“Eu também, meus dias tem sido difíceis. Amanhã almoçarei com a Garota Jolie, estou mutio feliz! Mal posso esperar ;)”

            Sabia que o marido dela poderia olhar o celular dela, até sem querer. Ela pegou na hora o código do Garota Jolie, pois respondeu que mal podia esperar também, e assinou com o novo apelido. Dormi pensando nela e acabei sonhando com ela. Eu sabia o que era, sabia que estava apaixonada, mas dizia para mim mesma que era algo passageiro, só uma brincadeira de criança.

            No outro dia na hora do almoço, saí da faculdade e quando cheguei no portão, ela estava lá, do lado de fora do carro, encostada na porta, me esperando. Sorriu quando me viu e senti que borboletas voavam dentro do meu estômago. Despedi-me das minhas amigas e saí correndo ao seu encontro.

- Você veio mesmo! – pendurei-me em seu pescoço, dando um beijo em sua bochecha.

- Mas é claro que eu vim! Entra aí! – entramos no carro e fomos para a casa dela.

            A casa era linda! Grande, espaçosa, bonita. E confortável. As paredes eram brancas, na sala havia sofás caramelo e uma mesinha de centro, TV LCD, um aparelho de som, estante com livros, um tapete também caramelo no centro. Nas paredes, alguns quadros de flores. A casa tinha uma sala, cozinha, sala de jantar e dois quartos, pelo o que ela me dissera. Era dois andares, e eu só estava vendo o primeiro.

- Hum que cheiro delicioso! – disse, ao entrarmos na cozinha.

- É, fiz arroz, feijão, e bife. É algo simples, mas espero que goste! – colocou suas coisas na poltrona da sala e voltou para a cozinha.

- Está brincando! Eu amo a combinação desses três! – mordi meu lábio inferior, fazendo-a rir.

- Isso é ótimo! Significa que posso te segurar pelo estômago! – pegou dois pratos, talheres e dois copos.

- Em matéria de comida? Pode sussegar que você me segura muito bem. – eu respondi, e logo ouvi uma gargalhada.

- Eita, mas você só pensa nisso! Aliás, sempre na hora de comer. – brincou, servindo a comida para mim e para ela.

- Oras, mas o que posso fazer se todo mundo usa um verbo para duas ações totalmente diferentes? – disse, fingindo inocência.

- Sei. – sorriu.

            Então ocorreu-me de repente: onde estaria o marido dela? Acho que fiquei tão tensa, que ela acabou advinhando o que eu estava pensando:

- Hey, estamos sozinhas aqui. O Lucas não volta hoje tão cedo, está muito ocupado no trabalho.

- Ai que bom! – suspirei de alívio. – Tenho medo das consequências de ele me pegar aqui.

- Mas não estamos fazendo nada demais, só almoçando. – sorriu maliciosamente.

            Comemos enquanto conversávamos. Depois, colocamos os pratos na pia e fomos para a sala. Fiquei observando tudo o que ela tinha ali, os quadros, os discos, os livros, interessada em sua vida, enquanto ela ia explicando cada uma das coisas. Não percebi que ela chegou atrás de mim e quando me virei, Priscila me empurrou de encontro a prateleira, beijando meu pescoço e meus lábios com urgência.

            De repente, ouvímos um barulho de carro e do portão abrindo-se. Soltamo-nos, assustadas. Nos recompomos e então ouvímos:

- Querida, esqueci minha pasta, você sabe onde está? – e Lucas entrou na sala.