Same Mistake - Parte 1


Andando na rua cabisbaixa, indo a sentido contrário ao da multidão, apenas pensando na vida, sem motivos para estar radiante. Eu nunca pude lhe ver pessoalmente, conhecer o brilho dos seus olhos ou o seu sorriso cativante. Nunca pude ouvir suas mentiras e nem viajar na sua voz. Você apareceu na minha vida estando muito distante, e eu nunca pude lhe encontrar pessoalmente. Mas eu te amei, isso posso afirmar. Amei-lhe tanto ao ponto de quase desfalecer de paixão, mas você me odiou. Maltratou-me, e mesmo assim eu lhe amei. Segui com a minha vida como se nada tivesse acontecido, era o que todos me aconselhavam.


Com os fones no ouvido tocando uma música qualquer eu vou seguindo, até atravessar a rua e meus olhos depararem-se com uma visão, juro que achei que estava sonhando, uma pura ilusão criada pelo meu cérebro em confusão. Vi a mulher mais linda dos meus sonhos, dos meus devaneios. Uma morena alta, de pescoço e mãos compridos, andando com uma elegância invejável. Os olhos do mais doce chocolate, amendoados e misteriosos, como se me hipnotizassem. Os lábios carnudos transcritos em um sorriso encantador.  Os cabelos castanhos e arrumados em uma escova, lisos e caídos nos ombros. A calça jeans apertada no corpo, uma bata preta que realçava os seios, e nos pés um sapato de boneca. Uma visão dos céus.

E naquele momento eu te reconheci. Não sei como eu sabia, mas eu sabia exatamente quem era ela. Sempre soube que era você. Então como se fosse mágica, seus olhos cruzaram com os meus, e eu não pude desviar. Por um segundo, você me olhou fixamente, reconheceu-me, surpresa. Andou lentamente na minha direção, até ficar a centímetros de distância. Pude ouvir sua doce voz pela primeira vez, dizendo:

- Você. – tirei os fones do ouvido, ainda muito perplexa para dizer algo mais além de:

- Você.

Em uma cidade tão grande, como é possível duas pessoas se encontrarem dessa maneira? O destino? Ou coincidência? Eu sei que não permitira lhe perder facilmente. Eram tantas indagações mudas que eram feitas naquele momento... Ficamos paradas sem saber o que fazer durante um tempo indeterminável...

- Eu... – comecei, sussurrando, indecisa.

- Olha... Apesar de tudo, ainda somos amigas.

- Claro. – eu respondi, enquanto olhava você escrever algo em um pedaço de papel e me entregar.

- Me liga, se precisar. – e eu lhe vi desaparecer no meio da multidão, do mesmo modo que apareceu.
Voltei a colocar os fones de ouvido e continuar meu caminho para casa. Mas meus pensamentos andavam rápidos e ainda mais confusos, te ver foi inesperado, e eu senti minha respiração acelerar, meu coração querer explodir e eu ficar sem saber o que dizer.

Naquela noite não consegui dormir direito, revirei na cama enquanto sentia meus pensamentos correrem rápidos. Sentia a brisa da noite fria, entrar pela janela do meu quarto, arrepiando-me. Eu queria ter você em meu quarto, em minha cama e ao meu lado. Levantei-me e andei pela casa no escuro, não havia problema já que morava sozinha. Andei e andei, pensando, sonhando... Até que meus pensamentos começaram a me incomodar, eu precisava sair dali. Vesti uma roupa qualquer, saindo de casa naquela noite fria. As estrelas estavam brilhando no céu, e quando eu as olhava, lembrava de seu rosto á sorrir.

“Saw the world turning in my sheets and once again I cannot sleep.
Walk out the door and up the street; look at the stars beneath my feet.
Remember rights that I did wrong, so here I go.”

Minhas lembranças voltaram a me assombrar. Você apareceu em meus sonhos a me dizer palavras de amor, a jurar que era para sempre. As suas palavras escritas em uma carta dançavam em frente aos meus olhos, dizendo que não me amava mais, que era impossível dar certo. Depois, vi seus poemas embalando meu sono, enquanto contavam mentiras em que eu sempre acreditei.

Passei por várias praças, algumas pessoas andando pelas ruas, alguns bares abertos, mas nada disso conseguiu prender minha atenção. Andava sem rumo, apenas tentando achar meu caminho. Coloquei a mão no bolso da calça que eu usara mais cedo e encontrei aquele pedaço de papel. Em minha cabeça, um letreiro luminoso gritava: Liga! Mas o medo começava a me corroer, a ansiedade, não sabia o que fazer, estava confusa.

Andei mais e mais, até parar no meio de uma rua e pegar o celular do bolso. 
Disquei os números que pareceram dançar em minha frente, e por um momento meus movimentos hesitaram. Por fim, apertei logo o botão. Escutei o telefone chamar, e chamar, e chamar, até uma voz atender:

- Alô? – por incrível que pareça, sua voz não está sonolenta... Parece até... Ansiosa.

- Sou eu. – minha mente não consegue produzir nada de mais produtivo, como você poderia saber quem é esse ‘eu’? Mas você sabe.

- Eu sei. – posso sentir sua respiração do outro lado.

Sinceramente, não sei mais porque liguei. Aquele silêncio infernal se faz presente novamente. De que adianta fingir sentimentos agora? A essa altura do campeonato, não vale mais a pena usar nossas máscaras, por isso, digo num fio de voz:

- Estou confusa, não sei o que fazer. – consigo ouvir um suspiro seu do outro lado do fone, um silêncio e depois sua voz novamente:

- O que você quer de mim?

- Eu preciso te ver. – eu digo rapidamente.

- Agora? – sua voz parece cansada.

- Não posso perder a oportunidade de te ver. Nem que seja uma única vez. – minha voz está embargada, triste e muito suave. Você sabe que eu preciso disso, e também sabe que você quer isso.

- Essa noite eu estou sozinha. Pode vir. – e com enorme ansiedade anoto o endereço que você dita para mim.

- Obrigada. Estou indo. – uma felicidade começa a brotar de meu ser.

- Então vem logo. – consigo sentir o seu sorriso através do telefone, eu sei que você sorri.

Meus passos são quase automáticos, como se ansiassem por isso há muito tempo. E agora eu vou ao seu encontro. Milhares de pensamentos invadem minha mente junto com o vento gelado que me invade o corpo. Mas eu não sinto frio, é um fogo ardente que me faz viver novamente.

“Hello, hello. There is no place I cannot go.
My mind is muddy but my heart is heavy. Does it show?
I lose the track that loses me, so here I go.”

Nenhum comentário

Postar um comentário

Layout por Maryana Sales - Tecnologia Blogger