Cabides, Cabedos, Cabendo


E eu estava lá, e naquele momento era só eu e o escuro, o castanho-preto-escuro-não-sei-definir-a-cor, mas era lindo. Meus dedos gelados escorregavam, indecisos, incertos, vai-não-vai. Enrosca. Distorce. Desliza por entre os fios macios e meio embaraçados, embaraçada estava eu, ao ter a cara de madeira suficiente para pedir para tocar. Mexer. Brincar. E depois de um rápido mexer de lábios sibilando, sussurrado, sem sentido sim, o que fazer? Tranças. Eternas Tranças Transadas Terríveis Tranças Trançadas Trabalhadas Trapalhadas Tratantes Tranças Tratei de fazer.
Sem saber, sem dar bola, sem entender, ela ficou. 
E eu gelada, gélida, sem jeito, sem tato, sem peito. Peito suficiente para dizer aquilo que me embrulha o estômago, que me tira o sono, que me traz o sonho mais bonito, que me traz você.
Ideias loucas, loucuras, loucas ideias de lhe trazer presentes, presentes que lhe façam sorrir. Músicas que expressem o sentimento por você, mas sem que me aches louca, sem que pense...
Cabides, cabedos, cabendo. 
Meus dedos cabendo no estreito entre os fios dos seus cabelos e pedindo por um espaço no seu guarda-roupa, não precisa ser muito, em qualquer cabide eu posso caber.
Coração pululando, expremendo, batendo, arrebentando, arrebentado em frangalhos de tanta ansiedade, pouca coragem e muito papo. O que posso dizer, pra alguém tão nada a ver comigo como você?
Não quero dizer, falar, conversar. Beijo. Me beija. Me agarra, me amassa, me mostra com teus lábios o céu da tua boca, me faz pedir por mais e me agarrar nesses seus cabelos sem cor definida para esses meus olhos sem foco. 
Cabides, será que você cabides dentro das minhas exigências?
Cabedos, será que meus dedos caberiam nos seus cabelos outra vez?
Cabendo, me deixa entrar e mostrar que estou cabendo nesse seu vazio de amar.

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