Capítulo 20 – Dias Melhores. Parte 2.
Os minutos, as
horas, os dias passavam sem que nos déssemos conta. Era como seu eu vivesse um
conto de fadas, sem o príncipe, claro. Mas para quê eu iria querer um príncipe
com uma princesa tão linda ao meu lado? Clarice me satisfazia em tudo, me
fazendo a mulher mais feliz do mundo. Carla e Marina começaram a namorar,
acabamos formando um quarteto imbatível, já que Marina era super engraçada e
amiga.
Jantávamos sempre juntas e
fazíamos programas divertidos, tudo andava as mil maravilhas. Eu não conseguia
acreditar, para mim, tudo parecia ser um sonho maravilhoso, e eu torcia para
não acordar. Todos os meus problemas pareciam ter desaparecido, mas não era bem
assim que a banda tocava.
Mais uma
semana se passara, com muitos sorrisos, presentes e esperanças. Se eu for
descrever todos os momentos em que passamos juntas, provavelmente vocês se
cansarão logo de toda esta ladainha melosa, portanto, irei destacar os dias
realmente especiais que passei com Clarice.
Uns dois dias
depois daquela noite com nós quatro em minha casa, eu cheguei da faculdade e
comecei a ouvir uma voz vinda do quarto junto com a melodia de um violão.
Coloquei minhas coisas em cima do sofá da sala e fui seguindo o som, até parar
na porta do meu quarto. Clarice estava sentada em minha cama, com as pernas
cruzadas e um violão no colo. O quarto iluminado pelos raios do sol deixava
tudo com uma moldura quase divina. Ela estava linda! Uma blusa regata preta,
calça jeans desbotada e o cabelo preso displicentemente em um rabo de cavalo,
com a franja vermelha á cima dos olhos. E seus olhos... Esses possuíam um
brilho diferente, assim como o seu sorriso.
Eu encostei-me
ao batente da porta, sorrindo ao ver tudo isso. Clarice olhou em meus olhos e
sorriu, dizendo:
- Boa tarde meu amor.
- O que é isso tudo? – perguntei
fazendo um gesto abrangente com a cabeça.
- Apenas queria tocar algo para
você. – ela voltou a sorrir e colocou os dedos nas cordas do violão, indicando
com a cabeça para que eu me aproximasse.
E foi o que eu
fiz. Andei até ela e sentei-me no chão ao lado da cama, sem me preocupar com a
minha roupa. Seus dedos deslizaram pelas cordas do violão e a melodia começou a
formar-se, enquanto sua linda voz cantava uma música.
“I'm not a perfect person
There's many things I wish I didn't do
But I continue learning
I never meant to do those things to you
And so, I have to say before I go
That I just want you to know”
There's many things I wish I didn't do
But I continue learning
I never meant to do those things to you
And so, I have to say before I go
That I just want you to know”
Eu podia
perceber sinceridade em sua voz. Meu sorriso não conseguia parar de abrir mais
a cada segundo. Ela sabia, eu amava música! Canções eram tudo para mim. Eu
conhecia aquela música, e a adorava!
“I've found a reason for me
To change who I used to be
A reason to start over new
And the reason is you”
To change who I used to be
A reason to start over new
And the reason is you”
Olhando em
seus olhos negros, eu percebia o amor ali estampado. Seus olhos aprofundavam-se
tanto nos meus, que eu poderia dizer, com toda a certeza, que ela me conhecia.
Conhecia cada pedacinho do meu ser, e me entendia. Por completo. Amava-me.
Intensamente. Apesar de todos aqueles apetrechos que ela usava, toda aquela sua
roupa preta, naquele momento era como se eu visse um anjo em minha frente. Ela
era o meu anjo. Eu não precisava de mais nada para mim. Naquele dia eu soube
que era a mulher mais feliz do mundo.
Mais alguns
dias se passaram e teve uma vez que eu combinei de encontrar-me com ela, iria
buscá-la em sua casa. Minha intenção não era entrar, mas ela insistiu, dizendo
que estava quase pronta e não queria que eu esperasse lá fora.
- Entra minha linda. É rapidinho,
eu prometo! – Clarice dizia-me puxando-me pelo braço.
- Está bem meu amor, eu entro. –
eu disse suspirando.
Entrei e ela
fechou a porta. Fiquei esperando na sala enquanto ela voltava para o quarto. Com
os olhos, comecei a admirar toda a sua casa, até deparar-me com alguma coisa em
cima da mesinha de centro. Andei até ela e ali havia uma rosa vermelha com uma
carta, endereçada a mim. Segurei a rosa e abri a carta, sentando-me no sofá.
Comecei a lê-la:
“Priscila
Com você meu mundo é mais feliz, as cores são mais vivas, os cheiros
mais aguçados e os sabores mais doces. Você tem me feito a mulher mais feliz do
mundo, é tudo o que eu queria para mim. Eu amo seus doces olhos castanhos,
adoro os seus cabelos cor de fogo e simplesmente me derreto com seu sorriso
encantador. Você sabe disso tudo, mas não me canso de dizer. Eu te amo, com
toda a força da minha alma, do meu ser, do meu coração. E nada, nada que
aconteça irá nos separar. Porque nosso amor é eterno.
Com amor, sempre
Da sua Clarice.”
Quando acabei
de ler, meus olhos estavam cheios de lágrimas que não paravam de cair. Levantei
minha cabeça e lá estava ela, em minha frente, com um grande sorriso nos
lábios. Foi impossível conter as novas lágrimas que começaram a cair de meus
olhos, mas dessa vez o meu sorriso veio junto.
- Eu amo quando você sorri. – ela
disse, com os olhos brilhando. Clarice sentou-se ao meu lado, segurando em
minhas mãos.
- Eu sei. Eu te amo tanto!
Obrigada por tudo! – abracei-a sem conseguir me conter.
- Você é tudo para mim. – ela me
disse.
- Você será para sempre minha
garota inesquecível, não importa o que aconteça. E nosso amor é eterno, para
sempre.
Ficamos ali
mais um tempo, sem conseguir falar nada. Palavras não eram mais necessárias. O
que dizer quando se ama? Todas as palavras do mundo não seriam suficientes para
se expressar o amor que se sente.
Os dias foram
passando, passaram-se já duas semanas que namorávamos. Tudo ia bem, ela sempre
estava em minha casa e eu na dela. Mas, nada do que é bom dura para sempre, a
vida nunca é somente maravilhas. O que eu temia, acontecera.
Minha mãe, que
morava em outra cidade, adoecera, e queria me ver, precisava. Mas ela nem
cogitava a possibilidade de que sua filha mais velha fosse homossexual, eu
nunca dissera. Minha mãe era religiosa e tradicional demais, nunca me
aceitaria. E ela era tudo para mim, minha família. Não poderia abandoná-la. Mas
e agora, o que fazer em relação à Clarice? Contar toda a verdade? Não contar?
Eu tinha que ir, não podia abandoná-la.
E então,
naquela madrugada de sexta-feira, eu arrumei minha mala, iria de noite e Carla
lhe explicaria tudo no outro dia. Mas, nada é como queremos, ou esperamos.
- Aonde você vai? – a voz
sonolenta de Clarice cortou o silêncio da madrugada. Ela olhou para a mala,
depois para o meu rosto aflito.
- Eu... Eu... – o que dizer naquele momento?
- Você vai embora? Me deixar? –
sua voz soara mais que magoada, indignada. E agora, como explicar?
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