Todos falavam da sua ousadia. Alguns adoravam, outros odiavam. Como ousava fazer um escândalo como aquele? Ser diferente dos demais? Como ousava falar o que não devia? Não se deve abrir os olhos das pessoas! Não se deve falar palavrão, não se deve ser você mesmo! No mundo de hoje, cale a boca e siga os demais. Porque ser diferente, quando você pode ser igual? É, igualmente burro, estúpido e falso como todos os outros. Seu rosto? Nunca mostrava. Preferia mostrar os seios do que o próprio rosto. Por que? Bem, com os seios criava polêmica, fazia com que houvesse divergências, discursos, discussões e sempre fazia com que alguém se manifestasse. Mas o rosto, esse mostrava seu coração, e isso as pessoas não podiam ver. Veriam o quão frágil e emocionalmente abalável ela era, e isso ela não podia permitir. Preferia ser vista como aberração, diferente, estranha. Já haviam-na chamado de puta, vagabunda, tola, sem vergonha. Criticaram-na. Disseram que nunca seria alguém. Falavam mal, cuspiam, rasgavam seus livros em praça pública. E ela ria. Conseguira o que queria. Se estavam fazendo aquilo, era porque o que escrevia fazia as pessoas acordarem. Deixarem de ser mais um sem rosto na multidão. Ela dava voz aos cansados e esperança aos mais novos. Mas seu rosto? Seu coração? Quem era de verdade? Deixava escondido. Ninguém poderia achar. Ninguém.
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