Conto - Bleed For Me
Os meros mortais
querem amar para sempre, passam a vida toda buscando o amor. Mas eu descobri
que não quero amar, pois amar dói. Machuca. E depois que seu coração é
despedaçado uma vez, ele nunca mais volta a ser o mesmo, você nunca volta a ser
quem era. Sempre faltará uma parte.
E quem ama uma
vez, quando ama de verdade, nunca mais esquece, nunca mais deixa de amar.
Podemos negar ou tentar esquecer, mas de nada adianta, pois no fundo sempre saberemos
que é pra sempre.
Tentei fugir, me
enganar, mas só acabei apressando o destino. Eu me encontrava no aeroporto de
São Paulo, de braços dados com Gabriel, iríamos viajar para a Inglaterra, ficar
anos fora, planejávamos nos casar lá. Já fazia o quê? Uns três anos que não a
via, nem falava com ela.
Eu estava
sossegada, despreocupada, quando senti meus músculos se retesarem e meu coração
bater acelerado: lá estava ela, simplesmente linda. Rafaela tinha os cabelos
curtos e loiros, com mechas vermelhas, os olhos verdes vivos. Usava um vestido
vermelho curto, tênis nos pés, colares e anéis. Não mudara nada!
Apenas por um
pequeno detalhe: a mulher morena que estava pendurada em seu pescoço. Senti meu
sangue ferver de raiva. No fundo, queria ser eu a mulher agarrada a ela. Como
nossa sintonia sempre fora muito grande, ela percebeu meus olhos insistentes
sobre si e olhou diretamente pra mim.
Quase sucumbi ao
brilho do seu olhar intenso, me analisando. Sustentei o olhar, e ela também.
Não sabia definir se estava feliz ou não de me ver, mas logo vi um sorriso
triste nascer em seus lábios, e eu sabia o porquê. Seu olhar caíra para o homem
ao meu lado, que sorria.
Eu lutava com
todas as forças para não ir falar com ela, mas já era tarde demais, Gabriel se
levantara e ia ao seu encontro, cumprimentá-las. Vi-me obrigada a fazer o
mesmo. Andei ao lado dele, sorrindo como sempre.
- Rafaela! Que surpresa te encontrar por
aqui! – ele sorriu, apertando a mão dela.
- Digo o mesmo Gabriel! Faz tempo hein?
– ela sorriu de volta. Olhou para mim e estendeu a mão. Abri um sorriso e
cumprimentei-a.
- Faz tempo mesmo, Rafa. – eu disse,
demorando o olhar sobre ela.
- Ah, Vivian, Gabriel, acho que vocês
não conhecem a minha namorada, Clara. – ela nos apresentou para a garota
morena, que sorriu nos cumprimentando.
- Prazer em conhecer.
- Prazer é nosso. – respondeu Gabriel,
que logo entrou em uma conversa com a morena.
Eu limitava-me a
olhar para Rafa, tentando decifrar seus sentimentos. Nossa história sempre fora
das mais complicadas, e nós sabíamos disso. Eu, com medo de ser descoberta pela
sociedade, neguei estar apaixonada por ela.
Fingi, de todas
as maneiras possíveis, sempre a apresentava como amiga. E ela já estava cansada
disso tudo, a bomba estourara realmente quando eu comecei a sair com Gabriel,
primo dela. Rafaela não agüentou.
Dissemos
palavras duras, choros, mágoas, tristezas... Mal-entendidos... Mentiras. Nunca
mais tínhamos nos falado. Mas fora preciso somente aquele mínimo contato,
aqueles olhos... Para fazerem uma
revolução em mim.
- Gente, licença, eu preciso ir ao
banheiro. – sorri, precisava me afastar o mais rápido possível.
- Tudo bem, amor. Rafa, você pode ir
fazer companhia para ela, por favor? – perguntara Gabriel.
- Claro. – ela se limitou a responder.
Trocamos um olhar apreensivo e saímos dali, lado a lado.
Andamos em meio
aquela multidão, adentrando a porta do banheiro, que por nossa sorte, ou azar,
estava vazio.
Encostei-me na
pia de mármore e suspirei, sem saber o que fazer. Rafaela olhou-me com um
sorriso no canto dos lábios, perguntando:
- Então, vai viajar?
- Sim, vamos para a Inglaterra. E vocês?
– devolvi a pergunta.
- Estávamos decidindo... Quem sabe
Estados Unidos?
- É. Parece ser... Legal.
Ficamos em
silêncio por um tempo. Eu tentava desviar o olhar, mas não conseguia, não
podia. Meu corpo clamava, implorava por um contato maior com o dela.
Mordisquei o lábio inferior, olhando
finalmente em seus olhos.
- Difícil, não é? – ela perguntou,
divertida.
- Você não sabe o quanto. – eu disse
séria, mas ela ainda achava que eu estava mentindo, tirando sarro dela.
Olhou-me zombeteira e continuou:
- Sei... Até parece, Vivian! Aliás, você
gosta é de homem, não foi o que você me disse?
Virei o rosto,
sem saber o que responder. Ela tinha toda a razão de estar brava comigo.
- Foi. – sussurrei.
- É, foi o que eu pensei. – ela ia sair
do banheiro quando a segurei pelo braço, trazendo-a para perto de mim.
- Eu sinto sua falta. – sussurrei,
buscando seus olhos com os meus. Seus lábios se entreabriram, e seus olhos
brilharam. Ela estremeceu por estar tão perigosamente perto de mim.
- Muita... Arriscarei um palpite: daqui
a alguns meses verei você com uma aliança de ouro no dedo.
Fechei a cara,
estava cansanda de me fazer de boazinha e arrependida. Ela também não era uma
santa. Eu sempre fui muito calma, mas ela conseguia despertar uma força em mim
sem tamanho, uma paixão arrebatadora. E sabia me tirar do sério.
- Isso não te interessa. Já que você
namora aquela morena lá. Aposto que ela nunca foi tão boa na cama quanto eu. –
sorri triunfante.
- Não foi tão boa mesmo... Foi melhor!
Segurei em sua
cintura colando seu corpo no meu bruscamente.
- Melhor? Tem certeza? Acha que ela
realmente pode fazer melhor que eu? – disse enquanto beijava seu pescoço.
Rafaela tentava se soltar, eu sabia que ela não ia resistir aos meus toques.
- Viv... Me solta... – ela pediu. Mas eu
sabia que ela não queria que a soltasse.
Virei, deixando-a de frente para o
espelho enorme, enquanto eu ficava colada em suas costas. Segurava firme, mas
gentilmente em seus cabelos curtos e a forcei á olhar no espelho, ver a imagem
de nós duas refletida.
- Ela melhor que eu? Tem certeza? Olhe! Nós
duas juntas... Não é...
- Perfeito. – ela sussurrou.
Beijei levemente
seu pescoço, fazendo-a estremecer. Segurei em sua cintura e ela colocou as mãos
sobre as minhas. Rafa inclinou a cabeça e eu beijei aqueles lábios que tanto me
fizeram falta.
Os beijos foram
ficando mais quentes, eu a virei de encontro ao meu corpo, precisava muito
dela. Após viver alguns anos com Rafaela, tinha me acostumado ao seu cheiro, ao
seu jeito, seu corpo, seus lábios...
Fazia três anos
que não a via, nem a sentia. Eu era apaixonada por cada partícula de seu ser.
- Viv... Você não sabe como me faz
falta. – dei vários beijos em seus lábios antes de responder:
- Eu quase morri sem você. Nada é o
mesmo sem você ao meu lado. – sussurrei e voltei a beijar seus lábios.
Sentia sua pele
ferver sobre mim. Desci as mãos pela sua cintura, alisando suas pernas,
levantando seu vestido. Eu mordia seus ombros, beijava, sugava seus seios,
Deus, quase havia sucumbido diante da possibilidade de nunca mais a ver.
É engraçado o
que o medo faz com a gente, não é? Por medo, eu a havia abandonado. Por medo de
perdê-la para sempre, agora eu me rendia ao desejo de possuí-la, de tê-la só
para mim. E era por medo, que eu poderia não olhar mais para ela, desprezar.
Nossas peles em
brasa se encostavam, se esfregavam, podia sentir seus sussurros e gemidos em
meus ouvidos, suas unhas arranhando minhas costas.
- Eu preciso de você dentro de mim... –
ela sussurrou.
Desci minha mão
por entre as pernas de Rafa e com os dedos empurrei sua calcinha para o lado,
para logo depois introduzi-los dentro dela. Movimentos de vai e vêm frenéticos,
seus gemidos cada vez mais fortes, misturados á palavras desconexas.
Pode parecer um
tanto quanto... Errado, estranho ou quem sabe, insignificante, transar no
banheiro de um aeroporto. Mas naquele momento não era nada disso, pois apesar
do lugar e das circunstâncias... Fazíamos amor, por mais inacreditável que
seja.
Eu negava com
força, mas não podia negar para mim mesma.
- Vivian! – gritou ela, no ápice do
prazer.
Sorri, dando um
beijo em seus lábios. Depois a levantei gentilmente e a coloquei sentada em
cima da pia. Fui beijando sua barriga, desci para as pernas e depois mergulhei
em seu mais íntimo, sugando todo o seu mel.
Mal levantei,
ela me abraçou, com força. Percebi que chorava, soluçava. Eu acariciava seus
cabelos, sem saber direito o porquê motivo chorava.
- Viv... – ela desencostou de mim e
olhou-me nos olhos.
- Sim.
- Diz para mim... Diz que não vai
embora... Não vai subir naquele avião.
Por um momento
fiquei sem respirar, sem saber o que dizer. Respirei fundo, eu não poderia...
Não naquele momento...
- Rafa, eu... Olha, não posso. – cocei a
cabeça, desviando o olhar.
- Você não muda. Eu odeio você, nunca
mais quero te ver! Não vou permitir que você me magoe assim, nunca mais vou
permitir que você faça isso comigo!
Eu olhei em seus
olhos e pela primeira vez tive medo, muito medo. Ela falava sério, tinha o
rosto vermelho de raiva. Parabéns para mim, eu havia conseguido.
Rafaela pulou de
cima da pia e saiu correndo. Foi então que eu me dei conta, naquela fração de
segundos, que eu a perderia para sempre. Depois de tudo o que eu tinha feito á
ela, depois de tudo o que ela sofrera...
Saí correndo
atrás dela e dei de cara com aquele monte de gente novamente. Procurei por
todos os lados, quando a vi correndo em direção de Gabriel e daquela garota.
Sai correndo atrás dela.
- Rafaela! Rafaela espera! – eu gritava,
mas ela continuava correndo.
- Me tira daqui! Vamos embora! – ela
gritou para a morena, agarrando-se em seu braço.
- O que houve amor? Você está bem? O
que...
- Espera, Rafa! Me escuta! – eu disse
chegando onde eles estavam.
- Eu não quero te ouvir! Nunca mais! Sua
mentirosa, eu te odeio! Vamos! – ela começou a puxar o braço de Clara.
- O que houve Vivian? – perguntou
Gabriel, confuso.
- Rafa, vamos conversar, em particular!
Aqui não é o lugar! – eu estava desesperada.
- Não! Esse é o seu problema! – ela veio
em minha direção, apontando o dedo para o meu peito.
- Rafa, pára! Temos que conversar com
calma...
- Calma porcaria nenhuma! Você acha o
que? Que vai ficar comigo de vez em quando, apenas para um sexo casual? Vai se
ferrar Vivian! Eu tenho sentimentos sabia? Ao contrário de você! – ela gritava
para todo mundo ouvir.
Gabriel me
olhava sem acreditar, pasmo, enquanto Clara espumava de raiva com o que ouvia.
E eu estava desesperada.
- Não é isso Rafa! Você sabe! Eu...
- Você é egoísta, só pensa em você
mesma. Por isso que a gente não deu certo. Você prefere se esconder atrás de
máscaras, com medo de ser quem é. Enquanto eu sei exatamente quem eu sou, e
gosto de ser assim.
Meus olhos
estavam cheios de lágrimas. Respirávamos com dificuldade. Gabriel me enchia de
perguntas, mas naquele momento eu não ouvia absolutamente nada.
- Quer saber? Meu vôo já está saindo.
Até nunca mais, Viv. – ela saiu andando sozinha e eu a vi entrar naquele
maldito avião. Senti um enorme desespero. Havia caído a ficha finalmente.
Por causa dessa
idiotice, desse medo de ser quem eu sou, eu ia perder o meu único e grande
amor. Não, isso eu não podia permitir.
Saí correndo sem
nem dar uma resposta á Gabriel, que gritava:
- Vivian! Aonde você vai? Volta aqui!
Vivian!
Eu não parei.
Saí correndo, cada vez mais rápido. Cheguei á porta da escada do avião e havia
duas pessoas pegando as passagens, mas eu não tinha daquele vôo.
- Passagem.
- Eu... Não tenho. Só preciso conversar
com uma pessoa!
- Sinto muito, moça. Mas só embarca com
a passagem.
- Eu juro! Só preciso achar uma pessoa!
– estava completamente desesperada.
O que o amor não
faz com as pessoas hein?
- Tudo bem, mas só se for rápido. – a
aeromoça saiu da minha frente e eu subi correndo aquelas escadas e entrei no
avião, que já estava cheio. Todos olhavam para mim, curiosos. Procurei por ela,
mas como não achava, só tinha uma alternativa:
- Rafaela! Rafaela cadê você? Por favor,
é urgente! – eu só ouvi uma voz vinda de lá da frente:
- Vai embora!
Andei até lá e a vi sentada em uma das
poltronas.
- Eu preciso falar com você!
- Não temos mais nada para conversar. –
falou decisiva.
- Temos sim!
Ela olhou-me,
dando uma última chance:
- Fala então.
Olhei para todos
á minha volta, curiosos. Respirei fundo, ajoelhei em frente á ela e disse,
olhando diretamente nos seus olhos:
- Eu te amo. Me dá mais uma chance.
Ela não acreditou
no que ouviu.
- O que você disse?
Levantei-me e
disse mais uma vez:
- Eu te amo, Rafaela! E morro se não
tiver você ao meu lado! Sou uma idiota, burra e estúpida, mas finalmente
descobri que não posso te perder! Eu te amo! Fica comigo!
De repente
começou um coro dentro do avião:
- Fica! Fica! Fica!
Ela sorriu para
mim, levantando-se e me abraçando:
- Você é uma idiota mesmo!
- Mas você me ama! Prometo nunca mais te
machucar. – dessa vez eram lágrimas de felicidade que desciam de nossos olhos.
O Amor machuca,
o amor mata, o amor destrói. Mas ele também constrói. E é um sentimento nobre,
o sentimento que todos querem. Há pessoas que passam a vida buscando-o. E eu
descobri que não podemos viver sem. Ele é imprescindível em nossas vidas. E eu
tinha achado o meu amor. Nunca mais cogitaria a possibilidade de perdê-lo.
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