Capítulo 5 – O Início de Duas Vidas
Acordou
com a cabeça latejando, doendo. Estava de ressaca. Levantou-se, sentando-se na
cama. Olhou ao redor, percebendo que estava em seu próprio quarto. Como chegara
lá? Não fazia a menor idéia. Será que tudo não passara de um sonho? Não era
possível. Olhou para si mesma e percebeu que usava o vestido da noite anterior,
os sapatos estavam jogados perto do armário e a bolsa estava aberta no chão. Alguma
coisa apitava perto dela. Depois de procurar no meio dos lençóis, achou o
celular, que pedia bateria, ficara ligado a noite toda. Definitivamente não
fora um sonho.
Andou
até a cozinha, precisava desesperadamente de um café. Pegou o coador, o pó de
café e o açúcar e começou a colocar água na cafeteira. A última coisa que se
lembrava era de Margaret se despedindo dela, aquele perfume... Sorriu.
Mordiscou o lábio inferior, estava completamente feliz com a nova experiência
em sua vida monótona e chata. Falando em monótona, ainda bem que era domingo,
só voltaria ao trabalho na segunda-feira. Era garçonete em um restaurante
chique no centro da cidade. Ela trabalhava das seis da tarde até a hora em que
o restaurante fechava, lá pela uma hora da manhã. Até que não podia reclamar,
todos a tratavam muito bem incluindo o chefe e os colegas de trabalho, e o que
ganhava dava para se sustentar.
Uma
batida na porta a fez acordar dos seus pensamentos. Quem seria? Saiu da
cozinha, passando por um corredor e abriu a porta.
- Felipe? – estranho que ele aparecesse
tão cedo.
- Carmen? Você ia sair? – olhou para o
vestido dela.
- Ah, não. O que está fazendo aqui?
- Estava andando por aqui e pensei em
passar para ver como está. – ele sorriu sem jeito.
- Entre. – ela deixou que ele entrasse,
fechando a porta atrás de si. – Quer café?
- Não, obrigado.
Ele
sentou-se no sofá da sala. Ela andou até a cozinha, pegou um pouco de café para
si e voltou para a sala. Estranho, não sentia nada ao vê-lo. Os olhos castanhos
pareciam tão comuns como qualquer outro, o cabelo curto e espetado lhe dava um
ar de mauricinho convencido e o sorriso era de um cafajeste nato. Quem diria
que chorara por ele há dois dias.
- Então... Como está? – ele insistiu,
com aquele sorriso que a derretia.
- Muito bem, na verdade. E você? Ainda
com aquela tal de Marcela? – levantou uma sobrancelha com desdém.
- Estou bem. Sim, ainda. Eu só passei
para ter certeza de que estava bem, da última vez que nos vimos você estava
mal. Eu... Não queria que as coisas ficassem estranhas entre nós.
- Ah claro, principalmente depois que eu
peguei você entre as pernas dela.
- Hei eu já lhe disse, foi um mal
entendido. – ele se levantou, aproximando-se. Ela deu um passo para trás.
- Não me interessa. É passado. Pode ir
lá com ela, não me importo. – ela deu de ombros.
- Gatinha, não precisa ficar assim,
quero que continuemos amigos... – ele tentou tocar no braço dela, ela se
afastou.
- Quem sabe mais pra frente, não agora.
Além do mais, estou cheia de coisas para fazer hoje. – tomou mais um gole do
café.
- Mas é domingo! – ele levantou as mãos.
- E daí? Não posso ter meus próprios
programas que não incluem você? – ela ficou mais agressiva e ele recuou.
- Epa, não precisa brigar. Estou indo,
até mais, espero te ver ainda essa semana.
Percebendo
que ela não ia ceder, ele despediu-se dela e foi embora. Carmen suspirou fundo
e voltou para o quarto. Até que não fora tão difícil quanto pensara que seria.
Olhou no rádio relógio, dez para as onze da manhã. Resolveu que iria correr um
pouco. Trocou de roupa, pegou a bolsa, o celular, as chaves e saiu de casa. Deu
a volta no quarteirão e pegou a avenida, correndo por pelo menos uma hora, até
parar em uma praça. Adorava correr, fazia bem pra saúde e além disso ela
arrumava os pensamentos em sua cabeça.
- Carmen, querida! – uma loira de
cabelos compridos chamou seu nome.
- Melissa, quanto tempo! – andou até o
banco onde a amiga estava.
- Verdade, você não tem aparecido na
academia, está tudo bem?
- Claro, só estava muito ocupada, mas
essa semana eu volto a minha rotina. – sorriu.
- Que ótimo, então nos vemos lá. Tenho
que ir, meu filho volta da escola e preciso deixar o almoço pronto. Beijos. –
um beijo em cada bochecha e a mulher já estava indo embora.
Melissa
não era realmente amiga de Carmen, estava mais para conhecida de academia. Era
engraçada e fofoqueira, por isso não fazia parte ativa da vida de Carmen. Voltou
para casa, estava morrendo de fome. Abriu a geladeira, dando-se conta de que
ainda havia um pouco de macarronada do dia anterior. Esquentou no microondas e
pegou uma garrafa de vinho pela metade na geladeira. Um almoço perfeito!
Sentou-se em frente da televisão, sem saber o que assistir. Constantemente
pensava na boate, e mal podia esperar para que chegasse de noite. Passou o
resto do dia em frente à televisão, procurando por filmes que a entretivessem.
Nunca fora tão
vaidosa com a própria aparência, mas passou mais de meia hora escolhendo com
qual roupa sairia. Tomou um bom banho de chuveiro e depois se trocou, colocando
uma calça jeans justa e uma blusa frente única preta. Pegou uma bota de salto
fino que estava guardada há muito tempo e usou-a. Caprichou um pouco mais na
maquiagem e usou seu perfume preferido. Olhou-se no espelho, com um sorriso no
rosto. Seu celular começou a tocar. Olhou no visor, Felipe, era o nome que aparecia na tela. Com um sorriso, apertou o
botão desligando o celular.
Parou
o carro em frente à boate. Dirty Girl
Night Club, era até irônico que esse fosse o nome do lugar. Era como se
agora ela tivesse duas vidas, uma de dia, e uma de noite. Sorriu com esse
pensamento, passando pelas duas guardas e entregando-lhes uma nota de dez
reais. Subiu as escadas e a música ambiente invadiu seus ouvidos. Foi direto ao
bar e pediu uma taça de vinho, de todas as bebidas, a que mais gostava era
vinho. O cara do bar não se surpreendeu ao vê-la de novo por ali, entregou-lhe
a bebida e reservou seus comentários para ele mesmo.
- E aí gata, me concede uma dança? – a mulher
mais bonita que ela já vira apareceu em sua frente. Uma negra com os cabelos
armados e cacheados, sorriso largo e olhos que brilhavam.
- Porque não? – ela sorriu, descendo do
banco onde estava sentada.
Começou
a dançar junto com a moça, que segurava possessivamente em sua cintura. Deixou
que a música a levasse, enquanto deslizava pelo corpo incrivelmente perfeito
daquela mulher. De vez em quando sentia os lábios carnudos em seu pescoço e se
arrepiava inteira. Logo, outra mulher juntou-se à elas, dessa vez vindo de
frente e dançando sensualmente. Suas coxas entre as coxas de Carmen deixaram-na
completamente molhada e com desejo.
- Está se divertindo? – aquela voz...
Ela virou-se rapidamente.
- Um pouco... – sentiu seu coração pular
ao sentir o olhar de Margaret por todo o seu corpo. As duas moças pararam de
dançar com ela e foram dançar uma com a outra.
- Não sabia se ia mesmo aparecer hoje ou
não. – ela estava simplesmente deslumbrante em um vestido curto e roxo, tomara
que caia.
- Eu não vou sair daqui tão cedo. – a
morena riu.
- Bom saber... – a ruiva aproximou-se,
colando seu corpo no dela.
Começaram
a dançar no ritmo da música e Margaret beijava o pescoço de Carmen, dando
pequenas mordidas. Sussurrou em seu ouvido, com a voz baixa:
- Hoje teremos algo diferente por
aqui... Em uma das salas, terá algumas moças dançando Belly Dance. Se quiser
assistir... – mordiscou a ponta da orelha da morena, que gemeu.
- Eu quero, já ouvi falar dessa dança,
mal posso esperar para ver de perto.
Margaret
sorriu maliciosamente e seus olhos brilharam. Ela arrancou um beijo de Carmen,
deixando-a sem fôlego. Todos que estavam por ali já haviam entendido a
mensagem, Carmen agora estava definitivamente com Margaret. Com certeza que ela
poderia sair ou transar com qualquer um que quisesse da boate, mas ninguém
poderia machucá-la ou coisa do tipo, ela era protegida de Margaret, era
propriedade dela. Elas passaram pelo bar e tomaram mais uma taça de vinho. O
barman olhou para Margaret, e balançou a cabeça silenciosamente, enquanto as
via sair rindo.
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