Capitulo 5 – Aula de Violão
- Hey, Priscila! Vamos? – Clarice me falou em frente á uma moto preta, com as chaves na mão. Eu olhei-a incrédula.
- Eu não subo nisso!
- Não tem nada demais! Eu não vou deixar você cair.
- Tem certeza que é o único jeito?
- Não enrola que eu já estou atrasada! – ela sentou-se na moto e eu sentei-me atrás dela, segurando em sua cintura.
Colocamos os capacetes. Eu estava morrendo de medo, então me agarrei á ela com todas as forças. Começamos a andar e o vento batia em meu rosto, trazendo seu perfume para mais perto de mim, se é que isso é possível. Eu poderia fazer poesia somente com aquele momento, dos seus cabelos pretos batendo em meu rosto, seu perfume me embriagando e sua pele sob a blusa que eu conseguia sentir. O tempo que demoramos a chegar lá eu nem senti. Descemos da moto e Clarice pegou seu violão, depois nos encaminhamos para o local.
Havia várias salas e em uma delas, nós entramos. Vários alunos estavam lá, alguns sentados e outros no chão mesmo, dedilhando e testando as cordas dos instrumentos.
- Pri, sente-se aqui. – ela me apontou uma cadeira, com aquele sorriso irresistível. Eu me sentei e ela puxou um banco ao meu lado.
A aula passou normal, eu ia olhando as pessoas que tocavam seus violões, prestava atenção, me deixava levar por aquela melodia que me levava nas nuvens. Acabada a aula, o professor deixou um tempo livre e então Clarice virou-se para mim:
- E então? O que achou?
Eu a olhei profundo nos olhos. E respondi, instigando-a:
- Ouvi muito pouco para opinar.
Em seus lábios se formou um sorriso, ao qual ela respondeu:
- Se esse for o problema, já está resolvido. Toco mais uma música para você.
- Jura? – eu sorri em frente á possibilidade de uma música só para mim.
- Claro. – ela ajeitou o violão no colo e começou a pensar em uma música.
Começou a dedilhar algo nas cordas, para começar a tocar uma melodia. Meus olhos se prenderam naquela garota á minha frente. Impossível desviar o olhar. Concentrada na música que tocava, os cabelos negros desciam docemente pelo seu rosto. A magia então aconteceu quando ela começou a cantar os primeiros versos.
“Eu pensei que o tinha visto na noite passada
Mas era só um flash de luz
Um passo de anjo
Mas eu me recordo de ontem
A vida antes de você partir
E nós estávamos rindo
Nós tivemos a esperança e agora ela acabou”
Mas era só um flash de luz
Um passo de anjo
Mas eu me recordo de ontem
A vida antes de você partir
E nós estávamos rindo
Nós tivemos a esperança e agora ela acabou”
Aquela voz, simplesmente me hipnotizava. Era doce, meio rouca e totalmente sentindo a música que cantava. Naquele momento, tudo ao meu redor voltou a sumir, aquela era a visão do paraíso para mim. Talvez eu já estivesse hipnotizada á partir daí, ou talvez de muito antes, não tem como saber. Ela passou para a outra estrofe:
“E uma vez eu poderia vê-lo claramente
Quando você estava aqui comigo
E agora de algum modo todos que foram deixados
são partes de um sonho
E eu estou perdida em noites agitadas
Apenas um sussurro da vida que nós criamos
Queda das sombras
Eu estou chamando...”
Quando você estava aqui comigo
E agora de algum modo todos que foram deixados
são partes de um sonho
E eu estou perdida em noites agitadas
Apenas um sussurro da vida que nós criamos
Queda das sombras
Eu estou chamando...”
Ela cantava com tanta paixão, tanto sentimento... Chegava a ser palpável! Como conseguir explicar o que senti naquele momento? Simplesmente não há explicação. Ela me enfeitiçou com seu jeito de rockeira. E eu poderia ver o que ela escondia dentro de si... Carregava muros que ela construiu, barreias as quais eu iria desbravar e derrubar.
Como tudo que é bom sempre tem um final, ela parou de cantar. Olhou-me e eu senti como se o mundo houvesse desabado ao meu redor.
- Então? O que achou?
- Foi... Foi perfeito!
- Que bom que gostou! – ela sorriu para mim. – Bom... Acho que estamos sozinhas...
Só então nos demos conta que todos já havia ido embora, sobrando somente nós duas e a magia que nos envolveu. Nós, sim. Eu sei que ela também sentiu.
- Vamos então. – eu disse sorrindo, mas não queria ir ainda...
Ela levantou-se guardando o violão. Saímos do lugar e eu tive que entrar naquela coisa novamente. A única vantagem era me agarrar á sua cintura.
- Quer que eu te deixe em casa?
- Pode ser. – eu fui indicando o caminho para ela. Chegando em casa, descemos da moto e nos encaramos.
- Está entregue.
- Obrigada. Por tudo. – eu sorri. – Amei te ouvir tocando hoje.
- Também adorei o dia. Não vamos perder contato. Te ligo.
- Me liga?
- Claro. – e então, me deu um beijo de despedida na bochecha.
Confesso que se demorou um pouco nesse ato, que eu amei. Sorri tímida e ela subiu na moto, indo embora. Eu não poderia perder mais ela, aliás, eu sabia que a veria de novo.
Nenhum comentário
Postar um comentário