A última lágrima. A última. Ela jurava que seria a última. A mais dolorida, a mais salgada, a mais estúpida. Suas íris negras registravam pela última vez o contorno daquele corpo másculo, do terno sempre passado, a gravata sempre arrumada, o sapato sempre engomado. Com o rosto ainda ardendo pelo tapa que levara, ela segurava o choro, apertava os lábios, ele não podia vê-la chorar. Não poderia sentir esse prazer. Ah! Como ela queria que fosse diferente! A chuva caía por sobre o seu corpo intacto, de coração machucado e alma ferida, e ali ela ficou, durante minutos, enquanto assistia ele ir, para nunca mais voltar. Engoliu o orgulho, a dor, a mágoa, que carregaria para sempre, ao ver o seu único e tão amado pai, abandoná-la, com ódio e asco no olhar. As palavras recém-ditas ainda doiam-lhe nos ouvidos, retumbando em sua cabeça, ela nunca esqueceria do que ele dissera... "Eu não tenho mais filha. Prefiro que você morra, do que ter que lhe entregar nos braços de outra mulher. Se é essa vida nojenta que quer levar, nunca mais vá atrás de mim, você morreu para mim... mim... mim..."
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