Capítulo 13 - Arriscar
Os primeiros raios de sol entravam pelas grades da janela, iluminando os dois corpos enrolados naquela cama. Sally olhava para o teto, pensando, tentando entender como tudo acontecera. Ela teve a oportunidade de fugir, sair correndo, pegar as chaves e sumir. Mas ainda estava ali. Por quê?
Seus olhos pousaram no corpo moreno colado ao seu. Sorriu, sabia exatamente o porquê de não ter ido embora. Apesar de não querer admitir, ela sabia. Existia muita coisa entre elas que nem elas mesmas podiam entender. Virou-se, encostando a cabeça em Lola e o sono a dominou.
Sim agora estamos comigo, narrador. Mostrei-lhes o lado de cada uma das duas protagonistas, agora está na hora de contar do meu ponto de vista! Eu sei, sou chato por fazerem com que vocês vejam os dois lados da história, já que assim fica mais difícil de escolher um lado como verdadeiro. Mas deixem isso para lá. Continuem acompanhando a história e o seu desenrolar. Só... Esqueçam que estou aqui!
- Que diabos está acontecendo aqui? – gritou o capitão, Jack.
O grito ecoou por entre as paredes das celas, fazendo com que Lola levanta-se de um pulo, assustada. Sentou-se e olhou à sua frente: Jaque e Jack. E o terceiro provavelmente era o advogado designado para cuidar do caso de Sally.
- Não é nada disso que o senhor está pensando! – ela balbuciou, rapidamente pegando suas roupas e cobrindo sua nudez.
- Cale-se! – seu rosto redondo estava vermelho de raiva, não parava de suar. – Vista-se! E apresente-se na minha sala em 10 minutos! Nunca pensei que você... Não quero nem ouvir!
Saiu pisando duro, enquanto o advogado seguiu atrás dele, conversando. Jaqueline olhou para as duas ali dentro da cela e balançou a cabeça para um lado e para o outro.
- Você deveria checar suas mensagens. – disse olhando para Lola, antes de sair.
A morena levantou-se, pegando suas roupas. Sabia o que viria pela frente. Depois de tanto tempo como policial... Fazer uma besteira daquela! Colocar sua carreira em risco por tão pouco...
Olhou para Sally, que continuava sentada, no mesmo lugar. Mas seus olhos azuis tinham aquele brilho sarcástico e estavam duros como gelo. Colocou a mão na cabeça, sem saber o que fazer. Acabou de se vestir e saiu da cela sem nada dizer. Ao passar pelas celas ocupadas, ouviu gritos:
- Ae a noite foi boa hein? – seguidos de gargalhadas.
Fingiu não ouvir e continuou a andar. Passou pelo escritório e todos os olhos se convergiram para ela. Entrou diretamente na sala do capitão.
- Feche a porta. – ela obedeceu e sentou-se na cadeira em frente a ele.
- Detetive Lola Martins, dez anos como detetive. O que foi aquilo que eu vi hoje? Você já esteve em tantas situações, disfarçada. Prendeu bandidos, estupradores, quadrilhas, os mais perigosos bandidos, recebeu condecorações, recomendações... E uma brincadeira dessa irá manchar sua ficha?
Os olhos dela estavam baixo, como se brincar com o anel em seu dedo fosse mais interessante do que o discurso de Jack.
- Olhe para mim. – ela obedeceu. Encarou os olhos cansados, de um cinza escuro.
- Capitão, eu...
- Lola Lola. – disse ele, suspirando. – Quanto tempo nos conhecemos? Como você foi fazer uma bobagem dessas?
- Ai Jack, eu gostaria de saber. Com ela é diferente.
- Mas Lola, isso é o seu trabalho. Não sua vida pessoal. Você sabe muito bem disso. E hoje, o John, advogado designado para cuidar do caso dela, viu vocês duas nuas dentro da cela. Não precisa muito para adivinhar o que vocês fizeram. O problema não foi nem esse! Você dormiu com a suspeita dentro da cela, além de que ela poderia ter lhe roubado as chaves e fugido a qualquer minuto! Você sabe que eu poderia muito bem te tirar do caso, além de te dar uma bela de uma suspensão.
- Eu sei. Eu... Argh! Gostaria que isso não tivesse acontecido! Como eu pude ceder à ela? Meu Deus! Aquela mulher me prende de um jeito... Inexplicável! Mas mesmo assim, sei que não é justificativa para a loucura que eu fiz.
- Exatamente. Mas eu conversei com o advogado e ele está disposto a não levar o caso adiante e não reclamar de você, se... Retirarmos todas as acusações da senhorita Sally, além de uma retratação pública de pedido de desculpas.
- Isso não! – bateu na mesa com força. – Seriam meses de trabalho jogado fora!
- É o jeito. – disse com calma.
- Eu não aceito! Tem que haver outro jeito!
- Ou é isso, ou você irá arriscar e levar isso adiante. Colocará sua carreira em jogo, pois o advogado não deixará barato. Isso vale à pena?
Ela lembrou-se daqueles olhos azuis que a olharam pela última vez dentro da cela. Frios, duros como gelo, sem qualquer tipo de emoção. Decidiu-se. Não interessava se o crime que ela cometera fosse pequeno. Tinha testemunhas, os próprios jovens e ex-alunos dela, de que ela dormira com eles.
Sally era o tipo de mulher que não se importava com os outros, só consigo mesma. E Lola estava cansada daquilo. Não é porque alguém não cometeu assassinato que o que fez não é um crime. Continua sendo, em menor escala, mas ainda assim é crime. E não iria deixá-la sair impune.
- Agora eu vou até o final. – após essas palavras, saiu da sala fechando a porta.
Jack suspirou fundo, ajeitando-se na cadeira. Sabia que Lola se meteria numa tremenda enrascada e que era quase certo de John acabar com ela no tribunal, mas também sabia o quão teimosa ela era, e que nada a faria mudar de idéia.
Lola passou pela sua mesa, pegando sua bolsa e deu de cara com John, parado atrás dela.
- E então, acordo feito?
- De jeito nenhum! – o sorriso dele desapareceu, mas logo voltou ao rosto:
- Tudo bem, se é assim que você quer, é assim que será. Mas se eu fosse você, nem viria trabalhar amanhã. – sorriu triunfante e saiu do escritório.
- Merda! – gritou, sentando-se na cadeira, exausta.
Enquanto isso, dentro da cela, Sally tinha o olhar perdido. Sentia-se sozinha pela primeira vez. Sentia-se vazia, oca. Todo o brilho, poder e sensualidade que ela exalava tinham sumido como num passe de mágica. Pela primeira vez sentia medo.
Sabia que tinha errado em dormir com os alunos. Não que fosse contra a vontade deles, mas... Além de antiético, era crime. Eles eram menores de idade. E as mães... Eram o pior. Nunca escutavam os filhos dizerem que fora consentido, para elas, ela era uma mulher terrível que tirara a virgindade de seus preciosos garotinhos, e garotinhas.
No fundo, não era aquilo que a preocupava. Sabia que Lola iria até o fim. Já a conhecia. Sabia que seu advogado era ótimo e que provavelmente iria ganhar, ou não. Estava com essa dualidade de sentimentos dentro de si. Mas o pior deles, talvez, fosse querer vingar-se de Lola, fazê-la sofrer, e ao mesmo tempo... Desejar que a tivesse conhecido em outra circunstância.
Pois apesar de tudo demonstrar seu ódio e desprezo por Lola, somente ela e a própria morena sabiam que no fundo, ela ainda confiava naquele sentimento louco que as unia. Ainda esperava... Esperava para que Lola não a deixasse sozinha, como todos deixaram.
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