Capítulo 11 – Outro Lado da Verdade
Não queria levantar a cabeça. Não queria olhar dentro de seus olhos. Não queria enfrentá-la. Seu grito me fez olhá-la.
- OLHA PARA MIM! – a voz dela estava estrangulada, zangada, amargurada.
Respondi com a voz baixa, mas eu sabia que absolutamente nada do que eu dissesse poderia fazê-la mudar de idéia, nem muito menos entender, compreender. Era imperdoável. E eu sabia, ela não iria perdoar. Não iria esquecer.
- Isso vai passar, ela vai voltar atrás. – disse tentando me confortar.
- Você sabe que não. – disse baixo.
Peguei minhas roupas, entrei no banheiro e me troquei. Depois, disse para Jaque que eu iria sair um pouco, para ela não se preocupar. Mais tarde, eu teria que interrogar com a Sally, continuava sendo meu trabalho.
Fui andar um pouco, como estava sem carro. Precisava esfriar a cabeça. Eu sei, ninguém irá me perdoar, está todo mundo querendo me matar, mas quer saber a verdade? Não estou nem aí. Por que a única pessoa que importa, irá me odiar pelo resto da vida.
Eu assistia seriados americanos de criminalística, detetives, policiais, quando criança, e simplesmente adorava! Mas agora eu realmente entendo o quão difícil é ser policial algumas vezes.
Temos algumas obrigações que simplesmente temos que cumprir, não importa o quão difícil e doloroso possa ser, temos que fazer. São ordens. Assim como em um dos episódios, a detetive teve que prender a vítima por prostituição para que ela não se recusasse a identificar o sujeito. A promotora mandou.
Por mais que ela não quisesse, por mais que a garota a odiasse e achasse que ela era uma filha da mãe mentirosa, ela teve que prender. Dessa e de várias outras vezes, em outros casos. Essa foi a primeira vez que passei por isso.
Voltei para a delegacia. Lá eu tinha uma troca de roupa dentro do meu armário. Coloquei uma calça jeans, camiseta, minha jaqueta. Prendi o cabelo para trás, em um coque. Coloquei o distintivo preso no cinto da calça.
Respirei fundo, em frente à sala de interrogatório. Abri a porta. Jaqueline estava em pé, em frente à uma mesa, do outro lado Sally estava sentada, cabeça baixa. Encontrava-se vestida. Jaque balançou a cabeça, saiu da sala, deixando-nos sozinha.
- Sally Oliveira. Professora de Português do Ensino Médio. Trinta e cinco anos. Lecionou em várias escolas, e nesta última está há oito.
- Acha que sou tão idiota que não sei da minha própria vida? – disse ríspida, mas ainda olhando para as mãos, em cima da mesa.
Aproximei-me, encostando-me na mesa, quase sentando, olhando para a ficha dela. Ignorei seu comentário.
- Sua ficha está limpa. Não há nada, nadica de nada que faça com que você mereça estar aqui. Somente... Ser acusada de abuso de menores. Por quê?
Ela continuou calada. Ali era meu trabalho e eu era uma detetive, não podia me esquecer disso. Quando usava aquele distintivo, não era Lola, e sim a Detetive Brians. Paola Brians.
- Você pode ter todas as pessoas que desejar. Homens, mulheres, de diferentes idades. Por quê se envolver com adolescentes? É inadmissível que uma aliciadora de menores seja professora de adolescentes. Perderá seu emprego. Talvez chega a pegar pena, talvez não, depende do Juiz. Você...
- CHEGA! Cala essa maldita boa! Não quero ouvir você! – de repente ela gritou, levantando a cabeça e encarando meus olhos.
Continuei encarando-a. Ela tremia de raiva. Chegou a levantar-se, apoiando-se nas mãos estendidas sobre a mesa.
- Você se acha muito importante nessa sua fantasia de policial. Pois fique sabendo que eu tenho certeza que você não passa de uma idiota e mísera garota mimada que entrou agora para o trabalho, e quer fazer tudo certo para que tenham orgulho de você. Isso é patético! Ter todo esse trabalho de merda de disfarce só para pegar uma mulher como eu, que nunca tive nada contra a lei, sendo que os bandidos de verdade estão aí fora! Realmente, não sei por que dei tanta bola para você.
Terminou com um sorrisinho irônico no rosto. Sentou-se novamente, olhando para mim. Aquela mulher sabia como acabar com os outros.
- Quer saber? Acho que um tempinho atrás das grades vai te fazer bem. – sorri.
Virei às costas e saí da sala. Eu estava a ponto de explodir! O que ela sabia da minha vida? NADA! Absolutamente nada! Não tinha o direito de falar daquele jeito comigo. Tinha vontade de falar umas boas verdades na cara dela, mas eu sabia que não era o momento ainda. Já que ela queria jogar, eu iria jogar.
Atravessei a delegacia, indo pegar um pouco de café quente, precisava. Jaque chegou ao meu lado com um sorrisinho no rosto.
- Selvagem ela, hein?
- Haha. Você não imagina o quanto! – disse tomando um gole da xícara.
- Acha que vai dar em alguma coisa muito grave?
- Jaque, você sabe como é o sistema. Mulher bonita, professora, nunca teve reclamações graves, não tem antecedentes criminais. Provavelmente ela terá que pagar alguma coisa ou ser condenada por delito leve e pegar condicional. Não faço idéia, mas tenho certeza que será super leve.
- Mas ela não sabe disso, certo?
- Com toda a certeza. – disse sorrindo.
Iria fazê-la sofrer um pouquinho. Não era assim que ela queria? Ao contrário do que ela pensava, eu não era uma garotinha. Tinha vinte e cinco anos. Já sabia o que queria e não era uma santa. Acho que sou boa em disfarces, certo? Boa em contracenar. Não era por menos, depois de ajudar a prender três traficantes, dois estupradores, além dos bandidos comuns, gangues diversas, isso era fichinha.
Só tinha esquecido o quanto aquela mulher sabia me tirar do sério! Mas, eu iria lembrar, e muito bem, quando fosse até a sua cela, naquela noite...
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