O auditório estava escuro, as luzes haviam sido apagadas e só uma fraca iluminação aparecia sobre o palco. De repente, ela entrou, quieta, séria. Postou-se no meio do palco, com a guitarra nas mãos, os cabelos negros desalinhados por sobre o rosto. Por um momento cheguei a prender a respiração, ansiosa demais para aquela apresentação, que eu secretamente assistia. O primeiro acorde da guitarra foi tocado, e de repente enlouquecida, começou a tocar. Aqueles acordes, aquele som, aquele ritmo, incendiavam minha alma, faziam meu coração bater no ritmo da batida enlouquecida, sentia todo o meu ser sendo invadido pela onda do poderoso som que ela tocava. Seus cabelos balançavam para todos os lados, enquanto seus olhos fechados aproveitavam o momento. Ela entregava-se de corpo e alma, estava totalmente aberta, desprotegida, para quem quisesse vê-la. E eu a via. Sentia todo o poder que emanava de seu ser, sentia invadir-me, poluir-me, envenenar-me, embebedar-me. Tonta de amor fiquei, embebida no ardor da paixão, desejei que aquela mulher pudesse me ver, pudesse saber o quanto eu compartilhava daquele sentimento mútuo. Então, quase ao fim da música, ela caiu de joelhos para frente, rasgando os últimos acordes, enquanto abria os olhos, mirando diretamente as minhas íris verdes. Mergulhei naquele mar negro que eram seus olhos e perdi-me dentro daquela profundidade sem volta.