Capítulo 26 – Sempre o Destino
Já fazia
alguns meses que eu estava com o Diego, ele era um garoto incrível! Dávamos-nos
muito bem, e pelo menos ele estava me fazendo feliz, ou era o que eu queria
acreditar. Eu não falava mais em Clarice, para a alegria de minha mãe, mas não
podia deixar de pensar nela. De vez em quando conversava com Carla e perguntava
como ela estava. Carla respondia que estava cada vez pior, triste, chateada,
magoada. E eu queria me bater por dentro ao saber que eu era a causa da
tristeza dela, por eu ter sido covarde, mas não fazia absolutamente nada para
ajudar.
Não sei, mas
acho que talvez o destino trama algumas coisas contra nós, pois aconteceu que Diego
ficou atrás de mim querendo que eu fosse passar o fim de semana na casa dele em
nossa antiga cidade, mas eu ainda tinha receio de ver Clarice, não sabia o que
eu iria fazer se a visse de novo, depois de tanto tempo.
- Vamos amor, por favor! – Diego
abraçava-me por trás beijando meu pescoço.
- Não, eu não queria ir, tenho
tanta coisa pra fazer em casa e...
- Sua irmã te ajuda. Por favor,
vamos! – ele insistiu tanto que eu resolvi ir.
- Okay, tudo bem, eu vou!
Na noite de
sexta-feira chegamos em nossa cidade, resolvi ficar na casa dele, não poderia
voltar para a minha casa assim, do nada. Tinha medo das lembranças que poderiam
voltar também, assim como os fantasmas do passado. Se bem que de nada adiantou,
as lembranças vinham sem que eu precisasse chamá-las.
No sábado de
manhã acordei lá pelas dez horas e fui comprar pão para tomarmos café da manhã.
Vesti um vestido rosa claro simples, e no pé minha rasteirinha, e fui a pé até
a padaria, que não era muito longe. Quando cheguei lá pedi alguns pães e
enquanto esperava, olhava o lugar a minha volta, até deparar-me com ela
entrando na padaria.
Estava com uma
calça jeans e camiseta preta, chinelo nos pés. Um rabo de cavalo prendia seus cabelos
negros, a franja vermelha caindo por sobre os olhos. Tinha um aspecto cansado,
parecia que tinha envelhecido alguns anos, mas quando levantou a cabeça e seus
olhos encontrou-se com os meus, senti um arrepio por toda a espinha. Seus olhos
negros brilhavam como dois diamantes negros sob a luz do sol, seus lábios
abriram-se num sorriso, enquanto eu sorria timidamente. Não tinha mais como
ignorá-la, seria impossível.
- Oi. – ela disse, tímida,
chegando perto de mim.
- Olá. – respondi da mesma
maneira.
- Quanto tempo... – seus olhos
passavam por todo o meu corpo.
- É verdade. E como você está? –
ela voltou a olhar para mim, eu odiava aquela maneira com que ela me despia com
os olhos, pois me fazia estremecer da cabeça aos pés.
- Bem e você?
- Bem também. – a moça
entregou-me o saco com os pães e eu fui pagar no caixa. Não queria entrar em
uma conversa mais íntima.
- Você voltou para cá? – ela
perguntou-me com uma esperança no olhar, que cortou-me o coração.
- Bem... Não. Vim para ficar o
final de semana, só porque o Diego insistiu muito. – disse muito sem graça, e
vi quando o brilho em seus olhos foi apagando-se e seu sorriso desfazendo-se.
Senti uma dor em meu coração.
- Ah sim, desculpe-me. – ela
baixou os olhos um segundo e depois disse, sorrindo timidamente:
- Se precisar de qualquer
coisa... Sabe onde me encontrar. – e andou até o balcão para pegar os pães.
Paguei a conta e já ia saindo quando virei dizendo:
- Clarice... – ela olhou-me e
então eu disse, antes de ir embora:
- Adorei te ver. – não deixei que
ela respondesse, sai pela rua pegando o rumo da casa do Diego, mas eu ia
sorrindo, feito uma menina que encontra o paquera.
Só vi o quanto
havia sentindo a falta dela quando a vi, em minha frente, na padaria. Seus
olhos, sua boca, seu rosto, o jeito como prendia o cabelo... Essas pequenas
coisas que fazem a diferença.
Cheguei na
casa dele e coloquei os pães sobre a mesa, Diego já tinha acordado e feito um
pouco de leite para nós dois, e café para ele. Sorri instantaneamente, quase
podia enxergar Clarice a minha frente, mas eu sabia que não era ela.
- O que houve Pri? Você está
sorrindo. – ele perguntou-me dando risada.
- Nada. Vamos comer que estou
morrendo de fome. – respondi sorrindo.
Enquanto
tomávamos café da manhã, Diego me disse, entre uma mordida e outra no pão:
- Eu liguei para a Carla e
combinamos de jantarmos na casa dela hoje a noite, e parece que aquela sua
amiga vai... Como é mesmo o nome dela? Ah sim, Clarice! – eu engasguei ao ouvir
aquele nome. Diego bateu em minhas costas perguntando se eu estava bem.
- S-sim, estou. – disse
recuperando-me. Mas que porcaria, com tanta amiga minha, porque ele tinha que
ter chamado justo ela?
- Mas, assim, tão de repente?
- Oras, pensei que você gostaria
de rever sua grande amiga Carla, faz tempo que não a vê, não é?
- Ah... Claro. – respondi
baixando os olhos. Continuei comendo, mas apesar de estar com medo daquela
noite, por dentro eu sorria de felicidade, ia vê-la novamente em menos de 24
horas! Que loucura! Seria coincidência? Bom como Carla dizia... Vai saber.
Depois de
comer, Diego disse que ia sair um pouco e logo voltava. Eu aproveitei que ele
saíra e fui até o quarto, troquei de roupa e peguei minha bolsa, tinha certeza
de que caminho tomar. Peguei um ônibus e depois de uns minutos, ele parou na
rua da minha casa. Peguei as chaves e entrei. O cheiro dela daquela casa
invadiu-me as narinas, fazendo minha cabeça fervilhar de lembranças nossas.
Andei por toda
a extensão da sala, olhando para os porta-retratos, passando as mãos por sobre
os móveis, sorrindo de saudades daquele lugar.
Entrei por fim
em meu quarto, e sentei na cama olhando em volta, com as saudades invadindo-me
o peito. Meu coração batia acelerado, enquanto levemente minha mão segurava o
colar que eu levava em meu pescoço. Mordi os lábios deitando em minha cama e
sentindo o cheiro dela nos lençóis, provavelmente ela ia de vez em quando a meu
apartamento, por isso seu cheiro. E foi então, que avistei o meu violão
encostado na parede, provavelmente cheio de poeira de tanto tempo parado.
Levantei-me
com os olhos colados naquele instrumento, uma vontade incontrolável de tocá-lo
invadiu-me. Fui até lá e segurei o violão em minhas mãos, sorrindo
instantaneamente. Voltei a sentar na cama e dedilhei os dedos por suas cordas,
enquanto lembrava de Clarice tocando para mim. Então, foi inevitável não tocar
uma música que eu havia escrito para ela, mas tocara uma vez só, com medo das
lembranças dela. Mas, como já estava ali mesmo, não faria diferença.
Comecei a
tocar a melodia e sentir a música invadir meu corpo, sacudir-me, fazer-me
tremer. Minha voz começou a
cantar algumas palavras:
“My gift is my song and this
one's for you
And you can tell everybody this
is your song
It may be quite simple but now that it's done”
It may be quite simple but now that it's done”
Podia ver
claramente os olhos negros vivos olhando-me enquanto brilhavam, e seu sorriso
deixando o ambiente mais feliz. Sua presença era quase palpável, apesar de eu
estar sozinha ali no quarto. Não tinha como negar que eu ainda amava-a mais que
tudo, que ela era o amor da minha vida, não importava quanto tempo passasse.
“I hope you don't mind
I hope you don't mind that I put down in words
How wonderful life is now you're in the world”
I hope you don't mind that I put down in words
How wonderful life is now you're in the world”
Quando acabei de cantar a música,
deitei novamente na cama e deixei que as lágrimas rolassem dos meus olhos. Como
eu sentia a falta dela! Era muito grande a minha saudade, e vê-la naquele dia,
fez cair todas as barreiras que eu havia imposto com o tempo. Em apenas uns
segundos, ela conseguiu o que jamais alguém conseguiria em anos.
Acabei voltando para a casa dele uma
hora depois. Quando me perguntou onde eu estava, respondi que tinha saído para
dar uma volta. Passou a hora do almoço, almoçamos ali mesmo e ficamos vendo um
filme. Quando deu mais ou menos umas seis e meia, levantei-me e fui tomar
banho, pode parecer vaidade, mas queria estar linda para quando Clarice me
visse. Enquanto estava em baixo do chuveiro, com a água caindo sobre meu corpo,
tocavá-me de olhos fechados, imaginando Clarice abraçando-me. Meu corpo ardia
em febre, tanta era a falta de seu corpo, seus beijos, abraços, sua voz em meu
ouvido. Suspirava de frustração ao saber que seria impossível que ela me
tocasse tão logo.
Fui para o quarto quando acabei o
banho e escolhi colocar um vestido vermelho, com um decote em v mostrando um
pouquinho dos seios. Fiz uma escova nos cabelos vermelhos deixando-os soltos
por sobre os ombros, e nos pés coloquei uma sandália de salto alto. Usei o
perfume que ela adorava e coloquei uma maquiagem leve, dando bastante atenção
aos olhos, sabia que ela os adorava. Suspirei fundo, a hora estava chegando.
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