Perdas

Olhou de baixo da cama, no vão do sofá e da mesinha, atrás da estante, dentro do armário, e nada.

Não sabia como tinha sumido. Onde tinha ido parar?

Não era possível, estava ali na frente dela naquele instante! 

Depois de tanta procura sem nada achar, desistiu.

Saiu, sentou no bar, pediu uma bebida e lá ficou.

Com aquela cara de perda, perda de algo importantíssimo.

Alguém sentou ao lado dela.
"Posso lhe pagar uma bebida?"

Ela levantou o próprio copo, com um sorriso de derrota no rosto.

"O que houve, moça?"

A voz gentil perguntou. Ao passo que ela respondeu:

"Eu perdi minha vida."

O olhar preocupado. 

"Que pena, meus pesames. Mas o que foi? Morreu alguém? Algum acidente? Perdeu algo de valor?"

Ao passo que ela respondeu:

"É, mais ou menos isso. Meus livros, perdi todos, não sei onde estão."

"E o que tem isso a ver com livros?"

Intrigado perguntou e triste ela respondeu:

"Vivo a vida dos livros, cada pedacinho de mim está contigo em cada uma das linhas, das capas, das páginas. Se eles se perdem, eu também me perco."

O homem olhou-a de soslaio e resolveu que era hora de ir embora. Olhou o relógio, derramou uma desculpa qualquer e lá ficou ela. Sozinha.

Chorosa. Esquecida. Perdida.

Sem esperança, fantasia ou magia.

Uma pessoa comum.

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