Capítulo 27 – Já É Hora de Lutar
Os meses passaram e eu não falava com Priscila fazia um bom
tempo, mas nunca parava de pensar nela. Ficar longe das lembranças era impossível,
por isso ia sempre ao apartamento dela para relembrar. Sei que pode parecer uma
paranóia, ou que pelo menos eu deveria resistir... Só que eu a amava com todas
as forças, não podia e não queria ficar longe, acreditava que um dia ainda iria
vê-la novamente. A cada dia que passava as coisas iam melhorando, acostumei-me
a ficar na minha, nem tão feliz nem tão triste, andava ás vezes de mau humor,
mas já estava melhor da depressão.
O engraçado é como nós não sabemos o que o destino pode
tramar contra gente, não é? Pois aconteceu que, depois de mais ou menos uns
dois anos sem qualquer notícia de Priscila, eu tive uma grande surpresa...
Acordei num sábado de manhã e fiz um café para mim, tomei
um gole e descobri que não tinha pão em casa, como a padaria não era muito
longe, decidi sair para comprar. Coloquei uma calça jeans, blusa preta simples
e fui de chinelo mesmo, só prendi os cabelos em um rabo de cavalo
displicentemente, peguei as chaves de casa e saí. Andei alguns quarteirões e
então entrei na padaria, quando senti um tremor pelo meu corpo todo, era como
se um raio tivesse me atingido.
Não podia acreditar! Pisquei os olhos várias vezes, mas eu
realmente estava encarando aqueles doces olhos castanhos, os olhos de Priscila.
Ela olhou-me reconhecendo-me, como eu queria correr e abraçá-la! Beijá-la,
saciar a saudade que apertava meu peito! Mas, preferi não ser afobada e acabar
estragando tudo, fazia muito tempo que não nos víamos, por isso, apenas sorri,
sem conseguir conter a felicidade em revê-la. Fui retribuída com um sorriso
tímido, por isso me aproximei dela, tomando a iniciativa:
- Oi.
- Olá. – ela respondeu da mesma
maneira.
- Quanto tempo... – não pude me
conter: olhei-a da cabeça aos pés, não havia mudado muito, para mim ainda
estava tão linda quanto antes, talvez até mais!
- É verdade. E como você está? –
ela perguntou-me e eu voltei a olhar em seus olhos, senti-a estremecer e
segurei um sorriso.
- Bem e você? – eu respondi.
- Bem também. – ela pegou o saco
com os pães da mão da moça, parecia que queria evitar alguma conversa...
- Você voltou para cá? – eu tinha
que perguntar-lhe, meus olhos brilharam somente com a esperança de uma resposta
positiva.
- Bem... Não. Vim para ficar o
final de semana, só porque o Diego insistiu muito. – depois de ouvir aquilo,
meu sorriso desfez-se, é claro, que idiota! Ela não ficaria sozinha esperando
por mim todo esse tempo...
- Ah sim, desculpe-me. – baixei a
cabeça envergonhada e depois a olhei nos olhos, dizendo:
- Se precisar de qualquer
coisa... Sabe onde me encontrar. – andei até o balcão para pedir meus pães e
quando ela já ia embora, ouvi meu nome.
- Clarice... – olhei-a e então
ela disse num sorriso:
- Adorei te ver. – e saiu sem
olhar para trás.
Um sorriso
enorme ficou em meu rosto, não podia acreditar, era bom demais para ser
verdade! Vê-la depois de tanto tempo e sentir, sim eu sentia, eu sabia, que ela
ainda sentia algo por mim. O jeito com que me olhava, o brilho no olhar, o
sorriso, o jeito como estremecia somente com o meu olhar sobre ela, demonstravam
sua fraqueza: ela ainda gostava de mim, de alguma maneira.
Comprei os
pães e voltei para a minha casa. Passei manteiga no pão e tomei um gole de
café, quando ia morder o pão, meu celular começou a tocar, pelo toque só
poderia ser uma pessoa: Carla. E logo aquela hora da manhã. Geralmente eu
resmungaria, mas estava feliz demais para brigar com ela. Peguei o celular na
mesa e atendi:
- Fala Carlinha. – a voz dela
soou eufórica do outro lado:
- Tenho uma ótima notícia para te
dar amiga! Sabe quem está na cidade?
Sorri
intimamente e respondi:
- Eu encontrei-me com ela na
padaria. – primeiro ficou silencioso do outro lado, de repente o grito que
Carla deu quase me deixou surda:
- Não acredito! Você encontrou-se
mesmo com a Priscila na padaria? – como eu confirmei, ela suspirou do outro
lado e contou o resto da novidade:
- Então, recebi um telefonema do
namorado dela, o Diego, e ele combinou comigo um jantar aqui em casa, hoje à
noite, para nos encontrarmos, e ele queria que você fosse.
Sentei na
cadeira da cozinha, senão já teria caído para trás. Não era possível... Duas
vezes no mesmo dia? Era demais para o meu coração! Gritei de felicidade no
celular, dessa vez deixando a Carla surda. Combinamos os detalhes, que hora que
seria e tudo mais, e depois desliguei o telefone. Passei o resto do dia
sorrindo feito boba, enquanto pensava. Havia decidido que se o destino nos
juntara depois de tanto tempo, e por duas vezes no mesmo dia, não era apenas
coincidência, já era hora de lutar. Eu ia lutar por ela, pelo meu amor por ela.
Já entardecia
quando eu tomei um banho demorado e depois entrei no quarto, ansiosa pelo que
vestir. Acabei escolhendo uma calça jeans escura justa, uma bota preta e uma
blusa preta também, com um decote e detalhes em pedras vermelhas. Nos cabelos
prendi um rabo de cavalo deixando a franja vermelha nos olhos, e caprichei no
lápis preto. Usei um dos perfumes que ela adorava e então me olhei no espelho: a
esmeralda em forma de coração brilhava em contraste com a minha pele. Sorri
satisfeita, e fui para a casa de Carla, não poderia esperar mais.
- Nossa, que mulher desesperada!
– Carla disse rindo quando abriu a porta para mim.
Estava parada
ali, sorrindo de felicidade e não liguei para ela. Ela abriu os braços dizendo
emocionada:
- Vem cá sua boba! – abracei-a,
as lágrimas ameaçavam descer de meus olhos, só ela sabia o quanto eu havia
passado, sofrido, chorado...
- Eu não acredito, é muito bom
para ser verdade! – eu disse soltando-me de seus braços.
Pelo menos
havia parado de chorar, entrei em sua casa e quando ela fechou a porta, Marina
veio correndo abraçar-me:
- Pequena! To tão feliz por você!
– ela havia adquirido a mania de chamar-me de pequena, mas eu gostava.
Quase comecei
a chorar novamente. Soltamo-nos e sentamos no sofá. A casa estava linda, a mesa
na sala de jantar já estava posta, agora era só esperar. Para mim era como se
houvessem passado horas e horas á fio esperando, até que ouvi a campainha soar.
Levantei-me de um pulo junto com Marina, que me olhou desejando-me sorte. Carla
foi abrir a porta e eu fiquei parada onde estava.
- Carlinha meu amor! – escutei a voz de
Priscila e sorri fechando os olhos. Provavelmente estava abraçando a amiga,
fazia tempo que não a via.
- Quanto tempo Carla! – essa voz
trouxe-me a realidade, lembrando-me que ela não estava sozinha.
Eu esperei, e
naturalmente, depois de abraçar Carla, ela abraçou Marina, que estava ao lado
da namorada. Só então, nós nos vimos, a reação foi a mesma, instantânea:
ficamos frente a frente, olhando-nos, encarando-nos. Examinando cada pedacinho
de nossos corpos. Senti estremecer-me da cabeça aos pés! Ela estava
simplesmente linda! Seu perfume inebriava-me, os cabelos estavam lindos, seus
olhos então! Estavam mais doces e mais profundos do que eu me lembrava. Ela
usava um vestido vermelho que caía perfeitamente em seu corpo, e quando meus
olhos caíram sobre seu decote... Olhei rapidamente para seus olhos e ela olhou
dentro dos meus, sorrimos sem percebermos. Nós duas usávamos os nossos colares,
cheios de segredos.
O que durou apenas alguns
segundos, para mim foram horas!
- Clarice, que saudade! – ela
abraçou e eu quase morri com o seu cheiro. Abracei-a também roçando levemente
os lábios em seu pescoço, sentindo-a estremecer.
- Também estava com saudades,
Priscila!
Soltamos-nos e
eu cumprimentei Diego que estava ao nosso lado, provavelmente ele nem percebeu
nada, acho que até nem sabia o que havia acontecido direito. Havia decidido:
minha luta iria começar naquela noite mesmo, não iria desperdiçar minha chance!
- Vem gente, vamos nos sentar. –
chamou Marina afastando as cadeiras da mesa.
- Isso! Conversamos enquanto
comemos. – Carla sentou-se à mesa ao lado da namorada, sendo seguida por Diego.
Então me
encostei às costas de Priscila, que estava sozinha e sussurrei em seu ouvido,
para que somente ela pudesse ouvir:
- Você está simplesmente
maravilhosa. – ela estremeceu suspirando e voltou o olhar par mim lançando um
de seus melhores sorrisos.
Depois se
sentou ao lado de Diego, só então eu descobri que Carla propositalmente deixara
para mim um único lugar vago: de frente para Priscila. Aquele jantar prometia!
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