Vivendo em tempos de chuva e rajadas de vento, a menina se resignou em aproveitar o pouco que lhe era dado. Clamou pela água, pelas tempestades e pelas garoas, esperando que as gotas aliviassem a dor da partida. Deixada, sozinha ficou. De tempos em tempos, com os olhos marejados, chegava a desejar a escuridão dos recantos malditos do esquecimento. Na calada da noite, derramava as lágrimas de dor e solidão que tanto lhe afligiam o coração. Nunca tinha pensado em abrir a janela, para falar a verdade. Resquícios de fios dourados se infiltravam em seu quarto pelas frestas entre as táboas, mas ela ainda se recusava a sair de seu casulo. Com a persistência de luz, a menina não resistiu em ir espiar lá fora. Pé ante pé, saiu ao amanhecer de um novo dia, e a luz intensa solar cegou seus olhos. Com medo, tentou se esconder, mas a casa que outrora era dela não mais ali estava. Sem ter pra onde ir, ajoelhou-se no chão implorando para que o sol não a queimasse. Seus raios eram doces e quentes, e faziam bem para a sua pele. Seus cabelos reluziam, puro fogo que a fazia brilhar. Aos poucos, foi se levantando, sentindo como era bom aquela quentura e como tudo parecia mais bonito ao seu redor. Já conseguia respirar com mais facilidade. Não fazia ideia de quanto aquele dia iria durar, mas esperava que por bastante tempo. Decidida a não se apegar, jurou que tentaria não ser nem muito a chuva nem muito o sol. Sem escuridão que a engolisse, sem o sol que a cegasse. Sem o mar que a afogasse, sem a terra que lhe consumisse. Aproveitaria com cuidado, dessa vez. Iria ser racional, pelo menos até que o coração se alegrasse e implorasse, então, bem, então ela se jogaria do penhasco de encontro ao sol, acreditando que podia voar. Se a queda aconteceria ou se passáro seria, só o tempo iria dizer.
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