Risos, Risadas e Gargalhadas


Sempre gostei de pessoas que rissem da vida. Que em meio às lágrimas, soltam doses homeopáticas de risos frenéticos, que em certas noites, transformam-se em caretas de dor e mágoa. Sempre gostei de estar em companhia de quem soubesse ver o lado bom da vida, sem ter que necessariamente virar uma lata de coca-cola misturada com vodca em noites frias e barulhentas. Sempre gostei de ir em bares e clubes noturnos para dançar até cair e fazer a noite valer. Em uma dessas andanças noturnas, encontrei uma dessas pessoas. Sentada no bar, de longe, eu a via rir rodeada de amigos tão risonhos quanto ela. Conforme ria, suas costas arqueavam ora pra frente, ora para trás, e o vestido longo e colorido colava ao seu corpo. Não vou mentir, fiquei com vontade de ouvir aquela risada gostosa ao pé do ouvido. Enroscada em um pescoço masculino, discorria sobre a vida, a política, a astrologia e sobre como ela só queria se divertir naquela noite.

Como ocorre em todas as vezes, logo sumiu das minhas vistas, e fiquei me perguntando se algum dos seus amigos a tinha levado pra casa, ou se ela estava dançando no meio das amigas. Lamentava tê-la perdido de vista, e a oportunidade de saber o que aquela mente me reservava. Se suas risadas eram pesadas de humor ou leves por conta da bebida. Em dado momento da noite, ouvi sua risada inconfundível tão perto que eu poderia me apaixonar. Sentou-se na mesma mesa que eu, cruzando as pernas e se recostando na cadeira. Cumprimentei, sem saber ao certo o que dizer. Contou-me das peripécias que suas amigas fizeram, deixando-na sozinha com um gatinho num canto, mas ele tinha namorada, pelo que ela soube, e aí obedecendo as suas regras, não quis se envolver. Desenroscou-se com um aceno de adeus e procurando suas companheiras, acabou na minha mesa. Pediu se podia ficar, estava cansada para procurar qualquer outra. Quem era eu para lhe negar alguma coisa? E foi então que eu soube, Luíza era seu nome. Mal me disse, já se enrolava nas palavras, contando sobre sua vida, infãncia e seus amores. Eu observava, curiosa demais para a interromper. Enquanto discorria sobre quem pegara e quem deixara de pegar, gargalhava gostosamente, batendo as mãos por sobre a mesa. Um sorriso mínimo se formava em meus lábios. Aquela espontaniedade era incrivelmente bela. Luiza não era mulher de riso fácil, mas de gargalhada facílima. Logo descobri a vontade de querer participar daquele riso, daquela felicidade gratuita, daquela facilidade de viver. Então, como sempre acontece, sua risada transformou-se em pranto, e os lábios tremeram enquanto ela tentava segurar o choro. Tive vontade de socorre-la em um abraço, ampará-la, mas como forte sobrevivente, também sabia que não devia. Ela iria se recompor sozinha. Fiquei ali, em um apoio silencioso, oferecendo um olhar amigo. Suspirou então, virando o resto da bebida nos lábios mais calmos e rosados. Enxugou os olhos e deixou a cabeça pender para trás, sentindo o frescor do ar-condicionado do ambiente. Logo chegaram umas três moças matraqueando ao mesmo tempo, deixando-me tonta. Seu riso voltou a possuir seus lábios, e os olhos sorriram, escondendo a mágoa novamente. Antes de se levantar, agradeceu-me a companhia, e seus olhos se encontraram com os meus. Em alguns instantes tinha-se ido, levando aquela felicidade tão peculiar consigo. Ali fiquei, sentindo-me bem em ter sido escolhida para compartilhar aquele ínfimo instante de segredo da sua alma inquieta. Talvez nunca mais eu a fosse ver, mas eu tinha a certeza de que nunca esqueceria a sua risada, que me aquecia o coração.

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