Oneshot - O Último Lamento
O frio estendia-se
pela noite, mas naquele momento, parecia que até o vento se recusava a mexer.
Havia um silêncio suspenso no ar. A plateia parecia entender e mantinha-se
quieta. Quase ninguém entenderia o porquê daquele respeito mútuo, mas mesmo
assim, todos podiam sentir o ar mais pesado. Os acordes das guitarras começaram
a tocar, enquanto as luzes vermelhas e laranjas focavam Ruki debruçado sobre a
caixa a sua frente.
Seu corpo se movia, lentamente
levantando, enquanto a música começava finalmente. A voz fez o que fazia de
melhor, cantou. Ele não precisou se lembrar da letra, as palavras vinham do
coração. Não via nenhum outro integrante da banda naquele momento, era somente
ele e a música. Juntos, fundidos em uma só melodia, uma só alma, um só lamento.
Como se esperasse pela sua deixa, o
vento começou a soprar, fazendo sua entrada triunfal. Os dedos de Uruha
deslizavam na guitarra com uma pressa desesperada. Olhava para cima, os cabelos
balançando com a brisa fria, os olhos fixos em lugar algum, procurando
inutilmente por uma resposta. Queria entender... Por quê? Sem foco, sem
direção, sem resposta, sem entender... Os dedos arrancavam o peso que trazia em
seu coração, transformando-o nos acordes mais lindos que o público já ouvira.
A voz de Ruki foi sumindo aos
poucos, para que Reita pudesse solar em seu baixo. Seus olhos fixos nas cordas,
cabeça abaixada, sem conseguir focar em nada mais do que seu instrumento. A
raiva o consumia, e ele extravazava o sentimento no som estrondoso do baixo.
Uruha ainda dedilhava na guitarra, complementando a melodia. Ruki abaixou-se
mais uma vez, a dor o consumindo. Por alguns segundos, tudo o que se ouvia era
um som metálico, enquanto ele chorava silenciosamente. Levantando-se
lentamente, com o braço estendido, a mão contraída em uma dor muda, Ruki
preparava-se para continuar a canção. Sua voz saiu novamente, mais carregada de
emoção do que antes. E ele cantou, e sofreu, e chorou.
Todos
da banda partilhavam a mesma dor sincera. A mesma perda, e a mesma partida.
Cada um lidando com o fato a sua maneira. O show tem que continuar, e naquela
noite, eles deram o melhor de si, como sempre faziam. Em cada acorde, em cada
batida, em cada som emitido.
A
agressividade nas batidas da bateria foi tomando conta do ambiente, enquanto a
voz doce do vocalista deslizava pelo ar até desvanecer. Kai deu o seu show
particular, encerrando as batidas das baquetas, com um último batuque. Cabeça
abaixada, luzes desligadas, e nenhum outro som era ouvido, a não ser o lamento
e a dor na voz de Ruki, anunciando o final da canção. Ele cantou, solitário,
até que as palavras se transformassem em um choro amargo de dor.
“Existe o eu que te amou
Existe o eu que te encarou
Existe o eu que te queria
Existe o eu que te perdeu
Existe o você que me amou
Existe o você que me encarou
Existe o você que me destruiu
Existe o você que me despedaçou
Existe o você que me matou
Existe o você que me matou
Você...”
A
tristeza era palpável, apesar de ninguém do público entender o por que. Ninguém
sabia. Ninguém tinha a mínima ideia do que estava acontecendo. A mínima ideia
de que aquele seria... A última apresentação. O último show do the GazettE. A
maior dor já sentida naquele palco. E o maior lamento da noite.
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