Capítulo
8
Regina
decidiu fazer o jantar, já que Emma não possuía nenhum tipo de habilidade
culinária. Henry e Emma estavam sentados na sala de estar, conversando. Regina
estava fazendo macarronada, prato preferido de Henry. Tirou uma garrafa de
vinho da geladeira, e colocou um pouco em duas taças. Carrego-as até a sala,
aproximando-se de Emma, estendendo-lhe uma taça de vinho.
- Obrigada – Emma sorriu, experimentando
o líquido vermelho.
A
morena sorriu de volta e sentou-se próxima ao Henry, de frente para Emma. Ele
estava sorrindo enquanto contava a Emma sobre suas aulas; estava animado com o
assunto, sempre fora um menino inteligente. Era bom vê-lo falando sobre outra
coisa além daquele livro tolo sobre contos de fadas. Emma parecia estar
interessada no que ele dizia, balançando a cabeça afirmativamente algumas
vezes, sempre com um sorriso agradável no rosto.
- Ok, o jantar está quase pronto. Vão
lavar as mãos, os dois – A morena ordenou, levantando-se do sofá e voltando
para dentro da cozinha. Emma olhou para Henry e então os dois se levantaram e
foram para o banheiro.
Ela
pegou uma colher, mexeu o molho do macarrão, e então o experimentou, estava com
um ótimo gosto. Abriu a porta da prateleira e tirou três pratos, colocando-os
em cima da mesa. Percebendo que sua taça estava quase vazia, ela encheu-a
novamente com o vinho. Virando-se para o fogão, pegou uma travessa de vidro e
despejou o macarrão lá dentro, arrumando-o para que ficasse apresentável;
depois colocou a travessa em cima da mesa. Tudo estava pronto. Olhando para a
mesa, convenceu-se de que tinha feito um bom trabalho. Ela era uma boa chefe de
cozinha, ao contrário de Emma, é claro.
De
repente, ela pegou-se sorrindo. Um pensamento bobo que ela teve. Regina estava
agindo como uma dona de casa comum, cozinhando, tomando conta do filho, e do
seu marido. Ela não tinha um, claro, mas Emma ainda estava em sua casa, não
estava? Seus pensamentos foram interrompidos pela entrada abrupta de Emma,
seguida por Henry. Novamente, seu rosto estava sério e levemente descontente.
- Por que demoraram tanto em uma simples
tarefa?
Henry
não disse nada, apenas sentou-se à mesa.
- Por que você precisa sempre ser tão
mandona? – Emma disse sem pensar duas vezes.
A
raiva nos olhos escuros da anfitriã apenas aumentou. Seus lábios se torceram
virados para baixo, demonstrando seu desgosto, e ela rapidamente encarou Emma,
claramente desaprovando sua última pergunta. Ignorou-a e ambas se sentaram, uma
em frente à outra. Emma se serviu, colocando um pouco mais de vinho pra si
mesma. Regina serviu o macarrão a Henry, e então a si mesma. Eles começaram a
comer em silêncio.
Henry estava
contente pela presença de Emma, ainda que a situação fosse, no mínimo,
estranha. Quando ele estava sozinho com Emma, ele podia falar sobre qualquer
coisa, o que ele quisesse, mas quando estava perto de Regina, ele precisava
tomar cuidado com o que falava. Precisava obedecê-la, e geralmente
comportar-se.
- Mãe... – Henry começou a falar, ainda
incerto.
- O que você deseja, Henry? – Regina
respondeu, tomando um gole de vinho.
- Eu estava pensando... Eu sei que você
não me deixará ver televisão por hoje, mas... Hoje a noite, às 10 horas irá
passar um programa que eu queria muito assistir.
- Henry, você conhece as regras – Regina
respondeu, voltando a comer.
Ele
olhou para o seu próprio prato, ficando quieto novamente.
- Mas Regina, ele esteve doente hoje,
não seria melhor para ele se ficasse amanhã em casa? Vamos lá, é só um dia. Eu
duvido que isso vá prejudicá-lo tanto – Emma disse, olhando diretamente nos
olhos da morena.
A
prefeita não respondeu por um tempo. Ela observava sua visita, e então voltava
os olhos para o filho. Emma estava certa, por mais que ela odiasse admitir. Ela
era bem rígida com relação às regras, mas ela ainda estava preocupada com Henry
pelo que havia acontecido algumas horas antes, então decidiu ceder.
- Tudo bem. Você pode ficar acordado até
mais tarde, e nós podemos assistir a esse programa que você quer tanto. Mas
logo depois que acabar você irá direto pra cama. Ok?
- Claro! Obrigada, mamãe! – ele sorriu
verdadeiramente para ela.
Regina
sentiu a felicidade vagarosamente crescer dentro do seu peito, mas ela tentou
não demonstrar. Quando ele acabou de jantar, Henry levantou-se e subiu as
escadas, indo escovar os dentes, e então colocar o pijama. Assim, ele poderia
descer e assistir a televisão. A prefeita recolheu os pratos, colocando-os
dentro da pia. Olhando para a mesa, percebeu que a garrafa estava vazia.
- Vinho? – ela perguntou a Emma,
levantando a sobrancelha.
- Claro – Emma sorriu.
Abrindo
a geladeira, Regina pegou outra garrafa de vinho de lá. Abriu o vinho e colocou
um pouco em cada taça. Ela estava olhando diretamente para Emma. Alguma coisa
estava certa, mas alguma coisa também estava muito errada. E pelo jeito, Emma
partilhava da mesma opinião; ela não podia evitar pensar em como aquela noite
estava mudando as coisas. Emma lembrou-se do seu sonho. Eles eram uma família,
e olha onde ela estava agora, e o que ela estava fazendo. Um jantar com Regina
e Henry.
- Regina, eu... – ela estava pronta pra
dizer alguma coisa.
Ela
conseguiu a atenção de Regina. Percebeu que o coração da prefeita batia mais
rápido, sua respiração parecia acelerada, ela estava curiosa para saber o que
Emma tinha a dizer. Por um minuto, aquele bobo minuto em que duas pessoas se
olham profundamente, deixando seus sentimentos fluírem através delas, quando a
tensão é quase palpável... Elas se olharam, conectaram-se. E então, aquela
conexão foi quebrada.
- Mãe! Irá começar em alguns minutos! –
Henry chamou, sentado no sofá.
- Então, vamos? – ela sorriu.
- Claro – Emma sorriu de volta, incerta
sobre o que fazer em seguida.
As
duas foram para a sala, e sentaram-se no sofá, uma de cada lado de Henry. O que
estava passando era um programa bobo de televisão, mas Henry queria tanto ver,
que Regina guardou seus comentários, sobre o programa, pra si mesma. Em
qualquer outro dia, ela provavelmente já teria dito algo ruim sobre isso, mas
não naquele dia.
Quando
acabou, Henry já tinha se levantado e estava pronto para ir para a cama. Ele
olhou para suas duas mães, sentadas no mesmo sofá, dentro da mesma casa, na
mesma noite, com o mesmo filho. Ele estava feliz. Ele nem mesmo pensou sobre o
significado daquilo, apenas aproveitou a dádiva de ter suas duas mães no mesmo
lugar sem tentarem matar uma à outra. Disse boa noite a elas e subiu as
escadas, diretamente para o seu quarto.
De
repente, aquela tensão entre elas estava de volta. Emma não sabia para onde
deveria olhar, nem Regina. Era uma situação novamente estranha para as duas,
pouco comum. A loira achou que já era o suficiente; levantou-se e tentou não
olhar para a prefeita enquanto falava:
- Eu acho que eu já vou indo – mal deu
três passos, as mãos de Regina seguraram seu braço.
- Espere.
Emma
virou-se. Estava ansiosa pra saber o que Regina queria dizer.
- Sente-se. Nós precisamos conversar –
mentirosa. Ela estava mentindo, elas não precisavam conversar. Regina só queria
que Emma não fosse embora.
A
loira sentou-se de volta no sofá, perto de Regina dessa vez. Ela a encarava,
silenciosamente, tentando imaginar o que poderia ser tão importante para Regina
mantê-la dentro daquela casa por mais tempo. Regina respirou fundo, tentando
achar as palavras certas para dizer.
- O jantar estava bom – sua voz era
baixa.
- É, estava. Você é uma excelente
cozinheira – Emma sorriu.
Regina
ficou quieta de repente. Ela não poderia falar. Ela não sabia o que dizer. Ela
apenas não queria que Emma fosse embora, mas também não sabia como mantê-la ali
por mais tempo. E por que ela pedira para Emma ficar mesmo? Aquilo não era de
seu feitio. Ela amava ficar sozinha, sempre. Emma era uma mulher irritante e
chata, a qual estava sempre tentando envenenar o seu próprio filho contra ela.
Por que ela pedira a Emma para jantar com eles? Será que ela amoleceu de
repente? Infelizmente, ela não tinha a resposta para todas aquelas perguntas.
Se Emma quisesse ir embora, ela poderia ter ido, mas ela não o fez.
- Eu tive um sonho há um tempo... – Emma
começou. Seus olhos encaravam o chão.
- Sobre o que você está falando? –
Regina perguntou, confusa pela mudança repentina de assunto.
- Nós éramos uma família – ela
respondeu, levantando os olhos para olhar dentro daquelas irís negras.
Regina
estava temerosa sobre o que Emma estava falando. Será que ela sabia da
maldição? Ela lembrou-se de Regina como a Rainha Má, Henry, Branca de Neve e
ela própria? Não, aquilo era impossível. É claro que ela não poderia lembrar
daquilo, ela não era nem nascida! Muito menos Henry.
- O que você quer dizer? – Regina optou
por uma pergunta segura.
- Eu acordei aqui, na sua casa. Eu
estava na sua cama. Eu me levantei, e quando olhei pela janela, eu vi você e o
Henry brincando do lado de fora, correndo em volta das árvores. Então eu desci
as escadas, e encontrei vocês dois no hall. Ambos estavam felizes. Nós éramos
uma família – ela engoliu em seco, temerosa em dizer os detalhes.
A
prefeita pareceu finalmente entender.
- Que diabos você está pensando? Você
sonhou que era casada comigo? E nós três vivíamos aqui? – ela perguntou
surpresa. Aquilo era estupidez!
- Bem, foi isso que eu sonhei. Eu também
não sei o que isso significa. E então após acordar, eu fui até o Granny’s tomar
um café, e lá estava o Mr. Gold.
- Que novidade – Regina disse com um
sorriso sarcástico.
- Ele começou a falar sobre Henry, e
como era bom que eu não desmanchasse sua fantasia e tudo o mais. E então, ele
começou a falar algo sobre mágica, e umas ideias loucas. “Algumas vezes, o mais louco poderia ser o melhor”. Algo assim.
- Ele ama falar sobre todo mundo, menos
dele mesmo – Regina não gostou do rumo que a conversa tomou. Mr. Gold sabia
muito sobre a maldição, e ele poderia dizer alguma coisa pra qualquer pessoa,
se assim o quisesse. Ele vivia pelas próprias regras.
Emma
estava para continuar o resto da conversa, sobre o que sonhos poderiam
significar, mas achou melhor, por alguma razão, continuar quieta. O silêncio
encheu a sala, e isso começou a incomodar Regina.
- Eu não vou tomar o Henry de você, sabe
disso, certo? – Regina percebeu que Emma falava a verdade. Ela a encarava nos
olhos verdes. Sentiu-se mal de repente. A loira podia ser bem irritante, e ela
a odiou desde o começo, mas Emma não era tão ruim assim.
- Eu não tenho tanta certeza, senhorita
Swan. Você não consegue ficar em um mesmo lugar por tanto tempo. Você sempre
vai embora. E eu não posso deixar que você machuque Henry. Além do mais, você o
abandonou. Eu sou a mãe dele agora.
Lá
estava a Regina que Emma conhecia tão bem. Ela respirou fundo, encostando-se ao
sofá.
- É fácil dizer. Você não me conhece o
suficiente para julgar minhas decisões. Eu tinha apenas dezessete anos. Você
não sabe como é estar sozinha nesse mundo. Como é se sentir perdida, insegura.
Ninguém liga para você. Eu estava grávida, eu não podia tomar conta de um bebê
naquele momento. Eu não tinha uma casa, ou dinheiro, pais, nada nem ninguém que
pudesse me ajudar. Eu estava desesperada. Então, sim, eu dei Henry para a
adoção, pensando que poderia ser a sua melhor chance. E eu não estava errada.
Regina
estava prestando atenção às palavras da loira, e estava secretamente sorrindo.
Emma não tinha ideia de como ela realmente sabia como era se sentir sozinha,
perdida e insegura. Ela não podia imaginar como a adolescência de Regina havia
sido. Não foi nada fácil.
- Você não estava? – Regina perguntou.
Ela queria tanto aquela resposta!
- Não – Emma respondeu encarando aqueles
olhos novamente. – Você é uma mãe maravilhosa, um pouco rígida, mas realmente
uma ótima mãe. Você deu educação a ele, você deu uma casa e tudo o mais que ele
precisou. Eu acho que há algumas coisas que você poderia mudar, mas ainda
assim, eu acho que fiz a escolha certa.
Regina
estava sorrindo. Aquilo era tudo o que ela queira ouvir.
- Eu só... Bem, eu só quero ser parte da
vida dele. Eu não quero tomar o seu lugar, de jeito nenhum! Eu o encontrei, e
eu o amo. Você não pode negar que ele nasceu de mim. Mas eu realmente não posso
levá-lo embora. Ainda não consigo tomar conta de mim mesma! – ela disse rindo.
- Bem, você está certa, senhorita Swan –
ela sorriu de volta. – Está bem. Venha, nós precisamos de mais vinho – Regina levantou-se,
andando até a cozinha.
Na
verdade, ela não precisava de mais vinho, mas ela iria tomar de qualquer forma.
Emma é que precisava de mais vinho. Ainda tentava se convencer de que seria
melhor se Emma fosse embora, mas ela não podia. Estava apenas procurando por
mais desculpas para que a loira ficasse mais e mais naquela noite. Começou a se
perguntar se Emma se dera conta das suas intenções. Bem, ela não era mais tão
inocente. Finalmente pegou a garrafa de vinho e serviu as taças novamente.
Emma
pegou sua taça e tomou um pouco mais do líquido vermelho. Ela já estava tonta,
e estava sorrindo feito uma idiota. Regina sabia muito bem disso. A mais velha
mordeu o lábio inferior, olhando diretamente para aqueles lábios convidativos
de Emma. Após dias tentando se decidir, ela finalmente tomou uma decisão. Não
se importava mais se aquilo mudaria alguma coisa em suas vidas, ou na própria
maldição. Ela estava cansada de jogar pelas regras. Danem-se as regras, dane-se
tudo. Ela iria ter o que ela queria naquela noite.
Nenhum comentário
Postar um comentário