Imagens Que Contam Histórias 22


Ela veio correndo por entre as árvores, finalmente parando perto da onde eu estava sentada. Olhou a sua volta, tentando enxergar por detrás da névoa que havia naquele dia. Olhou para o céu cinza, depois deu uns passos para trás, olhou novamente pelo caminho da onde viera, e fitou o vazio. Sua respiração voltando ao  normal, lentamente, enquanto as esperanças que ela claramente ainda nutria iam se esvaindo, escorregando por entre os dedos, até o mínimo gotejar finalmente se extinguir. De repente, seus olhos estavam sobre mim, dentro dos meus. E eu não consegui me desviar, mexer, evitar. Puxavam-se para dentro dela, para a dor que sentia. Os lábios carmim fechados, os cabelos levemente se balançando com o vento. E os seus olhos plantados nos meus, fincados. Ela viera correndo, parecia fugir de alguma coisa, e de imediato identifiquei medo naquelas íris escuras, mas aos poucos descobri que não era só medo. Havia tristeza, uma tristeza profunda, e uma grande solidão. Uma angústia me invadiu de repente, como se eu não suportasse mais olhar para ela, como se eu precisasse fazer algo para mudar o curso da sua vida, mas eu não conseguia. Eu não podia me mexer, e ainda assim, era como se eu mesma sentisse o que ela sentia. O momento se quebrou quando a chamaram, alguém rapidamente agarrou no braço dela. Gritava, nervoso, dizendo para ela nunca mais fazer aquilo. Por um minuto, ela virou-se de costas para mim e encarou o seu carrasco. Eu ainda estava hipnotizada demais para poder distingui-lo. Começou a arrastá-la pela rua, mas antes de ir, ela me olhou novamente, pela última vez. Seus olhos me puxaram para o fundo da alma da sua dona, fazendo-me gritar por dentro, sem conseguir entender como ou porquê. Sua voz muda gritava-me por ajuda, mas seus olhos intensos sabiam que eu nunca poderia ajudar. 

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