Capítulo 2 – Diferente das Outras
Acordei atrasada no dia seguinte. Havia dormido demais, mas isso não significava que eu iria toda descabelada para a escola. Demorei um tempo sim, colocando a roupa, arrumando os cabelos e me maquiando. Cheguei na escola e a maioria dos alunos já estavam em suas salas. Ao chegar perto da sala dos professores, eu a vi ali parada ao lado do bebedouro, olhando diretamente para mim. Sorri, eu tinha certeza que ela estava esperando eu entrar na sala para poder continuar olhando.
Paola sorriu de volta, e de repente inclinou-se para o bebedouro, enquanto segurava com uma mão os cachos para não se molharem. Começou a beber água, foi impossível desviar o olhar. Ela estava de calça baixa e uma blusa curta, que deixava seu umbigo a mostra, tênis, lápis no olho e... A água escorrendo pelos lábios cheios... Suspirei. Eu estava completamente boba com a cena, estava realmente sem ação. De repente, ela endireitou-se, sorrindo satisfeita. Acenou e deu as costas para mim.
- O que você tem? – senti uma mão em meu ombro e ouvi a voz da diretora.
- Nada. – respondi seca.
Entrei na sala, já vazia. Estava com muita raiva, raiva de mim mesma, por não ter me segurado. Como? Aquilo nunca tinha acontecido antes. Eu não podia sentir tanto desejo assim por uma aluna. Era ela somente uma aluna! Eu que era o centro das atenções, sempre! Coloquei meu material dentro do meu armário, deixando só o que eu iria usar naquela aula e fui para a sala do terceiro B.
Mal entrei, senti os olhares de todos sobre mim. Senti-me renovada, até arrisquei um sorriso no canto da boca. Sentir-me desejada me deixava de humor muito melhor. Vários alunos quase se estapeavam para falar comigo, eu os atendia com total simpatia.
O resto da aula foi normal, nada de muito diferente. Analisei alguns textos com eles, o que duvido muito que tenham prestado atenção em alguma coisa que eu tenha dito. Seria mais fácil perguntar sobre meu corpo, em um piscar de olhos teria mais do que dez respostas mais do que satisfatórias.
- Acho que você matou seus alunos hoje. – disse Helena sorrindo. Referia-se a minhas roupas: calça colada preta e blusa curta decotada. Além do salto alto.
- Eu adoro isso. – sorri mais ainda.
Peguei um suco que tinha pedido na cantina e nós duas andamos até uma das mesas mais afastadas do pátio. Helena era alta, olhos puxados e negros, cabelos da mesma cor e escorridos pelos ombros. Era uma grande amiga minha, talvez a única que não tenha caído nos meus encantos. Também, além de ser minha amiga, era bem casada com outra amiga minha. Tinha muito respeito por elas.
- E a Sara, como vai?
- Bem, está uma loucura no escritório. Então já sabe né? Ela me deixa louca em casa! E não é no bom sentido. – eu ri da expressão de tédio dela.
- Uma pena. Se você quisesse, eu aliviaria sua barra.
- Sem problemas, se você quiser me ver mortinha no outro dia...
Rimos juntas. Continuamos conversando, até uma certa garota aproximar-se de nós, tocando no meu ombro e me chamando pelo nome:
- Sally?
Senti me arrepiar inteira somente com o pronunciar do meu nome. Olhei diretamente naqueles olhos castanhos, que transbordavam de sensualidade. Ela estava sozinha, e em poucos segundos nos transformamos no centro das atenções. Raramente alguém vinha falar comigo quando eu estava no intervalo, conversando com Helena.
- Sim. Quer alguma coisa?
- Eu gostaria de saber se o texto é para amanhã. – ela fazia uma carinha de inocência...
- É. – limitei-me a ser monossílaba.
- Muito obrigada. – ela já ia saindo quando se voltou, chegando mais perto, falando bem pertinho do meu ouvido:
- Hoje, no bebedouro... Adorei te deixar sem ar. – levantou-se e piscou, saindo dali calmamente.
Agora ela também tinha me deixado sem palavras. Eu nunca havia passado por uma situação como aquela. Ela era tão segura de si! Estava virando o jogo, e isso não podia acontecer, de maneira nenhuma!
- O que houve no bebedouro? – a voz zombeteira de Helena me trouxe de volta.
- Nada que te interesse. – eu odiava perder o controle das coisas. Se fosse outra pessoa, tinha desistido depois dessa resposta. Mas sendo Helena...
- Não acredito! Não... Fala sério! Ela te deixou sem palavras... E essa sua agressividade toda... Só pode ser uma coisa. Ela te desafiou certo?
- Porque você tem que ser tão irritantemente sabe tudo? – rosnei.
Ela deu uma risada alta e, olhando para onde Paola estava sentada, deu um assobio, concordando com a cabeça.
- Dá para entender, a garota é linda!
- Cala a boca Helena! Isso não vai ficar assim! – bufei de raiva.
- Ah isso vai ser muito interessante de se assistir... – ela sorriu.
Helena conhecia-me a muitos anos, sabia do meu temperamento difícil e forte. E como eu odiava ser desafiada, odiava perder. E eu já estava alguns anos nesse jogo, sempre vencedora. Até naquele momento. Ah, mas ela ia ter o troco dela no outro dia. Ah se ia! Mas eu sabia lá no fundo, que ela era diferente. Só não queria admitir. Sim, esse era outro defeito, ou não, em mim: eu era orgulhosa.
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