Cinco Loiras E Uma Sentença - 5


Capítulo 5 – Alessandra.

Eu fiquei com muita raiva naquele momento, quis esganar ela de verdade! Será que ela só queria ver os outros infelizes? Não suportava a felicidade alheia? Só podia ser isso! Alessandra encarava-me com um sorriso triunfante no rosto.

- Sua... Sua... – eu tentava controlar minha raiva, sem muito sucesso.

Acabei levantando-me e teria avançado sobre ela, se não fosse Marina me segurar.

- Onde pensa que vai, Jéssica? – ela olhou-me levantando a sobrancelha. Ah não, dar uma de mandona naquele momento não!

- Se me der licença, vou matar essa desgraçada! – eu gritei, levantando-me de novo. Eu cuspia as palavras, cheias de ódio.


- Calminha aí! – ela voltou a dizer me fazendo sentar na cama outra vez. – Agora você vai nos explicar quem é ela e o que ela quer.

Eu estava possessa! Queria era encher a cara dela de bolacha! Mas controlei-me limitando-me a olhá-la com ódio. Ah, se olhar matasse...

- Vá em frente! Vamos ver como você irá fantasiar nossa história... – ela disse com ironia nas palavras.

- “Nossa História”? – perguntou Tatiane, olhando-a com desdém.

- Vai lá, dona Jéssy, pode começar. – disse Marina, sentando-se novamente na poltrona.

Suspirei fundo, olhei nos olhos castanhos daquela que era minha perdição, e então comecei a contar.

- Na verdade, há uns dois anos atrás, eu namorei a Alessandra, nós ficamos juntas por uns meses, e ia tudo bem, até...


Até que um dia eu cheguei a casa e peguei Alessandra na cama com outra pessoa. Na verdade, era um rapaz. Fiquei tão surpresa, que por um momento não sabia o que fazer, aí veio àquela célebre frase de filme:

- Não é isso que você está pensando... – a loura disse para mim, assustada, enquanto cobria-se com um lençol.

Aí eu explodi de raiva, a ficha finalmente tinha caído! Alessandra, nua, na nossa cama, com um sujeitinho qualquer!

- Como não é o que eu estou pensando? Você traz um traste qualquer e transa com ele na nossa cama, Alessandra? – eu gritei, morrendo de raiva e cheia de mágoa.

Provavelmente ele percebeu que a briga ia ser feia, juntou suas roupas e saiu pela porta aberta, não dizendo nada. Eu encarava-a, era incrível como mesmo naquela situação, ela não abaixa a cabeça, continuava me olhando do alto, como se ainda tivesse razão.

- Então, não vai explicar?

- Não tem o que explicar. Foi isso mesmo o que você viu. – ela disse, sentando-se na beirada da cama.

Aquela frieza das palavras, sem se importar se iriam ou não ferir-me, sem nem ao menos dar-se ao trabalho de mentir, omitir nada, acabou doendo muito mais em mim. A indiferença me matava.

- Okay... E agora? Vai querer dormir comigo? Vai deitar e dormir, fingir que nada aconteceu?

Ela olhou-me totalmente calma e respondeu:

- É talvez isso seja o melhor remédio. – aí eu não agüentei mais, caí em lágrimas, chorei muito, começando a gritar:

- Não posso acreditar nisso! Você não tem coração sabia? É oca por dentro! Não se importa com o sentimento das outras pessoas, é tão egoísta! Só importa-se com a maldita Alessandra!

- Pára de se comportar como uma criança, Jéssica! – ela disse levantando-se, provavelmente cansada de discutir.

- Criança? Você é uma completa idiota! Eu te odeio! – ao ouvir-me dizer essas palavras, um sorriso formou-se em seus lábios carnudos:

- Odeia-me? Tem certeza? – ela chegou perigosamente perto de mim.

Deixou que o lençol escorregasse pelo seu corpo, até atingir o chão. Seu corpo escultural me tirava o ar dos pulmões.

- Ale... Alessandra... O que... Você... – eu estava com a respiração entrecortada e respirava com dificuldade.

- Vamos, diga que não me ama, diga que não sente desejo por mim, que seu coração não acelera quando eu chego perto? – ela foi diminuindo a distancia enquanto eu ia indo para trás, até bater na parede ás minhas costas.

- Eu... Não... – não consegui acabar de falar nada, sua boca encostou-se à minha e sua língua invadiu a minha, beijando-me com fervor, seus braços prenderam-me e seu encanto caiu sobre mim novamente.

Eu não podia resistir àquela mulher, ela me torturava e me usava como um brinquedo. E eu deixava.


- Ah conta outra Jéssica! – Alessandra interrompeu-me, olhando-me divertidamente.

- O que você quer dizer com isso? – eu perguntei levantando uma sobrancelha.

- Você se passa por vítima, quando não é uma! Coloca-me como a vilã da história, e não é bem assim.  

- Como não? Vamos, me diga então quando que você foi a “mocinha” da história? – eu disse com ironia, queria ainda bater nela e tirar aquele sorriso da cara dela á força.

- Bom, por exemplo, quando você tinha seus acessos de ciúmes, isso foi uma das coisas que nos separou. Eu não agüentava mais, qualquer pessoa que chegava a mim era motivo para ciúmes bobos!

- Bobos? – eu gritei, levantando-me. – Era ‘bobo’ quando o garoto vinha e passava a mão na sua bunda? Cantava você descaradamente na minha frente, e você dava bola!

- Besteira! Era apenas um joguinho, apenas me divertia! Você já devia saber disso. – ela disse levantando os ombros.

- Joguinho? E você acha que pode jogar com os sentimentos das pessoas? Você sempre foi cruel e não se importava com os outros! – eu disse apontando o dedo para ela.

Alessandra, que já estava irritada, saiu da sua posição dando uns passos à frente enquanto também gritava:

- Você sabia como eu era quando quis ficar comigo! Sabia das minhas qualidades e dos meus defeitos, e ainda sim, quis ficar! Então, não venha jogar isso na minha cara!

Ficamos olhando-nos, cada uma com raiva e ódio no olhar, mas no fundo, muita dor e mágoa. As outras ficaram em silêncio, e de repente eu comecei a contar:


Quando eu conheci Alessandra, ela era uma menina tão frágil, tão doce e gentil, amiga e engraçada! Fiquei logo amiga dela, conversávamos sempre, como melhores amigas, durante alguns anos, até que um dia, estávamos sozinhas em casa.

Ela estava deitada de bruços no colchão e eu sentada em cima dela, passando creme nas costas e fazendo massagem. Eu adorava aquilo, e pelo jeito ela também. Ficávamos horas ali, quietas, apenas sentindo minhas mãos em seu corpo, mesmo que inocentemente.

Como sempre acontecia, Alessandra dormiu, ou pelo menos eu achava que sim. Eu senti uma vontade incontrolável de abraçá-la, então deitei em cima das suas costas, encaixando meu rosto em seu pescoço, entre seus cabelos loiros. Sentia aquele cheiro maravilhoso dela e o adorava!

Comecei a fazer carinhos em sua pele e dar pequenos beijos e mordidas em seu pescoço. Minha mão estava perto da sua barriga, ao lado da perna. Ouvi um gemido baixinho vindo de Alessandra, depois sua perna ao lado da minha mão levantou um pouco, possibilitando que minha mão entrasse debaixo do seu corpo, o que rapidamente aconteceu.

Sua pele estava quente, deixando-me meio confusa, sua respiração estava mais forte assim como a minha. Minha mão deslizou pela sua pele e foi parar entre suas pernas, no seu mais íntimo, e um suspiro em conjunto saiu de nossas bocas. Ali, quem sabe, estava a confirmação.

Sei que nunca senti tanto carinho, calor, amizade... Amor, como naquele momento. Com ela eu sentia-me completa, era como se fosse minha outra metade.


Quando acabei de contar, os olhos castanhos encararam os meus olhos, vermelhos também, lágrimas escorriam de nossos olhos. Onde nosso amor havia virado ódio e mágoa? Tristeza, saudade...

- “Não levanto e não me escondo, porque sei que és minha, Dona...” Eu lembro quando você cantava isso para mim. – sua voz estava estrangulada pelo choro.

- E eu lembro quando você prometia para mim que seria para sempre... – minha voz saiu do mesmo jeito.

Quando olhei ao redor, todas estavam com lágrimas nos olhos, cheias de emoção, menos Marina. Ela tinha dor nos olhos, e logo me disse:

- E o porquê vocês acabaram?

- Nós acabamos porque eu não suportava mais a indiferença dela, as mentiras, a crueldade a frieza. Ela não suportava meu sentimentalismo, ciúme e carinho excessivos.

- E depois disso? – ela voltou a perguntar. Todas as outras estavam em silêncio.

- Bom, depois disso eu tentei voltar a minha vida normal, sem sucesso. Tentava preencher o vazio que ela deixara em minha vida. Envolvi-me com Tati, depois com Francine, Fabiana e...

- Até chegar a mim. – ela completou com um sorriso amargo.

- Sim. – eu suspirei e continuei: - Mas com você foi um pouco diferente...

- Já que você é tão boa contadora de histórias, vamos, quero ouvir a minha agora. – ela voltou a sentar-se na poltrona e apontou a cama para mim.

Sentei-me novamente, e Alessandra encostou-se no armário. Suspirei fundo e comecei a contar:

- Quando eu te conheci, Marina, ainda estava muito machucada por causa de Alessandra, e frustrada com o fracasso dos meus outros relacionamentos, então, um dia em uma roda de amigos...

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