A escuridão tomou conta do quarto, deixando apenas que a lua iluminasse seu corpo branco como a neve, ajoelhado no chão frio. Dos lábios cor de carmim, o líquido denso e vermelho rubro descia, esquentando-lhe o rosto, deixando rastros e marcas do que um dia fora um rostinho bonito. Lola fechara os grandes e vivos olhos negros, entregando-se, ao que parecia, ao homem sedento à sua frente. Tolo! Se ao menos soubesse... Deixou que ele a comesse, mordesse, se satisfizesse. Enquanto ela sangrava... Deixou-o se iludir, enquanto sorria, com os dentes alvos e pontiagudos à mostra. Idiota! Ninguém poderia tê-la por inteiro, ninguém! Ela devorava homens e mulheres que aparecessem na sua frente, eram presas, fáceis, tolas e insignificantes demais. Abriu os olhos, sentindo o sangue escorrer pelo queixo, e num relance viu dois olhos verdes encarando-a. Seu sangue correu mais vivo pelas veias e ao tocar os lábios, sentiu falta do sangue quente que sempre estava ali, não estava mais. Seu coração parara de sangrar. Recusou-se à acreditar, aceitar o inaceitável, mas soube, naquele dia, que não mais sangraria, porque já havia encontrado sua alma gêmea. Não que acreditasse, não que aceitasse, não que deixasse acontecer, e mesmo que nunca mais a visse... Sabia.
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