Capítulo 15 – O Tempo se Arrasta
- Sally, você tem visita. – disse o guarda, abrindo a cela.
As botas negras de salto fino. Foi a primeira coisa que ela viu. Calça jeans apertada, blusa preta cheia de detalhes, colares e anéis. Sorriu ironicamente ao dizer:
- Achei que tivesse se esquecido das amigas, agora que estou aqui.
O guarda saiu, deixando-as sozinhas. A morena olhou para a cela pequena onde a outra se encontrava, depois olhou para as roupas dela e sorriu, dizendo:
- Você já teve tempos melhores, hein?
As duas caíram na gargalhada, cúmplices. Sabiam que Sally sempre fora elegante, fresca e usava do bom e do melhor. Sempre se sentira superior na maioria dos casos. O riso cessou aos poucos, dando lugar ao silêncio incomodo.
- Então, como você está? – perguntou Helena, finalmente.
- Eu não me importo. – Sally olhava para a parede, fingindo frieza.
- Para de teatro! Você sabe que, comigo, essa conversa não cola.
Sally virou-se para Helena, tinha os olhos azuis marejados.
- Por que você tem que me conhecer tão bem? – e começou a chorar descontroladamente.
- Vem cá meu bebê.
Helena abraçou a amiga, afagando seus cabelos. A loira chorava de soluçar. Estava cansada de demonstrar frieza. Auto-suficiência o tempo inteiro, cansada de ter que ser forte e independente o tempo todo. Depois de um tempo abraçadas, o choro cessou. Sally desvencilhou-se dos braços da amiga.
- Está melhor? – a loira balançou a cabeça afirmativamente.
- Obrigada. – sorriu timidamente.
- Sabe, eu não entendo. Porque você simplesmente não desiste? Parece que gosta de sofrer! Você sabe que isso vai demorar.
- Helena, eu não sou de desistir, você sabe disso. Não vou deixar que uma garota qualquer acabe comigo.
A morena soltou uma gargalhada, e falou logo em seguida:
- O quê, vai dizer que é o orgulho falando mais alto? Me poupe, Sally! É que você sabe que, se simplesmente desistir e ir embora, nunca mais vai vê-la.
- Ok, isso é meia verdade. Eu só gosto de me divertir com ela. – sorriu maliciosamente.
- Aham, eu finjo que acredito. – sorriu também.
- Acabou o horário da visita. – o guarda apareceu novamente em frente a cela.
Helena levantou-se para ir, prometendo que voltava logo. Já estava saindo quando se lembrou de algo:
- Ah Sally! Os seus alunos sentem sua falta. – sorriu maliciosamente, enquanto a loira ria. Depois emendou:
- Mas, agora é sério. Eles realmente estão torcendo por você. – saiu, deixando uma pensativa Sally dentro da cela.
Passados dois dias, estavam dentro do fórum. Levantaram-se todos quando o juiz falou:
- Processo número 19.563. O povo contra Sally Oliveira. Fiança?
- Nós colocamos a fiança em 1.000 reais, Excelência. – disse Mariana, solenemente, ao lado de Lola.
- Alguma objeção? – perguntou olhando para o advogado de Sally.
- Nenhuma Excelência.
- Fiança estabelecida em R$ 1.000,00 reais. Próximo caso. – bateu o martelo.
Os quatro começaram a se retirar do tribunal, enquanto Jack olhava para Sally, dizendo:
- Pagaremos sua fiança agora, e então você estará livre, pelo menos da cadeia.
Sally assentiu com a cabeça. Quando estava passando pela porta, quase trombou com Lola. As duas olharam-se nos olhos. Porque mesmo estavam fazendo tudo aquilo? Desejou que não tivesse nada daquilo no meio do caminho. Por que não poderia ser somente elas? Lola e Sally? Fechou os olhos e respirou fundo.
Já era de noite quando, finalmente, chegou em casa. Deixou-se cair em cima da cama, enquanto as lágrimas caiam de seus olhos. Sentia-se sozinha e abandonada. Bem feito, quem mandara confiar tanto em alguém? Era por isso que nunca se aproximava tanto das pessoas.
A campainha tocou. Apertou os olhos com força, não queria falar com ninguém. Levantou-se, de má vontade, e foi até a porta. Não foi surpresa nenhuma encontrar Helena parada ali, quando a abriu.
- Eu quero ficar sozinha.
- Tudo bem. Quem disse que eu vim para ficar do seu lado? Só vim porque você tem TV a cabo. – a morena sorriu.
- Aham, sei. – a loira sorriu. Por isso que gostava tanto de Helena.
Abriu a porta para ela, mas não recebeu um abraço. Helena entrou, sempre elegante em suas roupas chiques. Jogou-se no sofá, pegando o controle remoto.
- Você é de uma finura! Nada folgada. – comentou Sally, sentando-se ao seu lado.
- Eu sou fina, para sua informação. – sorriu. – Só que estou na minha casa.
- Sua? O cumulo da folga! – riu ela.
Helena ligou a televisão, passando pelos canais, tentando achar algo que prestasse. Parou num desenho, desses antigos. Sally deitou-se em seu colo, e elas começaram a assistir.
Essa era a ligação entre elas. Não era comum, mas tinham seu jeito de demonstrar como se importavam uma com a outra, como cuidavam uma da outra. Sally não poderia se aproximar dos seus alunos enquanto não acabasse o julgamento, mas ainda tinha Helena ao seu lado.
Os dias se arrastaram. Cada uma de um lado, sem conversar entre elas. Estavam magoadas uma com a outra, e o processo em andamento não ajudava em nada. Em um dos dias da semana, a noite já chegava. Sally estava impaciente. Aquele dia parecia não acabar mais. Insegura, com raiva, triste, pegou as chaves do carro e saiu.
- O que você está fazendo aqui? – Lola perguntou surpresa, ao ver Sally à sua porta.
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