Ainda estava no box, após o banho recém tomado. Queria aproveitar os últimos minutos naquele espaço quentinho, antes que o frio da noite e do seu quarto a invadissem, levando embora a lembrança daquele corpo. Enconstou o dedo na janela úmida, fazendo desenhos e caminhos por entre as gotículas de água. A voz doce que sempe a acalmara, agora falava em um guincho de tristeza e ansiedade. Ela não voltaria. Não haveria mais banhos. Nem saídas ao cinema, barzinhos, danceterias. Último banho juntas. Última vez que o seu gozo escorrera pelas pernas, misturando-se à água, provocado pela dona daqueles olhos encatadores. Sua dona. Aquela dona segurava em seus cabelos com força, marcando-lhe a pele com mordidas. Sussurrando com a voz arrastada:
"Você é minha. Entendeu? Só minha e de mais ninguém. Não importa com quantas mulheres durma, nem com quantos homens saia, seu corpo está marcado pelos meus toques. As manchas desaparecem, mas a sensação de ser minha, ficará para sempre."
E ela nem mesmo ousava reclamar. Um gemido concordando, os olhos se fechando, e o desejo que aquilo realmente durasse para sempre. Sentiu frio. A outra abrira a porta, com a toalha em mãos, para se enxugar. Apagar os vestígios da mulher que amava do corpo. Apagar as lembranças, mas sem conseguir apagar as dores. Olhou para a janela novamente, os vidros fechados e embaçados. Desenhou um coração. Clichê. Duas iniciais. Imaturo. E com a mangueira do chuveiro, jogou água no vidro, lavando as marcas visíveis.
Enquanto as invisíveis já começavam a doer dentro dela, antecipando a mágoa da despedida.
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