Um Amor Além da Vida: 30 - De Volta À Realidade


Capítulo 30 - De Volta À Realidade

Idiota! Idiota, idiota, idiota! Era assim que eu me sentia, uma completa idiota! Não era minha intenção fazer nada daquilo com a Clarice, mas eu não esperava que o Diego pudesse estar ali, ouvindo e vendo tudo. Senti-me completamente indecisa, indefesa, magoada... Eu sei que fiz uma enorme besteira dizendo todas aquelas barbaridades para Clarice, mas... A verdade é que eu não sabia o que fazer. Todos nós temos escolhas na vida, de todos os tipos. E entre enfrentar o problema ou pular fora, eu sempre preferi esse último, e foi o que eu fiz.
Saí daquela praça puxando Diego pelo braço, enquanto tentava enxergar o caminho à minha frente, por causa das lágrimas que banhavam meu rosto. Ele ia protestando, mas eu não prestava atenção em meia palavra do que ele dizia. Era com dor que eu a deixara plantada ali, sozinha, completamente desnorteada. Eu sei, ela não merece alguém como eu. Sabia também que depois disso, ela nunca mais iria querer me ver, nunca!

– Priscila! Me Solta! – o grito dele tirou-me dos meus devaneios e eu parei no meio de outra praça, a alguns quarteirões à frente. Olhei-o, pela primeira vez. Não sabia o que dizer.

– Você endoidou? Saiu que nem uma doida me puxando pelo meio do pessoal!

– Eu não podia mais ficar ali. – respondi baixo. Ele olhou-me surpreso.

– Jura é? O ofendido sou eu, e você que não podia mais ficar? Ah, vai se catar Priscila! Você é mais falsa que nota de três reais! – ele gritava sem se importar com as pessoas que nos olhavam.

– Não fale assim comigo! Você não tem o direito!

– Tenho sim! O anel que você tem no dedo diz que eu tenho! – olhei para o meu dedo e, já estava com tanta raiva, que o tirei do dedo jogando-o em cima dele.

– Pronto! Não tem mais nada entre nós agora! – ele sorriu dizendo:

– Por mim, ótimo! Arrume suas coisas e volte para a sua casa, porque eu vou voltar sozinho para a minha cidade!

De repente, minhas pernas começaram a tremer e minha cabeça a girar. Será que ele ia contar para a minha mãe? Meu Deus! Ele não poderia fazer isso!

– Você não vai falar nada para minha mãe, não é? Por favor! – no desespero eu agarrei-me em seu braço. Ele me soltou respondendo:

– Eu deveria, mas não, não vou contar.

– Graças á Deus! Obrigada, muito obrigada! – abracei-o e logo o soltei, recompondo-me.

Começamos a andar em silêncio até a casa dele que não era muito longe. Entramos no apartamento e eu comecei a juntar as minhas coisas que estavam ali, colocando tudo dentro de uma caixa de papelão. Diego ficou parado, encostado no batente da porta apenas me observando.

Acabei de arrumar tudo e me virei com a caixa nas mãos, dando de cara com ele. Estava com um semblante triste ao dizer:

– Desculpa... Mas é assim que tem que ser.

– Eu que peço desculpas. Eu mereço. – dei um beijo em seu rosto e voltei a lhe dizer:

– Muito obrigada por tudo. Você vai encontrar uma menina que te mereça, alguém bem melhor do que eu.

Ele abriu a porta para mim e eu desci as escadas e saí do prédio. Andei alguns quarteirões até a minha casa e entrei, destrancando a porta. Tudo estava como antes, exatamente como eu tinha deixado.

Coloquei a caixa no chão e joguei-me no sofá. Coloquei as mãos no rosto, morrendo de vergonha, sem saber o que fazer ou o que pensar. Eu sabia que não valia nada, só tinha feito besteiras ao longo da minha vida. Tinha feito algumas pessoas sofrerem demais, e eu sabia que elas não mereciam. Principalmente Clarice.

Sentia uma enorme dor no coração, mais um enorme peso na alma, sabia que eu só fazia mal ás pessoas. Fui mais fraca: levantei-me e liguei o rádio, depois me dirigi até a cozinha, peguei uma garrafa de vinho e comecei a tomar no gargalo. Os primeiros goles desceram me deixando mais leve, como uma pluma. Sentei no chão, apoiando a cabeça no sofá, enquanto continuava bebendo. Só queria esquecer, ser outra pessoa, estar em outro lugar.

“Este Romeu está sangrando
Mas você não pode ver o seu sangue
isto não é nada além de alguns sentimentos
Que este velho sujeito abandonou

Tem sido chuvoso desde que você me deixou
Agora estou me afogando no dilúvio
Você sabe que sempre fui um lutador
Mas sem você, eu desisto”
 

Não, tudo estava conspirando contra mim! Senti tremer-me da cabeça aos pés ao ouvir essa música... Lembrava-me sem dúvida de Clarice... E do monstro que eu era. Não era digna de nada, eu sabia disso. Eu a tinha deixado sozinha, sangrando por mim, e eu tinha medo que ela desistisse de tudo... Eu tinha desistido, mas ela não podia desistir. Aliás, eu esperava que não. Eu sei, egoísta da minha parte, mas eu sou assim, uma pessoa egoísta. Tomei mais um gole do vinho, já estava ficando meio alta, não queria pensar, não queria lembrar...

“Agora não consigo cantar uma canção de amor
Do jeito que deve ser
Bem imagino que eu não seja mais tão bom
Mas baby sou apenas eu

(Sim, amarei você, baby, para sempre)

E eu te amarei, baby, eternamente
E estarei lá sempre e um dia eterno
E estarei ai até que as estrelas não brilhem
Até que os céus explodam e as palavras não rimem
Sei que quando eu morrer você estará em minha mente
e eu amarei você eternamente”


Ao ouvir aquela parte não pude agüentar, comecei a chorar sem parar, caída no chão. A bebida apenas ajudava o meu estado de dormência, nostalgia... Frases e imagens rondavam minha cabeça, Clarice... Seus beijos doces, o jeito como me olhava, com carinho... A voz linda com que cantava apenas pra mim... Ela era linda!

Não sei em que ponto comecei a delirar, mas tudo girava, e eu a via em minha frente, comecei a chamar seu nome, enquanto sorria. De repente, apaguei.

Acordei no outro dia com a luz infiltrando no apartamento. Sentia minha cabeça latejando e doendo. Levantei com dificuldade e desliguei o rádio que ficara ligado à noite toda. Entrei no Box tirando toda a roupa e liguei o chuveiro, deixando a água gelada cair pelo meu corpo, tentando ficar melhor. Quando acabei, fui até a cozinha e fiz um café preto. Ao olhar para o líquido quente e negro dentro da xícara em minhas mãos, suspirei frustrada. Era minha sina, meu destino estar ligada a ela.

Passei o dia todo sem querer fazer nada. Os dias passaram, eu voltei a ir para a faculdade, consegui um emprego numa lanchonete não muito longe, pelo menos não estaria passando fome enquanto não concluísse a faculdade e pudesse exercer a medicina. Já fazia quase um ano que eu não tinha notícias de Clarice, não a vira nem falara com ela. A cada dia eu me remoia de culpa e não consegui ficar com mais ninguém. Não dormia com ninguém, porque cada mulher que passava em minha cama era parecida com ela. Eu tentei diversas vezes não pensar, tentei esquecer, mas era impossível. Minha vida era vazia sem ela. Aliás, é vazia.

Agora volto ao presente, estou eu aqui, andando pela praça que fica perto da minha casa. Já está entardecendo e eu não sei mais o que fazer. Vejo casais andando de mãos dadas, trocando beijos apaixonados e meu coração chora. Apesar de todo esse tempo, o rosto de Clarice está vivo em minha mente. Coloco a mão em meu pescoço e sinto meu colar ali, colado a minha pele morena. Sorrio de saudades, lembro da nossa música... Acho que depois de tanto tempo eu cresci um pouco, agora vejo que eu poderia ter evitado tanto sofrimento, poderia ter pegado caminhos mais fáceis... Mas é sempre ‘e se’. Porque já foi, não tem mais volta.

Como ela estará agora? Mais alta? Os olhos ainda continuam misteriosos? A voz ainda é doce? Ela ainda dorme abraçada ao travesseiro? Ainda usa o mesmo perfume? Como eu queria saber o que acontece na vida dela... Como eu queria fazer parte da vida dela...

Mas espera! Já que eu já ferrei com tudo uma vez, já que já fiz tudo de errado que podia fazer, dessa vez irei seguir o meu coração, vou jogar tudo pro alto! Que se dane!

Pego meu celular, enquanto meu coração pula no peito. Disco os números já conhecidos de cor e espero ela atender:

– Alô? – sua voz está sonolenta, provavelmente dormia e nem viu quem era.

– Boa tarde. – senti sua respiração se alterar e de repente ela pergunta:

– Não! Não pode ser... Você?

– Eu... Preciso conversar. Preciso me desculpar. Preciso... Ver você. – sinto minhas pernas tremerem. Sento no banco da praça e espero ela falar.

– Mas... Assim, de repente... Depois desse tempo todo?

– Eu sei, você deve estar furiosa comigo. Entendo se não quiser me ver, eu mereço. Mas só te digo uma coisa: apesar desse tempo todo, eu nunca desisti. Acho que por sua causa, mesmo sabendo que você não me perdoaria, eu nunca desisti.

Depois de alguns minutos em silêncio, ela apenas disse:

– Onde você está? – digo onde é a praça e ela responde: - Estou chegando. – e desligou o telefone.

Pela primeira vez em muito tempo eu estou sorrindo verdadeiramente, de felicidade. Eu sei que não deveria ter ligado assim, sei que eu não mereço, que sou uma anta estúpida... Mas eu a amo! E quero reparar meus erros... Mesmo que tardiamente. Espero ansiosa pelo seu perfume que vem com o vento, quando ela anda velozmente em sua moto...

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