Olho as caixas de papelão separadas a minha frente. Está na hora de começar! Com um suspiro, levanto-me do chão e dou uma olhada geral na casa bagunçada. Minhas coisas estão espalhadas por todos os cantos... Eu nunca fui muito bem organizada, não é mesmo? Começo recolhendo minhas roupas, mas não as dobro, jogo todas emboladas em uma caixa vazia. Não quero perder tempo com isso. Vou juntando os pares de sapatos, um em cada canto, deixando-os todos juntos, colocando-os em sacolas e depois em outra caixa. Passo na cozinha e pego minha coleção de chícaras, deixando apenas uma, para tomar café contigo casualmente. Coloco-as todas embrulhadas em jornal dentro de outra caixa, assim como as tampas e frigideiras que eu tenho. Vou ao banheiro, pego minha escova de dentes, meus remédios de ansiedade e pente. Não há muita coisa, nunca fui garota de cremes. Volto à sala, recolho os bibelôs, os CDs que estavam espalhados pelo rack, as caixas de série que tanto te incomodavam. Recolho meus livros... Esses são tantos! Precisarei de mais caixas... Pelo menos junto-os no canto para que não atrapalhe, prometo voltar para buscá-los. Separo cinco que acho que vai gostar para deixar contigo. Finalmente volto ao quarto. Paro, olho a cama arrumada, sorrio com um suspiro. Olho o porta-retratos na mesinha de cabeceira.
Nossa foto demonstra todos os momentos de sorrisos, mas o seu travesseiro está encharcado das lágrimas que você chorou durante tanto tempo. Um aperto no coração me diz que estou fazendo o certo, afinal, jamais quis que seu sorriso se apagasse do rosto. Aliás, sorriso esse o qual lutei tanto para que você tivesse. Peguei uma foto igual, as cartas que me escreveu, e dos bichinhos de pelúcia que você tanto ama, furtei um pequenino, torcendo para que não desse falta, e coloquei dentro da caixa com minhas roupas. Assim, terei uma lembrança sua para dormir comigo. Deixei um dos meus raros bichinhos entre os seus, para que também se lembre de mim. Peguei meus perfumes, anéis, colares e bijuterias que eu nunca conseguia deixar certo. Quando finalmente terminei de juntar minhas coisas, havia bem umas dez caixas de papelão, talvez doze. Demoraria para tirar tudo aquilo, seria difícil para carregar, mas eu conseguiria. Mesmo sozinha. Suspirei, emocionando-me finalmente. Sua casa agora parecia tão mais arrumada, tão mais limpa, tão mais tranquila sem toda a minha bagunça transformando-a em caos! Achei que sua casa, tão pequena e aconchegante, fosse ser perfeita para eu me ajeitar por um tempo, enquanto não achasse um lugar só meu. Mas me desculpe, enganei-me. Infelizmente não coube tudo o que eu quis trazer, só atravanquei o caminho e causei-lhe aborrecimentos. Infelizmente você não pode lidar com minha bagunça. Desculpe-me o transtorno. Estou de mudança. Não sei para onde vou, nem o que farei com toda essa bagagem emocional que carrego, mas devo carregar sozinha. Afinal, ninguém senão eu a aguenta. Deixei uma caneca, um bichinho de pelúcia, uma escova de dente e uma troca de roupa. De vez em quando eu passo aqui, te observo dormir, tomo um café, assisto a um filme, te faço rir, tiro uma soneca. Meu telefone está anotado e colado na sua geladeira. Se precisar, me chama. Se cuida, ok? E até qualquer dia, pequena.
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