Imagens Que Contam Histórias 26


Você é única. Você é especial. Você é você, e ninguém mais. Você, e só você, tem a chave para a minha alma. Você me tocou, e me obrigou a olhar em seus olhos. Obrigou-me a ver a sua alma refletida nas íris cor de chocolate. Seus dedos queimaram-me o rosto, como um tapa levado e jamais esquecido. A vermelhidão sumiu com o tempo, mas a ardência permaneceu. Você me transformou. Antigamente, não havia nada, tudo estava em formação. Você é teimosa. Você insistiu em cruzar meu caminho antes do tempo. E dessa forma, você me moldou. Seus dedos, ao me tocarem, misturaram-se em mim. O chocolate e o leite sendo misturados e batidos dentro de um mesmo recipiente. Exatamente, batidos. Fundidos. Você me fundiu em você. Ou melhor, você se fundiu em mim. Nada havia aqui antes de você. Mas seus olhos... Nunca houve conexão tão instantânea, seus olhos se conectaram aos meus, nossas almas se reconheceram, e você plantou morada em meu coração. A garota se transformou. O caminho foi traçado. E o nosso destino, profetizado. Em minhas veias já não havia sangue: apenas tinta. Tinta negra escorrendo em abundância, implorando para ser usada, abusada, rabiscada. Como negar o que foi me dado com tanta veemência? E então eu escrevi. Escrevi, e escrevi e escrevi. Páginas e páginas de rabiscos, palavras, pinturas, desenhos, escrituras. Seus olhos me ditavam o que escrever. Seu coração em sintonia com meu batimento cardíaco. Fiz-me costureira e vesti-me com meu escrito. E então, como em um passe de mágica, seus olhos ficaram secos. Seus cabelos cor de fogo perderam a cor, suas folhas murcharam. E a conexão foi desfeita. Perdida, continuei tentando reproduzir o nosso sentimento do que eu me lembrava, mas com o tempo tudo foi se perdendo no tempo e espaço, e a falta de memória me consumia dia após dia. Cansada, desesperada, enraivecida, rasguei todos os rascunhos de dias melhores que eu guardara para lhe mostrar. Joguei-os no lixo. E na falta do papel, deixei que a pena penetrasse em minha carne e escrevesse em minha pele aquilo que me faltava. Como se assim eu pudesse repor a parte que me faltava: você. A tinta escorria pelo chão, manchando tudo de negro, exatamente como minha alma. Exatamente como meu caminho. A sala escura. Sem luz. Eu esperei, por tanto tempo esperei... E um dia, você voltou. Seus olhos se conectaram aos meus, trazendo-me vida. Fogo. Você ardia e irradiava luz pela sala. A tinta em meu corpo reagindo ao seu toque divino. Trazendo-me à vida. Mas algo faltava... Faltava... Olhei dentro de seus olhos, das íris cor de chocolate, procurando desesperadamente pela tua alma, mas não encontrei. Não estava ali. Você não estava ali. Seus olhos, ligados aos meus, não me deixavam partir, mas você também não desejara ficar. Sem tua alma, a conexão jamais se completaria. Eu jamais escreveria. E nós jamais nos amaríamos. Foi então que eu entendi: você é minha musa. Você, somente você. É sempre você. Sempre será você. E me rasga o peito, pois você não está aqui. E me rasga a memória, porque você não deixou que eu lhe visse. E me rasga a pele, pois a tinta começa a secar no chão fresco, e logo não haverá mais a fonte de onde ela possa jorrar.

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