Você
é única. Você é especial. Você é você, e ninguém mais. Você, e só você, tem a
chave para a minha alma. Você me tocou, e me obrigou a olhar em seus olhos.
Obrigou-me a ver a sua alma refletida nas íris cor de chocolate. Seus dedos
queimaram-me o rosto, como um tapa levado e jamais esquecido. A vermelhidão
sumiu com o tempo, mas a ardência permaneceu. Você me transformou. Antigamente,
não havia nada, tudo estava em formação. Você é teimosa. Você insistiu em
cruzar meu caminho antes do tempo. E dessa forma, você me moldou. Seus dedos,
ao me tocarem, misturaram-se em mim. O chocolate e o leite sendo misturados e
batidos dentro de um mesmo recipiente. Exatamente, batidos. Fundidos. Você me
fundiu em você. Ou melhor, você se fundiu em mim. Nada havia aqui antes de
você. Mas seus olhos... Nunca houve conexão tão instantânea, seus olhos se
conectaram aos meus, nossas almas se reconheceram, e você plantou morada em meu
coração. A garota se transformou. O caminho foi traçado. E o nosso destino,
profetizado. Em minhas veias já não havia sangue: apenas tinta. Tinta negra
escorrendo em abundância, implorando para ser usada, abusada, rabiscada. Como
negar o que foi me dado com tanta veemência? E então eu escrevi. Escrevi, e
escrevi e escrevi. Páginas e páginas de rabiscos, palavras, pinturas, desenhos,
escrituras. Seus olhos me ditavam o que escrever. Seu coração em sintonia com
meu batimento cardíaco. Fiz-me costureira e vesti-me com meu escrito. E então,
como em um passe de mágica, seus olhos ficaram secos. Seus cabelos cor de fogo
perderam a cor, suas folhas murcharam. E a conexão foi desfeita. Perdida,
continuei tentando reproduzir o nosso sentimento do que eu me lembrava, mas com
o tempo tudo foi se perdendo no tempo e espaço, e a falta de memória me
consumia dia após dia. Cansada, desesperada, enraivecida, rasguei todos os
rascunhos de dias melhores que eu guardara para lhe mostrar. Joguei-os no lixo.
E na falta do papel, deixei que a pena penetrasse em minha carne e escrevesse
em minha pele aquilo que me faltava. Como se assim eu pudesse repor a parte que
me faltava: você. A tinta escorria pelo chão, manchando tudo de negro,
exatamente como minha alma. Exatamente como meu caminho. A sala escura. Sem
luz. Eu esperei, por tanto tempo esperei... E um dia, você voltou. Seus olhos
se conectaram aos meus, trazendo-me vida. Fogo. Você ardia e irradiava luz pela
sala. A tinta em meu corpo reagindo ao seu toque divino. Trazendo-me à vida.
Mas algo faltava... Faltava... Olhei dentro de seus olhos, das íris cor de
chocolate, procurando desesperadamente pela tua alma, mas não encontrei. Não
estava ali. Você não estava ali. Seus olhos, ligados aos meus, não me deixavam
partir, mas você também não desejara ficar. Sem tua alma, a conexão jamais se
completaria. Eu jamais escreveria. E nós jamais nos amaríamos. Foi então que eu
entendi: você é minha musa. Você, somente você. É sempre você. Sempre será
você. E me rasga o peito, pois você não está aqui. E me rasga a memória, porque
você não deixou que eu lhe visse. E me rasga a pele, pois a tinta começa a
secar no chão fresco, e logo não haverá mais a fonte de onde ela possa jorrar.
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