Show de MPB
Nunca fui muito fã de MPB, só ouvindo uma Ana Carolina aqui, decorando um refrão de Alcione acolá, baixando um CD da Zélia Duncan, e coisas do gênero. Não que não goste, longe de mim, até que gosto, sim senhor! Mas, sei lá, ás vezes ás músicas são meio assim, sem sentido, sem eira e nem beira. Sempre preferi os rocks, ainda que os nacionais. Até você chegar.
Em um dia de sol, chuva, ou nublado, não me recordo porque não olhei para o céu depois que você entrou na sala, foi o dia que me apaixonei por MPB. Trazia nas mãos um livro de um tal de Arnaldo Antunes, ia ler para as crianças. Eu sentada ao seu lado, olhei com estranheza para o livro. O nome não me era estranho, então vasculhei minha mente atrás de qualquer lembrança daquele homem sem forma, mas de nada adiantou. Fiz cara de interessada, mais em você do que no livro, e prestei atenção.
Você leu alguns textos, explicou pra criançada, aguçando a curiosidade deles. E eu ali fiquei. E quando cheguei em casa, a primeira coisa que eu fiz foi ir atrás de qualquer vestígio sobre esse tal cara de quem você era tão fã. Ouvi uma, duas, três músicas, fazendo força pra gostar da música. Não me julgue mal, não queria parecer com alguém que não sou, mas simplesmente ouvir o que tanto lhe interessa, saber sobre o que mexe com o seu coraçãozinho. Entender o porquê seus olhos choram ao ouvir tal música, e em qual refrão você perde a voz de tanto gritar.
- Vai ter show do Arnaldo Antunes, vamos? - uma das minhas colegas perguntou.
- Claro! - respondi, correndo para comprar o ingresso.
Para ser sincera? Não conhecia nem uma música nova dele, não sabia que tinha sido do tribalistas, muito menos do titãs. Não me importava muito. Só sabia que você iria. É fãzássa dele! E enfim, entrei na fila, de cabeça, procurando com meus olhos nada bobos, por entre as pessoas. Nunca vi tanta gente! Nunca quis que tivesse poucas pessoas, só para poder te ver melhor. Procurei, incansavelmente, e nada de você aparecer. Pensei que talvez não estivesse ali, que quem sabe não pudera ir, não era pra ser. Vai saber.
Mudei de lugar, deixei pra lá, ficando junto com minhas amigas. Vamos curtir o show, mesmo não entendendo nem metade do que o cantor fala. Mesmo sem me interessar pela sua roupa ou físico. Vamos só curtir. E eis que três beldades surgem do meu lado, pedindo passagem. Olhei de relance, cabelos loiros me fazendo sorrir. Bonitas! Pena que não me veem. Olho pra frente, tentando enxergar, e não mais que de repente, lhe enxergo em meio a tanta gente. Um grito de euforia fica preso em minha garganta! E agora? O que eu faço? O que eu faço? Perdi a fala, o tato, a cabeça, tudo, menos a vontade de te abraçar.
Eu quis cutucar, chamar, perguntar. Mas e o medo? Receio de incomodar, de parecer perseguição. Louco isso, né não? Somente os culpados sentem esse medo. E eu era culpada, culpada de te querer dessa forma louca e insana.
- Se não cutucar, eu cutuco! - minha amiga disse.
- Okay, eu vou! - eu disse, mais pra aumentar minha coragem do que pra deixá-la sossegada.
E assim, sem mais nem menos, vejo meu dedo tocando seu braço. E tudo pareceu andar devagar, como nos filmes. Por milésimos de segundo, achei que não sentira, então não iria virar. Mas virou. Os cabelos, agora lisos, balançando. Olhou para mim, dizendo um Oi animado, o qual eu retribui. Deu-me um beijo na bochecha, e eu me embriaguei em seu perfume. E foi só. Voltou-se pra frente, e não olhou mais pra mim o resto da noite.
E eu ali fiquei, abobalhada, admirando você tão perto, mas tão longe. Queria poder falar como gostei do show, como você estava linda, como eu não entendi nada do que ele cantou, mas que a voz dele me fazia querer te abraçar ali mesmo. Queria dizer que eu sabia que você gostava dele, e lembrei de você ao comprar o ingresso. Ou então, chamá-la pra tomar alguma coisa, um vinho, uma cerveja, uma água, uma atitude. De que me vale um show de MPB, se aquela não era a hora do calor, se você não me chamaria de meu amor, pois o nosso caso nunca seria um sucesso? É talvez MPB não seja minha praia, mas se quiser ir pra um show de rock 'n' roll, talvez no fim a gente dê certo.
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