Cores e Cheiros
Noite fria, e eu no meu posto, sem ninguém pra prosear, admirando a escuridão, aguardando, quando uma explosão de cores estourou frente a meus olhos pequenos.
- Obrigada, viu? - palavras dirigidas à boa alma que lhe indicou o caminho.
Guardei o livro, mãos geladas, e agora? Ela sentou-se ao meu lado, eu tremi. Era a contadora de histórias, e lá estávamos, eu e ela. Começou a me contar sobre si mesma, fizera teatro. Eita azar! Ou seria sorte? Juro que não faço ideia do porquê de ter minha vida povoada de atrizes, talvez por ser um drama? Ou seria comédia? Tanto importa, o que chamou a atenção de meus olhos foram suas mãos finas e delicadas, seu jeito engraçado de falar, sua simpatia. Simpatia que logo conquistou meus olhos. É! Olhos sim! Pois não consegui mais tirá-los dela.
- A escola chegou. - o rádio chiou, o momentou acabou.
De pé, esperando, crianças chegando, ela se aprontando e meu coração se despedaçando. Quando a contação acabou, continuei trabalhando. Ela sumiu. Boom! Poom! Boom! Outra explosão, mas dessa vez foi do meu coração. Não pude evitar! Ela estava linda, estonteante! Os cabelos soltos em cachos caindo pelos ombros, e eu caindo das pernas. Passou por mim, apressado para ir, e eu engolindo um grito de "Fica mais! Não quer um café, cafuné, casar comigo?" Está certo, sem exageros.
- Nossa, muito bom! Parabéns! Adorei. - comentei. Ela voltou, alguns passos e estava quase colada em mim.
- Obrigada! Tinha algumas meninas desinteressadas.
- Ah, mas os outros estavam prestando atenção. - eu, por exemplo, nem pisquei!
- Verdade. É bom quando isso acontece. Bem, tenho que ir, nos vemos depois.
Não faço ideia se forcei a barra, ou se foi meio que natural, mas puxei-a para um abraço e, meu Deus! Que perfume, que cheiro, que mulher! Soltou-se, sorrindo. Eu estava flutuando, ou era impressão minha? Ela já tinha ido, mas seu cheiro ficou impregnado em mim, marcando presença, aturdindo meus sentidos. Quando voltaria? Ainda naquela semana? Quero ver! Adoro contação! Não sabia? Indagações malucas de uma boba enfeitiçada. Apaixonada?
Encontros e desencontros à parte, presenciei outra contação, e mais uma explosão de cores e cheiros, quando apareceu ao meu lado, encantadora. Falaram para ela que sou escritora (Obrigada, mãe! - sem ironias, mesmo, é sério!) seus olhos brilharam, ou seria impressão?
- Se quiser, te trago depois para ler alguns dos meus contos. - sorriso maroto.
- Claro! Nós vamos nos ver durante meses ainda. Vou adorar ler. - sorriso fofo, virou de costas e partiu.
E eu fiquei, estática, com a sensação de falta, querendo aquela explosão de cheiros e cores que somente aquela atriz poderia encenar para mim. Encenar não, representar? Também não. Não quero faz de conta, não quero personagem. Quero a atriz que me faz querer que todos os dias fossem terça-feira.
Nenhum comentário
Postar um comentário