Ciranda de
Emoções¹
Pobre
Virgínia. Eu diria. Louca para entrar nessa Ciranda
de Pedra que envolve sua vida. Durante toda a sua infância teve essa ânsia desvairada
por cirandar com os outros, e nunca a deixaram entrar. E agora, após crescer,
ofereceram-lhe a mão e ela entrou, sentindo-se deslocada. Oh como se arrepende
de ter entrado, já é tarde demais, não vê? Ela não se encaixa, nunca irá se
encaixar, pois ali não é o seu lugar.
Eu
me sinto Virgínia, sou Virgínia. Nessa ciranda de Emoções que é minha vida,
lutando para ser aceita quando sei que nunca serei. Estou fora de sintonia, não
pertenço a este lugar, aliás, a lugar algum. Na infância essa ânsia por fazer
parte de algum grupo, qualquer grupo que não me deixasse sozinha. Até consegui
algum, só não vi que na verdade, nunca fiz parte, era apenas uma reserva.
Levanta
a cabeça, respira fundo. Fiz como Virgínia. Internei-me. Ela fechou-se no
colégio interno, eu fechei-me dentro de mim mesma. Sem deixar que ninguém
entrasse, ninguém me visse, durante tantos anos... E agora, como se entrasse de
cabeça no mundo agitado da vida real, não soubesse o que fazer. Vejo as mãos
oferecendo-me um lugar na roda. Oh que felicidade, realizarei o que sempre
quis.
Tola.
Não vê que essa roda já está formada? Você não se encaixa, por mais que tente,
já é tarde demais. Hoje, a pessoas lhe disputam, quando antes a desprezavam,
exatamente como Virgínia. Alguém lhe sopra um elogio, e você fica toda corada
por um segundo, e então se lembra de que já não adianta mais. Continua sendo
uma estranha, sem lugar para onde voltar, sem lugar para permanecer. Mas a
diferença, é que você não é ela. Virgínia é uma personagem de um livro, mas a
vida... A vida é real. E na vida, você precisa entrar na ciranda se não quiser
enlouquecer.
¹: escrito após estar lendo Ciranda de Pedra, de Lygia Fagundes Telles
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