- Engraçado - ela sorri de canto, olhando para o chão.
- O que é engraçado? - pergunto realmente sem entender.
- Você - olha diretamente em meus olhos. - Engraçado como você lida com milhões e milhões de palavras todos os dias, o tempo inteiro, e quando chega o momento de usá-las de maneira correta, elas lhe fogem da boca, da mente, dos dedos.
- Pois é... - olho para baixo, mãos no bolso da calça jeans que uso há três dias já. - Para você ver como é uma faca de dois gumes.
- Disso eu já sabia. Diga-me algo que ainda não sei - olhou-me desafiadoramente.
- Você tem os olhos cor de chocolate mais bonitos que eu já vi, são únicos - agora olhei diretamente para aquelas íris em que sempre me perdi.
- Por favor, não começa - a cabeça gira para o outro lado.
- Oh desculpe... Hoje está frio, não é? - olho para o outro lado, finjo escutar o som do vento, só para tentar secar as lágrimas que brotam em meus olhos pequenos.
- Sim, na verdade todos os dias estão frios - respondeu-me com frieza.
- Eu poderia oferecer-lhe meu casaco, mas não tenho um no momento. Então se precisar de um abraço no qual poderá ficar quente e confortável... - não posso evitar.
- Obrigada - riso baixo de nervoso. - Estou acostumada com o frio.
- Bem, vou indo então, não há mais nada para se fazer por aqui - fecho os olhos para não chorar.
- Tudo bem, vejo-lhe em um dia qualquer de inverno - respondeu-me
Seis passos. Seis exatos passos. E a voz que veio com o vento, se instalar em meus ouvidos:
- Engraçado como você para de lutar tão fácil por mim.
Giro em meus calcanhares, olho para a garota frágil, os olhos já marejados.
- Acha mesmo que eu pararia de tentar? Não, querida, continuo lutando todos os dias. Mas as suas palavras doem, e não quero ser um incômodo para você.
- E não é - sorri olhando para o outro lado. - Lhe vejo no próximo inverno. E tenha certeza de esquecer o seu casaco, uma vez mais.
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