Capítulo 33 – A Razão É Você
Naquela manhã
de segunda-feira o dia começava chuvoso. Pelas vidraças do quarto de hospital podia
ver que a chuva castigava lá fora, mas Priscila não se importava mais. A única
coisa que importava para ela ainda estava presa naquela cama de hospital. Ela
nem sabia mais quantos dias ou meses estava ali, cuidando de Clarice todos os
dias. Parara de contar a muito tempo atrás.
Aquele estava
sendo o pior dia para ela: dia 23 de Abril. Esse dia era especial para elas,
inesquecível. Priscila sentia-se culpada por tudo o que acontecera, mas também
receava pelo amor delas.
Sentiu algo
mexer em sua mão. Colocou a outra mão por cima, despreocupadamente, achando que
fosse apenas um bichinho andando por ali. Mas nada havia. Olhou rapidamente
para a mão entre as delas e conseguiu vê-la se mexer. Seria apenas ilusão da sua
mente por estar tanto tempo ali? Era realidade?
Levantou-se
enquanto segurava fortemente a mão entre as dela e olhou para o rosto de sua
amada: Clarice piscava os olhos negros, várias vezes, não sabendo o que tinha
acontecido.
- Amor! – foi um grito de
felicidade que saiu da garganta da ruiva. Priscila debruçou-se sobre Clarice,
tremendo da cabeça aos pés.
- Eu sabia, sabia que você não ia
me deixar. – os lábios trêmulos beijaram os da outra, que aos poucos tentava
entender a situação.
- Pri... Priscila? – ela
perguntou indecisa.
- Sim meu amor, sou eu. Nunca
mais te deixarei sozinha. – os lábios da outra se abriram num enorme sorriso.
- Carla! Carla vem aqui! A
Clarice! – ela começou a gritar, com os olhos brilhando de felicidade.
Carla abriu a
porta, com Marina e Luciana atrás de si. A cena que elas encontraram era, no
mínimo, comovente: Clarice com os olhos abertos e um enorme sorriso no rosto.
Priscila segurando suas mãos, com um sorriso nos lábios e um brilho
indescritível no olhar.
- Eu sabia, ela acordou! – Carla
veio correndo e abraçou a amiga, depois olhou para Clarice, sorrindo:
- E aí, como está se sentindo
campeã?
- Estou bem. – ela sorriu de
volta.
- Quanto tempo eu fiquei aqui?
- Onze meses. – Luciana disse
aproximando-se da cama onde ela estava.
Marina entrou
novamente, mas dessa vez com o médico ao seu lado.
- Então, como está se sentindo?
- Bem, só com um pouco de dor de
cabeça.
- Isso é bom! Voltou hoje do coma
e não está sentindo nada mais grave, acho que a cirurgia deu certo. Mas não
vamos sobrecarregá-la com tantas perguntas. – ele olhou diretamente para os
olhos da ruiva, que sorriu em agradecimento.
Naquele
momento, ele viu que fizera bem em deixar aquela garota ter ficado ali o tempo
todo.
- Nós vamos conversar com o médico
e já voltamos. – Carla disse dando um beijo na testa de Clarice, sorrindo:
- Estamos felizes de que você
esteja bem.
Luciana e
Marina também se despediram de Clarice e eles saíram do quarto, restando apenas
Clarice e Priscila.
A ruiva olhou
demoradamente para ela, sorrindo sem parar. Não cabia em si de felicidade.
- Eu rezei tanto a Deus que você
melhorasse meu amor!
- Eu sei. – ela respondeu,
deixando a outra surpresa:
- Como assim?
- Eu conseguia ouvir alguma coisa
ou outra, apesar de não estar totalmente consciente.
- Então... Você ouviu tudo?
- Sim. E eu te desculpo por tudo
amor. Todos nós erramos. Eu te perdôo. O importante é que você está aqui
comigo, agora.
- E para sempre. – a outra deu um
beijo na morena, sentindo suas lágrimas salgadas misturarem-se.
Priscila
abraçou Clarice, agradecendo a Deus por ter feito que sua amada saísse bem do
como, estivesse bem.
O médico
fizera mais alguns exames, para ter certeza de que Clarice estava bem. E como
por um milagre, ela não tinha mais nada. Apenas tinha que permanecer em repouso
durante algum tempo, mas só. Ele lhe dera alta e Carla e Priscila levaram
Clarice para a casa desta, deixando-a confortável. Luciana e Marina sempre iam
visitá-la, juntamente com Carla, mas Priscila... Esta levara suas coisas para a
casa de Clarice.
- O que você está fazendo? – a
morena perguntou ao ver Priscila colocando suas roupas dentro do guarda-roupa.
- Oras, estou arrumando minhas
coisas nos seus cabides.
- Mas... Você vai ficar aqui? –
algum tempo atrás isso seria uma coisa inconcebível!
- Sim! Alguém tem que cuidar de
você. – Priscila foi até a cama, dando um beijo nos lábios da atual namorada. A
morena sorriu, deixando-se levar pelo momento.
Durante umas
semanas Priscila fazia tudo para a namorada.
- Bom dia amor! – a ruiva sorriu
trazendo uma bandeja até a cama. Clarice sentou-se esfregando os olhos tentando
acordar de vez.
- Bom dia minha flor. Você fez
tudo isso para mim? – ela olhou na bandeja. Ali havia pão com manteiga, frutas,
café preto e chá.
- Sim, do jeito que você gosta. –
Priscila pegou uma flor que estava no canto da bandeja e colocou entre os
cabelos da namorada.
- Você está linda. – seus olhos
de chocolate brilhavam ao fitar os negros da outra.
- Você que é maravilhosa minha
menina. – elas começaram a comer o café da manhã enquanto conversavam
amenidades.
Os dias foram
passando, e a recuperação de Clarice era visível! A namorada fazia tudo para
ela, como se com isso pudesse reparar os erros que havia cometido. Queria fazer
de Clarice à mulher mais feliz do mundo, com direito a tudo o que ela merecia.
Comprava
flores e as dava na hora do almoço, fazia os jantares para elas, com tudo o que
tinha direito. Carla e Marina ficavam muito felizes com o progresso das duas,
pois tinham acompanhado aquela história desde o começo.
- Amor, se troca e vamos descer
que hoje eu tenho uma surpresa para você. – disse Priscila, beijando o pescoço
da namorada, enquanto acordavam.
- Sério amor? Que surpresa?
- Se eu te contar, não será mais
surpresa. – ela disse sorrindo, enquanto mordia o ombro da namorada.
- Vem, vamos sair dessa cama. –
Clarice levantou-se muito a contragosto.
- Ah eu ainda estou em repouso,
não posso me exaltar.
- Tudo bem. – Priscila olhou-a
fingindo desdém. – Eu estava pensando de nós tomarmos banho juntas, mas já que
você ainda está cansada...
Ela entrou no
banheiro e em um minuto Clarice já estava abraçando-a e beijando seu pescoço:
- Para você, eu nunca estou
cansada.
E foram beijos
e abraços molhados pelas gotas d’água. Peles quentes que tremiam de desejo
quando deslizavam em contato. Gemidos e juras de amor sussurrado no ápice do
prazer. Arranhadas e mordidas marcaram a pele daquelas duas almas que se
completavam quando estavam juntas.
“I'm not a perfect person
There's many things I wish I didn't do
But I continue learning”
There's many things I wish I didn't do
But I continue learning”
Depois do
banho e devidamente trocadas, elas desceram para a sala e sentaram-se no sofá.
Priscila olhou no relógio, pela milésima vez.
- Hey, porque você está tão
ansiosa?
- É que... – mas antes que ela pudesse
responder, a campainha tocou. Ela levantou-se e foi abrir a porta, sabendo quem
era.
Clarice
completamente curiosa ficou espiando do sofá. Qual não foi sua surpresa quando
entraram andando até a sala, Alice e... Dona Maria, a mãe de Priscila. Ela não
sabia o que fazer, abriu e fechou a boca várias vezes. Alice sorriu para ela,
já Dona Maria a olhava com uma cara não muito boa.
“I never meant to do those things to you
And so, I have to say before I go
That I just want you to know”
And so, I have to say before I go
That I just want you to know”
- Sentem-se aqui. – as duas
sentaram no sofá em frente à Clarice, e Priscila sentou-se no braço da poltrona
da namorada.
- Bom dia Alice, Dona Maria. –
cumprimentou Clarice, sorrindo de canto.
- Bom dia Clarice. – respondeu
Alice, animada. Priscila olhou repreendendo a mãe que apenas murmurou uma
resposta.
- Bom, eu pedi que vocês viessem
aqui hoje porque tenho uma coisa para dizer.
Todas as
atenções se voltaram para ela. Priscila respirou fundo enquanto segurava o
colar, visivelmente nervosa. Tomou coragem e disse:
- Eu queria dizer a vocês que eu
tive muito tempo para pensar na minha vida. E eu descobri que eu cometi muitos
erros imperdoáveis. Mas, essa mulher aqui soube me perdoar, apesar de eu não
merecer. Ela é uma pessoa maravilhosa, única, perfeita para mim. E naqueles
dias no hospital, eu descobri que sem ela eu não posso viver. Eu a amo. Ela é a
razão da minha vida. Eu encontrei nela o que me faz querer estar viva a cada
segundo.
“I've found out a reason for me
To change who I used to be
A reason to start over new
And the reason is you”
To change who I used to be
A reason to start over new
And the reason is you”
Ela suspirou
sorrindo, e voltou a dizer:
- É por isso que eu vou falar o
que eu preciso agora. Mamãe. Alice... E principalmente, Clarice... Você...
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