Capítulo 10 – O Primeiro Olhar de Desejo
Parei minha moto em frente à casa da Priscila, enquanto ela continuava presa em minha cintura. Eu amava dar carona para ela, pois sabia que ela morria de medo de moto, então se segurava o mais que podia a mim.
- Pronto, está entregue. – eu sorria, enquanto ela descia da minha moto, no chão. Tirei o capacete e ela também.
- Você... Não quer subir? – ela sorria, mas não olhava em meus olhos. Encarava o chão.
- Fica linda vermelhinha, sabia? – ela me encarou, mais vermelha ainda.
- Pára! – ela disse rindo, voltando a pedir:
- Estou sozinha, se você quiser...
- Claro que aceito. – disse antes que ela acabasse a frase.
Desci da moto, desligando-a e segurei meu capacete. Ela sorriu pra mim e entramos na casa dela. Pri abriu a porta e acendeu a luz, dizendo:
- Não repare na bagunça. – eu olhei em volta e fiquei de queixo caído.
A casa dela era super arrumadinha! Ok, não era tudo rosa, era normal, mas com uns detalhes. Uma das paredes era em um tom de azul, o que deixava mais bonito. Um sofá, uma televisão, estantes, telefone... Nada de anormal.
- Que isso, está tudo tão... Arrumado. – ela riu, respondendo:
- É, eu sou bem organizada. – foi andando até o quarto, enquanto eu a seguia.
Entrou colocando a bolsa em uma cadeira. Sentei em sua cama e comecei a observar. Era tão... Lindo! Havia uma cama de casal, uma penteadeira, escrivaninha, uma cômoda. Uma mesinha de cabeceira com um abajur e vários pertences. Um painel com fotos dela e das amigas.
Eu estava observando tudo quando algo tirou minha atenção: Priscila na minha frente, de costas pra mim, soltando o cabelo que havia prendido mais cedo. Aqueles movimentos... Seus cabelos da cor do fogo balançando...
Depois, abaixou um pouco para tirar as sandálias de salto e eu pude ver suas pernas... Eu estava simplesmente hipnotizada, encantada por ela. Priscila virou-se de frente para mim, e eu só pude me prender naqueles olhos castanhos amendoados, sua boca movimentando-se, enquanto ela falava algo que eu não conseguia prestar atenção. Somente podia perceber aquele lindo e encantador sorriso. Acho que ela disse algo como:
- Oh, me desculpe! Que indelicadeza! Quer alguma coisa pra beber?
- Não, muito obrigada. – eu apenas respondi, sorrindo.
Ela sorriu, percebendo que eu não parava de olhá-la. O que era impossível. Pela primeira vez... Eu a via com outros olhos. Percebia sua sensualidade, suas curvas... Seu jeito doce e encantador de ser... Sua pele... Era meu primeiro olhar de querer... Querer ter aquela garota em meus braços, beijá-la. Meu primeiro olhar de desejo. Desejo de mulher.
- O que foi? Tem, algo errado? – ela continuava sorrindo.
- Não. Claro que não. Eu só... É que... – eu olhei em seus olhos, e não consigui acabar a frase.
Tentando arranjar uma desculpa, olhei em volta e meus olhos pararam em um violão no canto do quarto.
- Você toca? – primeira coisa que eu consegui dizer. Seu olhar seguiu o meu, dizendo:
- Ah sim, de vez em quando.
- Toca para mim? – eu perguntei, voltando a encará-la. Era tudo o que eu queria, era tudo o que eu precisava. Ouvi-la tocar.
- Ah, não sei... – ela parecia indecisa, mas eu necessitava disso.
- Por favor... – minhas mãos seguraram as dela, pedindo para que tocasse. Priscila sorriu e foi pegar o violão.
- Ok, eu toco para você. – ela sentou-se ao meu lado na cama e dedilhou as cordas, pensando no que tocaria.
Aos poucos, seus dedos tocavam alternando as cordas, e a melodia foi surgindo. Uma melodia tão doce, tão melancólica, tão linda... Assim como ela. Sua voz doce começou a cantar as primeiras frases.
- “Suas sutilezas
Enforcam-me
Eu não posso me explicar
E tudo que quer
E tudo que precisa
Eu não quero mais precisar”
Enforcam-me
Eu não posso me explicar
E tudo que quer
E tudo que precisa
Eu não quero mais precisar”
Aquela voz de anjo... Me inebriava os ouvidos, me fazia querer voar, ir para qualquer lugar, fugir, e ficar somente com ela. Era apaixonante. Isso mesmo, eu estava apaixonada, pela dona daquela voz. Enquanto cantava, Priscila me olhava nos olhos, tirando toda a minha sensatez, me fazendo sair de órbita.
- “As paredes começam a respirar
Minha mente se desembaraça
Talvez seja melhor você me deixar sozinho
Um peso é levantado
Nesta noite
Eu dou o último suspiro
Quando a escuridão se tornar luz
Isso terá fim hoje à noite
Isso terá fim hoje à noite”
Minha mente se desembaraça
Talvez seja melhor você me deixar sozinho
Um peso é levantado
Nesta noite
Eu dou o último suspiro
Quando a escuridão se tornar luz
Isso terá fim hoje à noite
Isso terá fim hoje à noite”
E quando o refrão chegou, seus olhos fecharam-se, enquanto sua cabeça se movimentava. Aquela cena... Era impossível descrevê-la. Lágrimas caiam insistentes de meus olhos, não pude contê-las. Ela cantava tão docemente, tão melancólico... Minha vontade era abraçá-la, beijá-la e dizer que tudo estava bem, e que eu estaria ali para sempre.
Priscila tocou os últimos acordes da música e abriu os olhos. Lágrimas desciam silênciosas de seus olhos cor de chocolate, que encararam os meus. Ela colocou o violão no chão, ao seu lado e, sem dizer nada, me abraçou. Eu passei meus dedos por seus cabelos cor de fogo, dizendo:
- Está tudo bem, tenha calma minha linda. Tudo vai dar certo.
- Por favor, só me abraça. Eu... Eu preciso de você, do seu abraço. – ela dizia entre soluços com a cabeça em meu pescoço.
Eu obedeci, a abraçava e fazia carinho, sem saber o que tinha acontecido. Não conhecia seu passado direito, mas sabia que o que ela precisava naquela hora era de carinho.
Aos poucos seu corpo foi se aconchegando ao meu, e seu calor compartilhado do meu. Sua respiração foi se acalmando e aquela aproximação... Eu suspirava, sentindo coisas novas e diferentes. Pois era um desejo enorme, mas não qualquer um, era o desejo de tê-la em meus braços, era um desejo... Impossível de descrever.
Ficamos ali por uns longos minutos, apenas abraçadas, apenas juntas, sentindo a respiração uma da outra.
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