Garota Jolie - 10

            
            Enquanto percorríamos o caminho até o estúdio de carro, eu ia prestando atenção à minha volta, tanto fora do carro quanto dentro. Percebi que num dos compartimentos, havia alguns CD’s, não aguentei de curiosidade e perguntei:

- Posos ver? – ela olhou para onde eu apontava e fez que sim com a cabeça.

            Peguei todos os cd’s na mão e comecei a olhar um por um, o que não me adiantou de nada, já que a maioria fora gravado por ela, com músicas variadas, então só ouvindo para saber o seu conteúdo. Peguei um deles onde lia-se “Favoritas”. Não aguentei de curiosidade novamente e coloquei o cd para tocar.


            Priscila sorriu de canto, ao ver qual CD eu tinha escolhido, mas nada disse, continuou dirigindo em silêncio. Logo a primeira música, ao ouvir os primeiros acordes, eu já reconheci. Meu Deus! Fala sério! Qual a pessoa que tem como favorita uma música com os seguintes acordes, e que não tem pelo menos uma queda por gays?

“At first, I was afraid, I was petrified.
Kept thinkin' I could never live
Without you by my side,
But then I spent so many nights
Thinkin' how you did me wrong.
And I grew strong
And I learned how to get along”

            I Will Survive, de Glória Gaynor? Eu quando escutava essa música não conseguia ficar parada, não importa em que lugar eu estava, eu tinha que dançar e cantar a plenos pulmões. Se você não conseguir ficar parado também aí tem!

            Olhei surpresa pra Priscila, que continuava sorrindo, mas sem dizer uma palavra. Sorri também, e comecei a cantar a letra. Quando chegou no refrão, a voz dela se juntou a minha, enquanto ela cantava toda animada. Eu comecei a rir no meio da música, diminuí o volume, dizendo:

- É minha favorita também!

- E quem não se apaixona por essa música? – ela respondeu.

- Você sabe o que eu estou pensando agora mesmo. – eu disse, com uma sobrancelha levantada. – Não vai desfazer o mal entendido?

- Por enquanto não... – deu um sorriso enigmático.

            Ela parou o carro em frente à um estúdio de tatuagem. Descemos do carro e entramos no estabelecimento. Era uma loja grande e arejada, as paredes eram brancas, exceto uma, pintada de vermelho, com um dragão enorme entre nuvens. Havia umas poltronas para os clientes e um balcão.

            Priscila debruçou-se no balcão e uma moça loira, cheia de tatuagens, veio nos atender, pelo jeito ela conhecia a Priscila...

- Olá, como vai?

- Oi! Bem e você?

- Bem também, procura o Rogério?

- Sim, estou aqui com uma amiga minha que tem interesse em fazer uma tatuagem e gostaria de falar com ele. Ele está ocupado?

- É ele está com uma cliente agora, mas já está acabando. Espere alguns minutos e jajá poderá falar com ele.

- Obrigada Lili. – Priscila soriu e se aproximou das poltronas.

            Sentamos ali e eu fiquei olhando o lugar, que por sinal era limpo, bonito e bem legal. Só não conseguia tirar os olhos daquela tal de Lili, loiras sempre foram meu ponto fraco. Okay, eu estava sentada ao lado de uma deusa, mas quanto mais bola eu dava, mais ela se afastava, lembram?

- Ela é lésbica. – sussurrou no meu ouvido.

- O que? – olhei espantada para Priscila. – Como sabe?

            Ela sorriu maliciosamente para mim. Na hora acho que quase desmaiei com aquele olhar, ela não sabia o poder que ele tinha! Aquele sorriso, aqueles olhos... Dava para sentir a intenção por detrás deles. Sorri de canto, olhei para Priscila, depois para Lili, e de volta para Priscila... Ai meu Jesus, aquelas duas juntas seria de parar o trânsito! Só de estar fantasiando com aquilo eu...

- É, foi exatamente assim... – ela sussurrou no meu ouvido.

Estremeci da cabeça aos pés. Olhei para ela de volta, sem conseguir pronunciar uma palavra. Ela começou a rir, dizendo:

- Olha a sua cara! Você nem consegue disfarçar! – não acredito que ela me enganou de novo! Mas que burra que eu sou, caí de novo!

- Eu... É... Não era isso... Não é o que você está pensando! Eu não... Imaginei... Nada... – tentei falar, em vão. Só consegui gaguejar e me entregar.

- Para de fingir, eu sei que você pensou. – ela sorriu vitoriosa.

- E você pare de fingir também. Você alimenta minhas fantasias, mas eu tenho certeza que certas coisas aconteceram de verdade. – desafiei.

 - É você tem razão, algumas coisas aconteceram de verdade. Mas você terá que descobrir quais são.

            Antes que eu pudesse falar alguma coisa, Lili nos chamou dizendo que o Rogério poderia nos ver. Levantamos e entramos em uma das salas que havia no corredor, depois do hall. Ele estava em uma sala grande, era seu escritório. Havia todo o material que ele precisava para fazer as tatuagens, além de imagens nas paredes de alguns desenhos e algumas fotos de pessoas tatuadas.

- Priscila, quanto tempo! Como vai? – estendeu a mão, nos cumprimentando.

- Bem e você Ro? É faz tempo! Essa é minha amiga Sara, ela gostaria de fazer uma tatuagem, e eu a trouxe para cobnversar com você.

- Ah sim, claro! Sentem! Então, o que gostaria de fazer?

- Eu fiz um esboço do que eu gostaria. Queria saber o que acha e quanto ficaria. A Priscila também me disse que você pode redesenhar e fazer algo melhor.

- Deixe-me ver. Bem eu posso desenhar outra vez, colocando algumas outras ideias e deixá-lo diferente, mas se quiser posso desenhar do jeito que você fez, você que escolhe.

            Entreguei o desenho para ele, que ficou olhando para o papel e sorriu. Disse que achou a ideia ótima, dava para entender um pouco do significado, apesar de eu não ter dito nada para ele ainda.

            Combinamos de eu voltar lá dali a duas semanas para fazer a tatuagem, ele ia redesenhar, tinha uma ideia e achou que ia ficar ótima ali, mas que se depois de pronto eu não gostasse, poderia tatuar a original mesmo. Me deu o orçamento e, parcelando, eu conseguiria pagar.

            Entramos no carro dela novamente, Priscila iria me deixar em casa, já era finalzinho de tarde. O caminho todo viemos conversando banalidades, sem nada demais em mente. Ela parou o carro em frente a minha casa, e antes de eu descer, agradeci pela carona, olhando-a dentro dos olhos.

- Obrigada pelo dia de hoje.

- Eu que agradeço. – ela sorriu. Antes que eu saísse, segurou no meu braço. – Espera.

- O que? – perguntei surpresa.

- Eu sei que você deve estar morrendo de raiva pelo jeito como ajo, mas saiba que existem muitas coisas que você não sabe ainda. Estou gostando muito da sua companhia...

- Então, até a manhã? – foi a única coisa que pude dizer, com um sorriso de orelha a orelha.

- Até amanhã. – ela chegou bem perto de mim, dando um beijo estalado na minha bochecha. 

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