Nos dias que se passaram, eu não contei nada sobre o que eu e Priscila tinhamos conversado, para nenhuma de minhas amigas. Não sei porquê, mas preferi ficar quieta e deixar que a vida me mostrasse o caminho. Sempre fizera estardalhasso com realação às minhas paqueras, e nunca dera resultado, por isso resolvera ficar em silêncio, quem sabe não dava certo.
Fiquei pensando sobre a tatuagem que eu queria fazer, e não tinha chegado a um resultado ainda. Só sabia que tinha a ver com acreditar e com música. Após uma semana, eu já tinha um esboço do que queria fazer. Numa quinta-feira, quando saí para o intervalo, avistei Priscila do outro lado do corredor, sozinha, indo para a sala dela. Esperei que ela chegasse mais perto e fui cumprimentá-la:
- Bom dia! – dei um abraço nela.
- Bom dia! – ela respondeu, com um sorriso no rosto.
- Tudo bem? Como passou a semana? – perguntei.
Ela encostou na parede atrás de si e começou a me contar:
- Ah bem, muito trabalho, na verdade. Não vejo a hora de um descanço. Ainda bem que amanhã é minha folga.
- Que ótimo, pelo menos dá para você descansar. – tentei ser simpática.
- Sim, verdade. E você? Ah resolveu o que quer tatuar?
- Comigo está tudo bem, só estudando bastante. Ah sim, até que resolvi. Fiz um esboço do desenho que eu quero, está aqui no meu caderno, quer ver?
- Claro! – ela sorriu.
Entrei dentro da minha sala, com Priscila atrás de mim. Era tão mais fácil quando eu fingia não ter uma paixão por ela! Eu conseguia conversar melhor, sem ficar com tanta vergonha. E como ela via a maneira na qual eu me comportava, se sentia com mais liberdade para conversar comigo.
Abri meu caderno e lhe mostrei o esboço que eu tinha feito. Era a palavra Believe, com uma caneta no lugar do L e um par de algemas, preso no primeiro e no último e. Parecia um desenho meio estranho, mas tinha o seu significado, que para mim era perfeito. Ela olhou para o desenho e sorriu:
- Adorei! Ficou ótimo! Acho que se levarmos isso para o Rogério, ele vai lhe mostrar algo ainda mais legal do que esse.
- Mal posso esperar para ver o que ele vai desenhar!
- Por falar nisso, amanhã é minha folga, gostaria de ir até o estúdio dele para conversar? Sem compromissos, ele te faz o rascunho do desenho, vocês conversam, ve quanto ele vai cobrar, essas coisas.
Fiquei pensativa, eu mal tinha resolvido o que eu queria e de repente ela já queria me levar até o Rogério. Bem, mal não ia fazer. Além do que, eu ia passar o dia com ela! Inacreditável, eu sei! Não consegui disfaçar um sorriso de orelha a orelha ao responder:
- Claro! Por que não?
- Ótimo! Amanhã podemos sair daqui e irmos almoçar em algum lugar, e depois vamos para o estúdio.
- Adorei a ideia!
- Tenho que ir, mas amanhã nos falamos então! Até mais. – ela deu um beijo no rosto e sorrindo, saiu da sala.
Não preciso dizer que fiquei olhando até ela sair da sala né? Eu estava com um sorriso totalmente bobo no rosto, tenha certeza disso! Era como se novamente eu estivesse sem chão, mas dessa vez porque eu estava flutuando nas nuvens! Os lábios dela eram tão macios! Fiquei morrendo de vontade de beijá-los!
- Sara! O que foi aquilo??? – perguntou Camila, toda eufória do meu lado.
- Meu Deus do céu! – eu comecei a gritar e a surtar. – Ela me deu um beijo!
- Eu vi! – Camila começou a rir. – Senta e me conta tudo!
Não tive como não contar! Contei detalhe por detalhe sobre o que havia acontecido nos dias anteriores. Camila ria e me incentivava nessa minha nova paixonite. Todos da sala olhavam para a gente, mas eu não me importava. Estava feliz mesmo e não tinha a mínima vontade de esconder isso.
Naquele dia fui para casa e contei para minha mãe, que iria fazer uma tatuagem e tudo o mais, ela não ligou muito. Eu já era maior de idade e se quisesse podia fazer, alémd o que ela confiava em mim, sabia que eu não ia fazer besteira. Comentei que no outro dia iria ficar pela cidade depois da facul, pra ir no estúdio e ela disse que tudo bem. Entrei no meu quarto quase morrendo de felicidade!
Acordei no outro dia e coloquei uma roupa mais bonita do que eu colocaria em dias normais. Arrumei-me e fui para a faculdade. Tive todas as aulas normais e quando deu a hora da saída, olhei para a porta e percebi que Priscila me esperava. Todos da sala perceberam, aliás. Camila deu uma piscadela para mim, dizendo:
- Vai com tudo garota!
- Valeu! – disse de volta. – Segunda te conto os detalhes. – sorri e saí pela porta.
Priscila abriu um enorme sorriso ao me ver, me cumprimentou e me deu um beijo no rosto, o que eu retribuí de muito bom grado. Saímos da faculdade e fomos almoçar em um restaurante ali perto. Pela primeira vez andava no carro dela, aliás primeira vez de muitas, o que eu ainda não sabia.
Achamos uma mesa e após pegarmos os pratos, continuamos conversando banalidades, mas que fazia com que eu a conhecesse ainda mais.
- Então você gosta de usar vestidos? Nunca imaginei, sempre a vi de calça comprida na faculdade! – eu disse, entre uma garfada e outra.
- É porque eu não os uso na faculdade, mas sim quando saio. Tanto, que minha roupa de trabalho é uma saia, lembra?
- É verdade... – não pude deixar de sorrir ao lembrar de quando a vi de saia.
- Pois então! Qualquer hora vou de vestido para você ver! – ela disse isso numa naturalidade!
Eu olhei para ela, imaginei na hora aquelas pernas lindas que eu estava morrendo de vontade de ver e não consegui controlar uma risada discreta, mas pervertida. Ela olhou para mim e fez uma cara de surpresa, dizendo:
- Não acredito!
- O que? – fingi que não era comigo.
- Você nem consegue disfarçar! Essa sua cara safada quando eu disse que iria de vestido! Tudo isso só porque quer ver minhas pernas?
Eu engasguei na hora com alguns grãos de arroz que eu tinha posto na boca. Engoli com dificuldade, enquanto Priscila ria sem parar da minha cara vermelha que nem pimentão.
- Eu... Eu... – tossi um pouco, tentando recuperar o fôlego.
- Calma menina, não é tão mal assim! Eu não sou nenhuma santa. – piscou para mim ao dizer isso. Fiquei mais vermelha ainda, óbvio!
- Sério? – consegui sorrir de canto. Eu estava brincando com fogo...
- Séríssimo... Um dia talvez você descubra. – mordeu o lábio inferior e eu quase morri na hora! Sou tarada por mordidas, não importa o local.
Inconscientemente passei a língua nos meus lábios, que estavam mais secos que tudo. Ainda bem que o celular dela tocou e me salvou de algo mais constrangedor ainda. O que ela queria? Me matar? Pois estava conseguindo, e nem se esforçara tanto! Acabamos de comer, enquanto voltamos a conversar banalidades. Acabado o almoço, voltamos para o seu carro, ela iria me levar para o estúdio para ver a tatuagem. O que eu não sabia era o quanto eu ia saber sobre ela naquele dia...
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