Garota Jolie - 7

           
            Não vou ficar enrolando mais, era bom demais para ser verdade. Na primeira semana, eu só a vi na terça-feira. E foi de relance, a vi quando chegou, entrando em sua classe, mas depois não a vi pelo resto da manhã. Nos outros dias esperei ansiosa para falar com ela, mas ela simplesmente tinha desaparecido! Tudo bem, entendo que era o último semestre dela, mas mesmo assim, não precisava sumir!

            Na segunda semana, logo na segunda-feira, eu ainda não tinha visto a Priscila. Entrei para a sala, junto com Camila, a professora tinha acabado de entrar. Eu ficava o tempo todo olhando para a porta aberta, prestando atenção a quem passava. De repente, lá longe, vi uma mulher andando, vestida com uma blusa branca.


- É a Priscila? – perguntei para Camila, sentada ao meu lado. Ela deu uma olhada lá fora e me respondeu:

- Sim, é. – dei um sorriso e disse:

- Já volto. – levantei e ela só balançou a cabeça negativamente.

            Juro que não sei de onde tirei coragem para fazer isso, só sei que fui. Priscila já estava no corredor quando cheguei lá, coloquei meu melhor sorriso no rosto e fiquei de frente para ela:

- Oi.

- Oi – ela sorriu de volta. Como ela era linda!

- Eu gostaria de falar com você. – eu estava meio sem jeito.

- Fala. – olhou atentamente para mim.

- Você tem celular?

- Não, eu não tenho. – eu achei impossível ela não ter, mas não disse nada. – Pra quê?

- Ah, para conversar... – eu mexia minhas mãos.

- Conversar? Sobre o que? – ela tinha um meio sorriso no rosto.

- Ah, conversar... – eu estava visivelmente nervosa, não era daquele jeito que eu tinha planejado. Ela olhou para baixo por um momento e disse:

- Você sabia que eu sou casada? – bem que Jéssica tinha dito alguma coisa parecida, mas eu não quis ouvir, deixei construir minhas fantasias.

- Ah, não sabia... – minha voz ficou fraca.

            Tudo o que eu tinha construído até aquele momento caiu por terra. Fiquei ali, com aquele sorriso amarelo, idiota, no rosto, sem saber o que dizer direito. No fundo, eu sempre soube que aquilo ia acontecer, mas eu não queria acreditar.

- Então, sou casada e amo meu marido. Estou feliz com a opção sexual que eu escolhi. – escolhi? Achei estranho, mas deixei que ela continuasse.

- Não tem nenhum problema, respeito você e a sua opção, mas desculpe.

- Ah tudo bem. – continuei com aquele sorriso idiota no rosto.

- Então tá. Tchau. – ela sorriu e pegou o caminho para a sala dela.

            Eu rumei para a minha sala. Só quando sentei na carteira que senti meu rosto ficar quente e realmente me dei conta do que havia feito. Camila me perguntou o que tinha acontecido e eu contei tudo para ela. Ela começou a rir feito doida e falou:

- Ai Sarah, você quebra meu pote! Não acredito que você disse isso!

- Ah eu disse né, melhor tentar do que ficar quieta e nunca saber se daria certo.

            Depois de rir mais um pouco, começamos a prestar atenção à aula. Bem então era isso, ela provavelmente não iria mais querer falar comigo, ia achar que eu era uma idiota, criança e estranha. Engraçado quando a gente está mal, sempre inventa vários adjetivos para nos depreciar. Pois bem, eu queria sumir! Fingia estar bem somente.

            Passaram-se dois dias, e eu estava completamente desiludida da vida, quando algo inesperado aconteceu. Depois do intervalo, eu fui ao banheiro, sozinha. Queria somente lavar as mãos e dar uma ajeitada no cabelo. Dali a cinco minutos, quem entra? Exatamente, a Priscila. Eu fiquei sem jeito, ela parou ao meu lado:

- Oi. – ela disse. Pelo menos ela tinha me cumprimentado.

- Oi. – respondi.

            Camila entrou pela porta e pediu para que eu a esperasse ir ao banheiro também, então encostei-me na parede, mas longe do espelho. Quando Priscila inclinou-se para ver alguma coisa no espelho, no seu rosto, a blusa levantou um pouco, mostrando um pouco do quadril dela, e o que eu vi ali? Uma tatuagem. Sim, não estou brincando.

            Quase caí para trás, meus sonhos se tornavam realidade! Quase dei pulinhos de alegria. Já que eu já estava, desculpem pela palavra, fudida, não podia ficar pior.

- Hey, você tem uma tatuagem? – perguntei. Priscila olhou para mim, depois para o próprio quadril, e respondeu:

- Sim. É um tigre. – virou-se de lado e olhou nos meus olhos. Eu queria tanto ver! Mas tinha medo da reação dela. Ela percebeu, óbvio, e perguntou:

- Quer ver?

- Claro! – aproximei-me.

            Ela levantou um pouco a blusa e pude ver claramente o tigre, aliás, parte dele. As costas do tigre estava no quadril, e então vinha a parte da cabeça, com uma cara feroz, e uma das patas mostrando a garra. Para eu ver o resto dele, ela teria que abaixar um pouco o cós da calça. Eu não pedi, óbvio. O tigre não era tão grande, mas era lindo.

- Nossa, linda sua tatuagem! Posso tocar? – ela hesitou na resposta, mas por fim disse:

- Pode.

            Eu passei os dedos vagarosamente, acompanhando o desenho da tatuagem. Senti ela se arrepiar um pouco, enquanto seus olhos baixaram, ela não olhava mais pro espelho. E eu? Estava no céu e não sabia. Como a pele dela era macia! Tirei a mão e ela disse:

- Tenho outras tatuagens, qualquer dia te mostro. – abriu um sorriso enigmático e saiu do banheiro.

- O que aconteceu? – perguntou Camila, acenando na minha frente.

- Porque pergunta?

- Está com aquela cara boba. – e começou a rir. Contei-lhe o que tinha acabado de acontecer.

- Ah então foi essa a conversa que eu ouvi! Agora já não entendo mais nada!

- Nem eu, Mila, nem eu. – disse. – Mas agora vou fazer esse assunto render conversa.

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