Hey moça...

Hey, moça, vem tomar um café comigo. Senta aqui, me dá a mão, vamos conversar. Faz tempo que te observo de longe, assim, como quem não quer nada. Seu largo sorriso é morada certa em teus lábios, mas há dias em que o cansaço é tanto que você quase se esquece de sorrir. Seus olhos estão tristes e as preocupações habitam todos os cantos da sua mente, tirando o seu sono. Calma, moça, vai dar tudo certo, sabe? Afinal, você é uma sobrevivente, uma lutadora. Quando ouvi tua história, meu coração se apertou no peito, minha vontade era de te segurar no colo, abraçar forte e secar tuas lágrimas. Vou ser sincera e espero que não seja inapropriado o que irei dizer. Ainda que alguns bons anos atrasada, quero lhe dizer que você é uma mulher extraordinária. Moça, você é linda! De encher os olhos de quem lhe vê, e de encher o peito de quem lhe conhece. Você floresce por dentro, espalhando imensa alegria a todos ao seu redor. Sua energia contagia o ambiente. Você merece ser bem tratada, bem cuidada, bem respeitada. Você merece um cara que te veja como a mulher forte, independente, maravilhosa, engraçada e incrível que você é, e que perceba que todas essas suas qualidades são o que te fazem única. Quando fala em francês, seus olhos brilham, seu coração palpita no peito e seu rosto se ilumina. Espero que cuidem bem desse coraçãozinho, você merece.

Moça, posso confessar uma coisa? Vou sussurrar bem baixinho: eu sou egoísta. É um dos meus defeitos, o que posso fazer? No dia em que me disse que talvez fosse embora, foi uma tristeza! O que eu faria sem você aqui dentro? Sinto-lhe como uma protetora. Perdoa, quero o melhor pra você, e se isso significar sua mudança de mala e cuia para a França, estarei torcendo por você e desejando felicidades! Juro! Desde o dia em que nos conhecemos, a empatia foi gigantesca! Esses dias mesmo estávamos relembrando quando me entrevistou pra vaga. Nosso santo bateu! Sinto como se lhe conhecesse, como se fosse uma grande amiga, uma protetora. Alguém para me ajudar, me guiar, me ensinar. Ambas sabemos e acreditamos que nada é por acaso, assim como essa tarde ensolarada na qual estamos tomando um café.

Sinto que preciso lhe dizer essas coisas, e ao mesmo tempo, penso ser inoportuno. Quem sou eu na fila do pão? Sério, moça, não ria! Por mais importante que eu me ache, às vezes penso que eu não tenho nada a acrescentar. Mas então volto a me lembrar de que pequenos gestos fazem a diferença, não importa se você realmente tinha que fazê-los ou se você apenas sentiu vontade. São demonstrações de carinho, atenção, amizade, e em tempos como o nosso, com pessoas tão amargas e negativas ao nosso redor, por que não espalhar amor, felicidades e boas energias sempre que possível e sempre que sentir a necessidade?

Vem aqui, moça, toma mais esse café, come mais esse bolinho e aproveita um pouco mais dessa brisa. Relaxe e respire fundo, deixe suas preocupações de lado e sinta esse momento. Sei que às vezes sente como se levasse o mundo nas costas, e que é inevitável não cuidar de tudo e de todo mundo. Mas tenha calma, moça, você também precisa se cuidar. Sua filha é maravilhosa e também já está trilhando o caminho dela. As peças vão se encaixando, cada uma em seu lugar, como tem que ser, tudo a seu tempo. Então, não espere sempre consertar tudo. Lembre-se de respirar fundo, certo? E continue sendo você, assim como sempre foi, sorrindo e espalhando alegria por onde passa. E se precisar de um café, um bolinho ou uma risada, estarei por aqui. Mas se precisar de um apoio e um abraço, vem cá!